Notícias
Demanda hídrica
A crescente demanda e a gestão inadequada da água, principalmente em localidades com disponibilidade limitada, têm ocasionado problemas que vão desde a poluição de mananciais até a formação de áreas de desertificação, que interferem diretamente na qualidade, na disponibilidade e no acesso à água. No Semiárido brasileiro há desigualdade na distribuição dos recursos hídricos e escassez crônica em diversas localidades. Isso ocorre devido aos períodos de estiagem que duram cerca de oito meses e boa parte da água subterrânea está fora dos padrões de potabilidade. Nesses casos é fundamental que haja estruturas descentralizadas de abastecimento a partir de diversas fontes para os distintos usos da água e adensamento máximo da oferta hídrica para a população poder realizar suas atividades cotidianas imprescindíveis e garantir sua saúde e segurança alimentar e nutricional.
Considera-se demanda hídrica a quantidade de água captada, expressa em unidades de volume e que satisfaça aos diversos usos pela população. Em função de sua qualidade e quantidade, esses usos podem ser classificados como consuntivos e não consuntivos. O uso consuntivo ocorre quando parte da água captada é consumida no processo produtivo, não retornando ao curso de água. E o uso não consuntivo refere-se ao uso da água captada ou utilizada em determinada atividade é devolvida na mesma quantidade e qualidade, ou então a água é utilizada apenas como meio para determinada atividade.
A ONU considera que o acesso básico ocorre quando uma família dispõe de, pelo menos, 20 litros per capita por dia e percorre uma distância inferior a 1 km para busca-la. Sob o ponto de vista da garantia de uma boa saúde, a Organização Mundial da Saúde aponta que o acesso diário mínimo é de 50 litros de água por pessoa/dia. No Brasil são estimados parâmetros médios de consumo de 200 a 270 litros por pessoa/dia para a projeção de sistemas de abastecimento urbano de água, com o objetivo dedefinir os investimentos necessários para o atendimento da demanda hídrica local. No meio rural estima-se que a demanda média esteja entre 70 e 100 litros per capita/dia.
Com relação à produção de alimentos, os parâmetros de demanda variam de acordo com cada cultura e o tipo de irrigação utilizada. A posição do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) é clara quanto aos usos da água para essa atividade. A conclusão é que a agricultura irrigada é responsável por grande desperdício de água - seja devido ao uso de equipamentos mal dimensionados, com grandes perdas de água nos sistemas por falta de manutenção ou devido a turnos de rega que tendem a utilizar mais água que a necessária ou o uso de sistemas de irrigação inadequados para as condições climáticas.
Dois conceitos ganham relevância quando se investiga a demanda hídrica e se projeta soluções mais racionais de consumo de água: o de pegada hídrica e o de água virtual. A pegada hídrica de um produto ou serviço é a soma do volume de água consumido e/ou poluído ao longo de sua cadeia de produção. A água virtual, por sua vez, além de considerar o volume de água consumido, leva em conta o local de produção dos bens, a fonte da água e em que ponto da cadeia ela é utilizada. A exemplo da segurança alimentar e nutricional, a segurança hídrica deve envolver os aspectos de quantidade, qualidade e regularidade, envolvendo também os riscos e a solidariedade com as gerações futuras.
*Igor da Costa Arsky é administrador público e Coordenador Geral de Acesso à Água do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Vitor Leal Santana émestre em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em políticas públicas e gestão governamental, lotado na Coordenação Geral de Acesso à Água, do MDS. O texto completo encontra-se publicado no livro Convivência com o Semiárido: autonomia e protagonismo social da parceria REDEgenteSAN/Faurgs/Iabs (www.redesan.ufrgs.br). Clique aqui para acessar a obra.