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Aleitamento materno: presente saudável, futuro sustentável
A Semana Mundial de Aleitamento Materno tem por objetivo dar visibilidade à amamentação. Ela conclama a todos que apoiam a amamentação no mundo para que trabalhem uma de suas facetas e a torne pública nos meios de comunicação. Desde 1992 a SMAM é comemorada no período de 1 a 7 de agosto.
O tema escolhido para a SMAM 2016 foi a correlação do aleitamento materno com o desenvolvimento sustentável do planeta:
“Aleitamento materno: presente saudável, futuro sustentável”
Em setembro de 2015, na Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, foram adotados os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas 169 metas. Eles são a finalização de um processo de cerca de dois anos de trabalho visando o enfrentamento das mudanças climáticas e a proteção da sustentabilidade do planeta em conjunto com o desenvolvimento econômico dos países. Os ODS deverão orientar as políticas internas de cada país e as atividades de cooperação internacional nos próximos quinze anos, sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
A amamentação se relaciona positivamente com todos os ODS podendo ser considerada um dos pilares para se atingir o desenvolvimento sustentável.
ODS 1- Enfrentar a pobreza: O leite materno é um alimento barato para os bebês e as crianças de primeira infância. É acessível para todos e não se torna um peso para o orçamento familiar. Na sua ausência, a aquisição da alimentação artificial custa de 15 a 35% do salário mínimo. Famílias de baixa renda terão dificuldades em manter esse gasto para alimentar apenas um de seus membros.
ODS 2- Acabar com a fome: O aleitamento materno exclusivo por 6 meses e sua continuidade por dois anos ou mais fornecem nutrientes de alta qualidade. Ao se adequar nutricionalmente com a idade da criança, o leite materno ajuda a prevenir a fome, a desnutrição e a obesidade. A amamentação é chave da segurança alimentar para a criança pequena.
ODS 3- Boa saúde e bem estar para todos: Bebês não amamentados adoecem 68 vezes mais que os amamentados. O aleitamento materno protege significativamente a saúde e a sobrevivência de bebês e de crianças pequenas. Na vida adulta, os que foram amamentados tem menos chance de desenvolver obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. A amamentação também ajuda a preservar a saúde e o bem-estar das mães, tanto em curto como em longo prazo.
ODS 4- Educação de qualidade: O aleitamento materno e a alimentação complementar adequada são essenciais para o aprendizado. A amamentação proporciona uma escala verbal mais alta na infância e um melhor desenvolvimento mental e cognitivo, contribuindo para um bom desempenho escolar, independente da condição sócio econômica da criança.
ODS 5- Igualdade de gênero: A amamentação oferece igualmente para cada menina e menino o melhor início de vida e a mesma proteção. Amamentar é um direito único das mulheres e deve ser apoiado por toda a sociedade para que possa ser praticado de forma ótima. A amamentação exitosa é uma experiência enriquecedora. Quando exerce a capacidade de alimentar seu bebê com seu próprio corpo, ela se empodera como mãe e como mulher.
ODS 6- Água potável e saneamento: A amamentação sob livre demanda fornece toda a água que um bebê necessita, inclusive no verão. Em contraste, a alimentação artificial, para se tornar segura, requer uma enorme quantidade de água potável, tanto para o preparo das refeições lácteas, como para a higiene dos utensílios.
ODS 7- Energia limpa: A amamentação reduz o consumo de água, fogo e outros combustíveis usados na moradia e consome pouca energia em comparação com a alimentação com outros leites. A fabricação dos leites, fluidos ou em pó consomem uma grande quantidade de energia.
ODS 8-Trabalho decente e crescimento econômico: Bebês amamentados, quando adultos, têm maior probabilidade de subir na carreira e salário mais alto que os não amamentados. Mulheres que recebem apoio de seus empregadores para amamentar desenvolvem uma relação de maior produtividade e lealdade ao emprego. A proteção da maternidade, além de outras políticas trabalhistas, permite que as mulheres conciliem a amamentação com o trabalho remunerado. Empregos dignos são aqueles que adequam o trabalho produtivo às necessidades do ciclo reprodutivo das mulheres, especialmente importante quando vivem situações difíceis.
