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Guia alimentar da UFRJ abre debate sobre redescoberta da alimentação saudável
Os caminhos para se atingir a soberania alimentar, promovendo a sustentabilidade para o produtor e a alimentação saudável para a população, foi o tema do evento Conhecer e Comer: Caminhos para Redescobrir a Comida de Verdade – Perspectivas do Guia Alimentar para a População Brasileira, promovido hoje (24) pelo programa de História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia (HCTE) e pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC), ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
De acordo com a pesquisadora da Fiocruz Daniela Frozi, a soberania alimentar é o poder de escolha sobre o que cada um vai comer e como o alimento vai ser produzido. Segundo ela, “é a possibilidade de você acordar de manhã e dizer hoje quero comer banana da terra, que é um dos alimentos mais extintos do Brasil, não tem apoio ao produtor e não é fácil de encontrar. Ela pode substituir o pão, por exemplo. Hoje nós importamos 50% de todo o trigo que a gente consome, e não precisaríamos se houvesse hábito, por exemplo, [de consumo] da maniva [de mandioca ou macaxeira]. Eu não posso acordar de manhã e fazer uma tapioca livremente, a não ser que eu frequente locais específicos”.
Para ela, é preciso repensar todo o modelo de produção em que vivemos para que esse patamar de decisão seja alcançado. “Requer, na verdade, um novo modo de se viver na sociedade, um repensar desse modelo de desenvolvimento que a gente tem de alguma forma caminhado, que é o modelo de desenvolvimento neoliberal, capitalista, em que você tem o enfoque no lucro e desassocia esse alimento da vida das pessoas, dos grandes significados da vida”.
De acordo com a pesquisadora, várias iniciativas da sociedade e também do governo têm mostrado que é possível viver o ciclo da alimentação saudável, consciente e sustentável. Um dos exemplos apresentados no evento foi o do projeto Favela Orgânica, desenvolvido desde 2011 por Regina Tchelly, na comunidade Chapéu Mangueira, no Leme, zona sul do Rio de Janeiro. Premiada e convidada para palestras no exterior, Regina conta que apenas faz o que trouxe da infância, na Paraíba, inspirada a agir ao ver o desperdício que ocorre nas feiras livres da cidade.
“Eu queria ser uma cozinheira diferente, porque lá na Paraíba eu já vivia tudo isso – de plantar, colher, aproveitar casca, talo. Isso era comum, da educação e da cultura. O importante, segundo ele, é “trabalhar o consumo consciente, porque consumir tanto e desperdiçar, por que e pra que? Se eu sei que o meu alimento pode dar mais na mesa, pode dar o meu composto, o meu adubo e a própria semente. Eu posso devolver para a terra o que a terra nos dá. Então, assim é o ciclo da vida”.
Mesmo desenvolvendo seu projeto em grandes empresas e na Europa, ela diz que a cultura da alimentação orgânica e consciente ainda é muito incipiente. “O fast food tá com toda a moléstia. A gente tem é que cuidar, fazer alimentos melhores. Cada vez tem mais enlatado. Está surgindo o interesse, mas ainda é muito pouco para a quantidade de consumidores que comem porcaria, engordation e entope-coração”.
O coordenador geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Eduardo Nilson, explica que o Guia Alimentar foi relançada no ano passado, mudando o foco tradicional dos nutrientes para o alimento – da produção à forma de consumo. A principal diferença, dissse ele, é o olhar como um todo, porque "os guias alimentares, tradicionalmente, no mundo todo, são foco no nutriente – quanto você precisa de proteína, de carboidrato, de vitaminas, minerais –, e esquece do alimento, e nessa discussão se pode cair numa armadilha que a própria indústria usa, porque você comparar o leite materno com uma fórmula infantil, tem a mesma quantidade de proteína, de gorduras, de outros nutrientes, mas eles não são equivalentes de forma alguma”.
Nilson destaca que, em termos de nutrientes, muitos alimentos industrializados são fortificados, o que não significa necessariamente que sejam saudáveis. “O que nós queremos com o guia – e por trás dele tem um grande movimento – é justamente frear o consumo do alimento ultraprocessado, que no fundo não é um alimento, é um produto alimentício; é uma coisa que se come; na verdade é uma formulação de ingredientes que imita um alimento. O nosso foco é resgatar a cultura alimentar brasileira”.
O Guia Alimentar foi distribuído primeiramente para unidades básicas de saúde. O próximo passo é a divulgação nas universidades e agendas intersetoriais. Depois, uma grande tiragem será distribuída nas escolas, “criando um ambiente de formação de hábito alimentar, protetor e promotor da alimentação saudável”, de acordo com Nilson. O material está disponível online.
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Fonte: Akemi Nitahara/Agência Brasil