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Urbanização muda hábitos alimentares dos brasileiros
A crescente urbanização das cidades e a concentração demográfica têm provocado mudanças de hábitos e padrões alimentares dos brasileiros, que consomem cada vez mais produtos processados e menos alimentos saudáveis.
Estes são alguns pontos do diagnóstico apresentado na plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) realizada nesta quarta-feira (26/11), em Brasília, pelo secretário-executivo da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan), Arnoldo Campos.
Segundo ele, em 1950 a população brasileira era 64% rural e 36% urbana. Hoje o país é 84% urbano e 16% rural. “A urbanização contribui para a difusão rápida de hábitos alimentares e padrões de consumo, muitas vezes com a perda da identidade e cultura alimentar de determinadas regiões”, revelou Arnoldo, que também é secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
O secretário participou dos debates sobre “Segurança Alimentar e Nutricional nos Centros Urbanos”, ocorridos pela manhã. Outros debatedores dessa mesa foram os conselheiros Renato S. Maluf e Christiane Gasparini e os convidados Lorena Fernandes, da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana, de Belo Horizonte (MG), e Marcelo Munaretto, que é superintendente da Secretaria Municipal de Abastecimento de Curitiba (PR).
A agricultura urbana e periurbana é um dos temas da plenária, que reúne conselheiros de governo e da sociedade, além de convidados e observadores, inclusive estrangeiros.
Na sua apresentação, o representante da Caisan disse que, com a urbanização crescente, a produção de alimentos tem se distanciado cada vez mais dos centros urbanos. “Esse fator contribui para a dificuldade de acesso e encarecimento de alimentos como frutas e verduras e, consequentemente, o aumento do consumo de alimentos processados pelos habitantes dessas localidades”, revelou.
Ainda segundo ele, “como consequência desse distanciamento entre as áreas de produção e de consumo, a organização da logística para o abastecimento nos centros urbanos é fundamental”.
Como subsídios para a discussão desses temas, Arnoldo Campos levou à plenária um documento elaborado pelo MDS, juntamente com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
O documento apresenta um diagnóstico da situação de acesso aos alimentos nos centros urbanos, por meio de indicadores de Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF), e algumas das principais ações de segurança alimentar e nutricional executadas pelo poder público e setor privado.
Um dos itens mostrados revela que despesas com alimentação representam 19,8% dos gastos das famílias brasileiras. Quando são comparadas as despesas com alimentação por faixa de renda das famílias, observa-se que esse percentual aumenta para 29,6% nos domicílios com renda mais baixa e diminui para 12,7% nos domicílios com renda mais alta. Significa dizer que menor é a renda da família, maior é o peso da alimentação no orçamento.
Observa-se que as populações de menor poder aquisitivo, em geral habitantes de periferias de metrópoles ou moradores de pequenas cidades do interior, pagam mais caro pelos produtos que consomem, quando comparadas aos segmentos de maiores rendas.
Os grupos de menor renda em geral compram alimentos no em um comércio varejista não estruturado, enquanto os de maior renda realizam suas compras em estabelecimentos comerciais de grande porte, que operam em escala suficiente para favorecer produtos de melhor qualidade e a preços compatíveis.
“A origem da questão reside no processo de aquisição realizado pelos comerciantes”, diz o documento da Caisan. “Enquanto os supermercados recorrem aos grandes fornecedores, fazendo uso da sua escala comercial para obter condições diferenciadas, o pequeno varejista geralmente abastece sua loja por meio de aquisições realizadas junto a tradicionais atravessadores e até mesmo nas grandes redes supermercadistas”, completa.
Algumas propostas foram apresentadas para o fortalecimento da segurança alimentar e nutricional nos centros urbanos, como ampliar o acesso a alimentos mais saudáveis, atender os grupos mais vulneráveis à insegurança alimentar, oferecer alimentação saudável nos equipamentos públicos e qualificar as redes de educação, de assistência social e saúde, nos restaurantes populares e cozinhas comunitárias.
Outras propostas são: promover a educação alimentar e nutricional, inclusive ambientes promotores da alimentação adequada e saudável (escolas, trabalho e outros), fortalecer a atenção à saúde; definir papéis dos entes federados no abastecimento e na gestão dos equipamentos públicos, com o fortalecimento do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan).
Para ler o documento “Subsídios da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional para a discussão sobre Segurança Alimentar e Nutricional nos centros urbanos”.
Fonte: Ascom/Consea