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“Devemos evitar que o Brasil entre no mapa da obesidade”, afirma Tereza Campello
Maria José Brito de Sousa, 48 anos, enfrentou duas horas de barco e mais quatro horas de ônibus para participar da 4ª Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Pará, em Belém, e discutir a oferta de uma alimentação adequada para a população paraense. Moradora do quilombo São José de Icatu, em Mocajuba (PA), Maria José esteve nos encontros preparatórios antes da etapa estadual. “Descobrimos que, no nosso quilombo, temos comida de verdade. Estávamos indo atrás de comida lá na cidade”, disse. A quilombola ressalta que parte dos R$ 77 que recebe do Bolsa Família é investida na horta comunitária, o que beneficia cerca de 450 pessoas. “Temos um alimento de qualidade ao nosso alcance”, afirmou.
Na abertura do encontro, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, falou sobre a saída do Brasil do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). “Agora, devemos evitar que o Brasil entre no mapa da obesidade”, destacou ela, nessa quarta-feira (19).
Segundo a ministra, o direito à alimentação adequada foi incluído na Constituição Federal, mas só foi garantido nos últimos 12 anos porque o tema foi colocado como prioridade pelo governo federal. “O Brasil sempre produziu muitos alimentos e sempre foi marcado pela fome. As pessoas não tinham acesso à alimentação. Precisamos olhar o que fizemos para fortalecer as nossas políticas e impedir o retrocesso”, afirmou Tereza Campello.
A ministra apontou ainda que as políticas sociais brasileiras são referência para outros países. Entre 2002 e 2014, o Brasil reduziu em 84,9% o número de subalimentados, como resultado de um conjunto de políticas públicas que possibilitaram o aumento da renda da população e o fortalecimento da agricultura familiar. “Não vamos nos conformar com os 1,7 % de pessoas subalimentadas no país. As políticas devem continuar.”
O Bolsa Família e a merenda escolar, disse a ministra, foram fundamentais para que o país conquistasse a primeira geração de crianças sem fome, com acesso à alimentação, à escola e a serviços. Segundo ela, isso foi possível porque as políticas públicas foram construídas em parceria com a sociedade civil. “Garantimos as crianças na escola e acompanhadas pelo serviço de saúde. Com isso, reduzimos a desnutrição e o déficit de altura das crianças mais pobres”.
Tereza disse ainda que entre os desafios está a necessidade de construir políticas intersetoriais para desenvolver um conceito de alimentação saudável e para ampliar a oferta desses produtos à população, respeitando a cultura alimentar local. “O Pará tem uma culinária riquíssima e nós podemos avançar nisso juntos”, ressaltou. A definição do papel dos entes federados no Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), o fortalecimento da agricultura familiar e o acesso à água também foram apontados como pautas para as discussões na conferência estadual.
O vice-governador do Pará, Zequinha Marinho, falou sobre a necessidade de discutir a qualidade da alimentação que vai para a mesa da população. “Precisamos evitar que as pessoas comam muito e que, ao mesmo tempo, não comam bem. Este é o momento de conhecermos como é a nossa vida alimentar aqui na capital e no interior”, afirmou.
Regina Nogueira, representante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), defendeu a participação popular nos encontros municipais e estaduais e destacou a oportunidade de articulação e de diálogo sobre o tema em todo o país. “Essa política de segurança alimentar e nutricional só será efetiva quando sociedade civil e governos tomarem a sua responsabilidade na garantia da alimentação adequada”, apontou.
A conferência estadual reúne representantes da sociedade civil e dos governos municipais e estadual até esta sexta-feira (21).
Fonte: MDS