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Por um modelo sustentável de desenvolvimento no Semiárido
O atual modelo de desenvolvimento está baseado na exploração e acumulação, tendo por imperativo máximo a dimensão econômica, que se sobrepõe e condiciona as outras dimensões da vida humana. Esse modelo esgotado aponta para a necessidade de construção de um desenvolvimento com bases sustentáveis no Semiárido, que viabilize o acesso à água e o manejo apropriado no Semiárido, com produção sustentável e agroecológica.
Um princípio chave da convivência e do desenvolvimento sustentável do Semiárido é que suas populações não sejam simplesmente receptoras de conhecimentos e pacotes tecnológicos. Ao contrário, elas produzem e são capazes de gerar os conhecimentos necessários ao seu desenvolvimento, sem negar a necessária inter-relação com outras populações, conhecimentos e tecnologias de um modo sistêmico.
Iluminado pelos princípios da convivência, o desenvolvimento do Semiárido passa por premissas como: o compromisso com as necessidades e potencialidades da população local; a conservação e o uso sustentável da biodiversidade; a recuperação das áreas degradadas; a quebra do monopólio da terra e da água; a valorização do patrimônio cultural, étnico, material e simbólico do Semiárido; o reconhecimento da agricultura familiar como categoria sociopolítica e estratégica do desenvolvimento e o reconhecimento do meio rural como espaço de produção e reprodução da vida; a valorização das tradições e conhecimentos das comunidades; e o reconhecimento da diversidade étnica e cultural com seu patrimônio, colocando sua população como coautora das políticas e não como mera beneficiária.
Sinteticamente, pode-se afirmar que o desenvolvimento sustentável do Semiárido exige uma reforma hídrica que seja baseada na desconcentração da água e em instrumentos políticos e técnicos de armazenamento e distribuição da mesma com equidade e justiça, como um bem público ao qual todos/as têm direito e não, simplesmente, como algo a ser comercializado como fonte de lucro. Para que haja uma sustentabilidade do Semiárido são necessários alguns delineamentos centrados na importância da agricultura familiar agroecológica e baseada: em policultivos que garantam a manutenção da biodiversidade; no manejo alimentar dos rebanhos, com a criação de variedades de pequenos animais; em processos agroflorestais, com o cultivo de diversas espécies numa mesma área a partir da experiência dos agricultores; e em quintais produtivos com estímulo ao cultivo de plantas medicinais, verduras e frutas
Essa dimensão de sustentabilidade e desenvolvimento do Semiárido, contudo, ainda é embrionária e não está dada ou conquistada. Ela resiste ao modelo do agronegócio e àqueles que querem lucrar a qualquer custo, sem se perguntar sobre suas consequências para a natureza e as pessoas. Por isso, o desenvolvimento do Semiárido é uma construção contínua numa correlação de concepções e modelos em disputa que precisam ser afirmados e defendidos a partir da força de seu povo.
* Naidison de Quintela Baptista é mestre em Teologia, com graduação em Filosofia, Teologia e Educação; presidente do Consea Bahia e conselheiro do Consea Nacional. Carlos Humberto Campos é Graduado em Sociologia, membro da Equipe Técnica da Cáritas Brasileira – Regional do Piauí e membro da Coordenação da ASA Brasil. O texto completo encontra-se publicado emhttp://www.ufrgs.br/redesan/publicacoes