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Abuso de agrotóxicos ameaça produção de alimento com risco de câncer, diz nutricionista
Segundo Abrasco, cerca de 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por algum tipo de agrotóxico, sendo que, desses, conforme a Anvisa, 28% contêm substâncias não autorizadas para uso no Brasil. Imagem: Getty Images
Consumir frutas, legumes e verduras é fundamental para uma alimentação saudável, afirma Viviane Melo de Oliveira, presidenta do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional de Ilhéus (BA). Mas no Brasil o uso indiscriminado de agrotóxicos na lavoura tornou até mesmo a produção de alimentos in natura uma atividade que ameaça a saúde, alerta ela. Os agrotóxicos estão ligados a diversos tipos de câncer, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Desde 2008, o país está entre os campeões mundiais absolutos no uso de agrotóxicos, com uma média mensal de 5,2 quilos por habitante. A venda desses produtos no país passou de US$ 2 bilhões para US$ 8,5 bilhões entre 2001 e 2011, informou o Inca em 2015. Segundo o Dossiê Abrasco, cerca de 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por algum tipo de agrotóxico, sendo que, desses, conforme a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 28% contêm substâncias não autorizadas para uso no Brasil.
Classificado em março de 2015 como "potencialmente" carcinogênico pela Agência Internacional de Pesquisas do Câncer (Iarc, em inglês), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS), o agrotóxico glifosato, por exemplo, continua sendo livremente vendido em grande escala no Brasil. A OMS afirma que os agrotóxicos causam, anualmente, 70 mil intoxicações agudas e crônicas na população dos países em desenvolvimento.
A nutricionista acrescenta ainda que os agrotóxicos podem causar problemas de pele, alergias e, apesar de ainda não estar totalmente comprovado cientificamente, há indícios de que podem agravar doenças degenerativas, como o Alzheimer. Neste cenário, Viviane aponta a agroecologia como o modo de produção de alimentos mais sustentável no longo prazo, inclusive porque o uso de agrotóxicos contamina a terra e a água, reduzindo a fertilidade do solo e ameaçando o abastecimento da população.
Terra e Território
A presidenta do Consea de Ilhéus (BA) destaca que os desafios de ampliar o escopo da agricultura sustentável devem ser debatidos durante a 4ª Reunião Plenária Ordinária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que será realizada nesta quarta-feira, 27 de setembro e cujo tema principal é Terra e Território.
A nutricionista lembra que os conselheiros pretendem analisar ainda o impacto da atual crise econômica sobre o orçamento de ações que estimulam esse setor, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do governo federal, que utiliza mecanismos de comercialização que favorecem a aquisição direta de produtos de agricultores familiares ou de suas organizações, estimulando os processos de agregação de valor à produção.
No PAA, parte dos alimentos é adquirida pelo governo diretamente dos agricultores familiares, assentados da reforma agrária, comunidades indígenas e demais povos e comunidades tradicionais, para a formação de estoques estratégicos e distribuição à população em maior vulnerabilidade social. Os produtos destinados à doação são oferecidos para entidades da rede socioassistencial, nos restaurantes populares, bancos de alimentos e cozinhas comunitárias e ainda para cestas de alimentos distribuídas pelo governo federal.
Criação do Consea de Ilhéus
Viviane Melo de Oliveira conta que está comemorando a criação do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional de Ilhéus (BA), após dois anos de batalha. Conforme a nutricionista, mesmo contando com um bom apoio da prefeitura, a questão da inserção do novo conselho no organograma da administração local enfrenta os mesmos desafios que outros, do mesmo gênero.
Inicialmente, a entidade ficou ligada à Secretaria de Desenvolvimento Social. No entanto, para facilitar sua atuação junto ao PAA, a presidenta trabalha como voluntária na Secretaria de Agricultura e Pesca do município, onde este programa está alocado.
Reportagem: Ivana Diniz Machado
Fonte: Ascom/Consea