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Crônica: “Comida de Verdade”
Ilustração de dois homens sentados ao redor de uma mesa cheia de frutas, eles estão segurando uma xícara.
Em Morte e Vida Severina, o poeta João Cabral falava dos Severinos “condenados à morte de velhice antes dos trinta; de emboscada antes dos vinte; de fome um pouco por dia”.
Já em 1984 Caetano Veloso cantava Podres Poderes: “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos naturais”.
Trinta anos após a música de Caetano, a ONU, por meio da FAO, informou ao mundo que o Brasil – com menos de 5% da população em insegurança alimentar grave - saiu do Mapa da Fome (http://ow.ly/L8XsD).
E se mais brasileiros passaram a comer, e comer mais, outro problema vem surgindo: a obesidade, que atinge boa parte da população economicamente ativa e também das crianças.
Só para se ter uma ideia, o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta quase meio bilhão de reais por ano no tratamento de doenças relacionadas à obesidade – isso sem contar outros impactos na economia.
É neste contexto que será realizada em novembro, em Brasília, a 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, cujo tema é “Comida de Verdade no Campo e na Cidade” (http://ow.ly/L8XzT) – um debate que nos levará a refletir sobre o que estamos e não estamos comendo.
Em 2004 esteve em cartaz nos cinemas de todo o mundo o documentário “Super Size Me (http://ow.ly/L8XFr) – a dieta do palhaço”, de Morgan Spurlock, que passou um mês se alimentando três vezes por dia no McDonalds, a fim de mostrar os efeitos que este estilo de vida exerce sobre uma pessoa.
Ao final da experiência, o ator/diretor engordou 11 quilogramas, ficou com uma fisionomia de doente e apresentou mudanças de humor, disfunção sexual e impacto sobre o fígado, precisando de mais de um ano para perder o peso adquirido.
No Brasil, a Maria Farinha Produções e o Instituto Alana produziram o filme Muito Além do Peso (https://youtu.be/8UGe5GiHCT4), um contundente documentário sobre a obesidade infantil, que mostra hábitos alimentares de crianças e traz a opinião de especialistas no assunto.
Apesar de muita gente achar que segurança alimentar é tão somente “combate à fome”, o conceito é muito mais amplo do que se imagina. Não é só comer, é ter alimentação adequada e saudável, livre de agrotóxico, que não traga prejuízo à sua saúde nem ao meio ambiente.
O conceito de segurança alimentar e nutricional (http://ow.ly/L8XQW) também prevê o respeito e a preservação dos hábitos alimentares de um povo, de uma região, de uma comunidade, como as tradições alimentares dos indígenas e dos povos e comunidades tradicionais, entre outros.
Enfim, está na hora de pensarmos ou repensarmos o que estamos comendo e o que não estamos comendo. Porque já se foi o tempo em que se morria de fome um pouco por dia, um tempo em que morrer de fome era uma coisa natural.
Porque, como diz a música dos Titãs, a gente não quer só comida, diversão e arte. A gente quer comida e saída para qualquer parte. Mas, sobretudo, a gente quer - e precisa - de comida de verdade, no campo e na cidade.
Marcelo Torres é jornalista da Ascom/Consea