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Acordo para redução de sódio em produtos alimentícios é um paliativo, diz conselheira
Há potinho com sal. Texto: "É necessário a adoção de uma série de outras medidas, como a questão da rotulagem dos produtos alimentícios industrializados e a efetivação da proibição da publicidade dirigida ás crianças". Ana Paula
“A reformulação de alimentos como estratégia de prevenção de doenças crônicas é apenas um paliativo para a redução de danos à saúde porque os alimentos vão continuar sendo produtos ultraprocessados”. A afirmação é da nutricionista e conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) Ana Paula Bortoletto, ao comentar os impactos do novo acordo voluntário que prevê a redução do volume de sódio dos produtos industrializados. “Para prevenir a incidência de doenças crônicas é necessária a adoção de uma série de outras medidas, como a questão da rotulagem dos produtos alimentícios industrializados e a efetivação da proibição da publicidade dirigida às crianças”, ressalta ela.
Anunciado nesta terça-feira (13), o pacto entre o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira de Indústria de Alimentos (Abia) tem como meta retirar voluntariamente 28,5 toneladas de sódio da alimentação dos brasileiros nos próximos cinco anos. A primeira cooperação com a indústria alimentícia está em vigor desde 2011 e, segundo o Ministério da Saúde, já tornou possível a retirada de 17 mil toneladas de sódio em 30 tipos de produtos alimentícios.
Representante do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) no Consea, Ana Paula afirma que “apesar desses números em toneladas parecerem altos, se eles forem divididos pelo número da população brasileira, o impacto da redução do consumo de sódio será muito pequeno”. Ela também demonstra preocupação com o efetivo cumprimento do acordo. “Não haverá nenhum tipo de punição para as empresas que mantiverem o valor do sódio mais alto, o que fragiliza esse tipo de iniciativa”, diz a conselheira.
Para Ana Paula, o debate sobre o acordo poderia ter sido mais abrangente. “O processo de discussão do acordo envolveu apenas o Ministério da Saúde e as associações da indústria alimentícia. Pesquisadores, representantes dos consumidores e organizações da sociedade civil deveriam ter sido ouvidos também”, diz ela. “O Consea, como espaço de diálogo entre o governo e a sociedade civil, deveria poder acompanhar o cumprimento desse acordo, inclusive sensibilizando outras empresas do setor que não estão inseridas entre as associações de maior porte”, ressalta.
5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
A Carta Política da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, realizada em Brasília, de 3 a 6 de novembro de 2015, abordou as dimensões socioculturais da segurança alimentar e nutricional dos brasileiros. Segundo o documento, “o cardápio tradicional brasileiro (arroz, feijão, mandioca, milho, abóbora, frutas, verduras e legumes) está sendo ameaçado pelo temerário apelo publicitário aos produtos industrializados e prontos para o consumo, com excesso de sódio, açúcares, gorduras, conservantes, agrotóxicos, transgênicos e outros químicos que causam danos à saúde”.
A Carta Política destaca que “o Estado brasileiro deve fortalecer seu papel regulador e indutor nas esferas da produção, abastecimento, distribuição, comercialização e consumo de alimentos”. De acordo com o documento, “é preciso [...] desenvolver mecanismos de taxação e regulação para indústrias de produtos ultraprocessados, de alta concentração de sais, açúcares, gorduras, transgênicos e biofortificados”.
Sódio e pressão arterial
O sódio é um mineral que tem a função de equilibrar os líquidos corporais e ainda age na contração muscular, no fornecimento de energia ao organismo e até no ritmo cardíaco. É essencial ao bom funcionamento do organismo. Tanto o excesso quanto a falta podem prejudicar o corpo.
Quando consumido em excesso, o sódio pode causar o aumento da pressão arterial, provocando hipertensão, doenças renais e ainda pode levar ao acidente vascular cerebral (AVC).
Fonte: Ascom/Consea