ODS 9- Indústria, inovação e infraestrutura: Os incentivos de apoio ao aleitamento materno têm aumentado a participação das mulheres nas empresas e conquistado a fidelidade das funcionárias. Creches perto do local de trabalho, salas de apoio à amamentação e períodos de pausa para amamentar podem fazer uma grande diferença. Empresas que apoiam a amamentação evitam, pelos inúmeros episódios de adoecimento de seus filhos, o absenteísmo e a rotatividade das trabalhadoras, além da elevação dos custos em função dos treinamentos sistemáticos.
ODS10-Redução das desigualdades: A desnutrição é um dos fatores determinantes da desigualdade entre os países. A prática de amamentar ajuda a reduzir a desnutrição e aumenta tanto a sobrevivência como a expectativa de vida dos cidadãos dos países pobres ou em desenvolvimento.
ODS 11-Cidades e comunidades seguras e sustentáveis: Amamentar reduz drasticamente o lixo resultante do consumo de produtos cujas embalagens são descartáveis como plástico, alumínio e papelão dos leites fluidos ou as latas, dos leites em pó. Para tanto, as mães lactantes com seus bebês precisam se sentir seguras e bem-vindas em todos os espaços públicos. Quando os desastres e as crises humanitárias ocorrem, as mulheres, bebês e crianças são sempre os mais afetados. As grávidas e lactantes precisam de um apoio especial nestas circunstâncias.
ODS 12-Consumo e produção responsável: A amamentação é uma fonte de nutrição e sustento saudável, viável, não poluente e não predatória de recursos naturais. A produção do leite materno é absolutamente adequada à demanda do bebê.
ODS 13- Ação contra as mudanças climáticas: O gás metano é o segundo maior contribuinte para o aquecimento do planeta. Cerca de 70% das emissões deste gás ocorrem por conta da criação de gado bovino. A produção, o transporte e a distribuição dos leites artificiais, pelo uso de combustíveis fósseis (gasolina e diesel), também contribuem para a emissão dos gases de efeito estufa. A amamentação dispensa a criação de gado leiteiro e das vias de distribuição. Além disso, ela salvaguarda a saúde e nutrição infantil em tempos de desastres relacionados às mudanças climáticas resultantes do aquecimento global.
ODS 14- Proteção da vida das águas: Nas enxurradas, o lixo percorre o caminho das águas até o mar. As latas de leite em pó demoram mais de 200 anos para se degradarem. As embalagens plásticas dos leites, assim como mamadeiras e chupetas demoram mais de 400 anos. Esses resíduos muitas vezes são confundidos com alimentos e causam a morte de animais marinhos. Amamentar dispensa o uso desses produtos, protegendo a vida marinha.
ODS 15- Proteção dos ecossistemas terrestres: O aleitamento materno é ecológico, não necessita de derrubar florestas para a criação de pasto para o gado leiteiro. O desflorestamento reduz a quantidade de árvores que servem como reguladoras da temperatura e inibe as nascentes resultando num processo de desertificação do ambiente com o aniquilamento de vários ecossistemas.
ODS 16- Paz e justiça para todos: A amamentação é consagrada em numerosos acordos internacionais e convenções de direitos humanos. É um dos direitos expressos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente. As leis e as políticas públicas que protegem e apoiam as mães que amamentam e os bebês amamentados são essenciais para garantir o respeito aos seus direitos.
ODS 17 – Alianças para atingir os objetivos: A amamentação é o pilar da Estratégia Global para a Alimentação de Lactentes e Crianças Pequenas. A colaboração multi-setorial e uma variedade de parcerias são fundamentais para apoiar o desenvolvimento de programas e iniciativas de promoção do aleitamento materno. As parcerias entre as indústrias produtoras de alimentos e setores da saúde e nutrição costumam envolver conflitos de interesses que acabam por derrubar as ações em prol da amamentação.
Em resumo, o aleitamento materno é um recurso natural individual com poder de, coletivamente, preservar e melhorar a saúde, combater a pobreza e as desigualdades, melhorar a produtividade e a humanização do trabalho, empoderar as mulheres e proteger a vida na terra e nos mares, contribuindo com a biodiversidade do planeta. Portanto, para atingir os 17 ODS e suas 169 metas em quinze anos, torna-se fundamental proteger, apoiar e promover a amamentação.
* Ana Júlia Colameo, integrante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), médica pediatra, mãe, avó e participante da Ibfam sigla em inglês para a Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar.