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“Sistemas de alta produtividade impactam a segurança hídrica do país”, diz pesquisador
“As cadeias produtivas da agricultura e das agroindústrias têm cada vez mais impactado os recursos naturais em nosso país”. A afirmação, publicada em artigo da edição do último dia 2 de junho do jornal Le Monde Diplomatic, é do engenheiro agrônomo e pesquisador Osvaldo Aly Junior, membro da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) e doutorando em Gestão de Águas Subterrâneas, na USP.
Para Osvaldo, “a água tem se tornado objeto de atenção por conta de diferentes impactos e disputas (muitas vezes não explícitas) relacionadas com a mercantilização das águas doces, que envolve a manutenção dos ecossistemas, a agricultura de alimentos e de exportação, o setor urbano e industrial e a necessidade de garantir a segurança hídrica da população”.
“Quando se analisa o aumento no volume das exportações brasileiras de soja, carne e açúcar e, consequentemente, constata-se o aumento do volume de água embutido nessa produção, conclui-se que é necessário pensar sobre os possíveis impactos ambientais que a exportação de produtos primários e semimanufaturados pode estar tendo sobre nossos recursos hídricos”, destaca o pesquisador do Centro de Estudos em Águas Subterrâneas (Cepas-USP) no artigo publicado no jornal francês.
“A Revolução Verde [...] vendeu a ideia de que o problema da segurança alimentar seria resolvido pela simples adoção de um pacote de tecnologias. Ela permitiu a intensificação da produção para atender à demanda do abastecimento do mercado interno e permitiu exportar commodities da agropecuária. Contudo, em vários países isso trouxe consequências ambientais trágicas, esgotando e contaminando os recursos hídricos com agrotóxicos”, diz ele, citando como exemplo a Arábia Saudita.
“Esses sistemas de alta produtividade, intensivos no consumo de recursos naturais, são grandes demandadores de recursos hídricos, sejam eles superficiais ou subterrâneos. Essa forma de fazer agricultura, juntamente com o processo de urbanização da população, aumenta as batalhas pelo acesso, controle e consumo de água, gerando disputas inexistentes até então”, ressalta o pesquisador.
No Brasil, segundo Osvaldo, “esse avanço da produção e da exportação de produtos primários ou semimanufaturados promoveu o deslocamento e a substituição de antigas lavouras e de pastagens pela soja, o milho, a cana-de-açúcar e o algodão, avançando sobre as áreas do cerrado e empurrando o gado em direção à floresta amazônica, juntamente com o cultivo de soja”.
Para ele, “a indústria alimentar vem promovendo erosão genética e uniformização do padrão alimentar mundial com um custo energético, hídrico e ambiental elevado. [...] e tenta impor um padrão alimentar de tipo europeu e norte-americano para todo o globo. Cada vez mais o que se come nas grandes cidades ao redor do mundo é a mesma base alimentar”.
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Fonte: Ascom/Consea