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Nos caminhos do Brasil
Tenho sido abençoado. Nos últimos 45 dias, pude participar da 2ª Conferência Nacional de Educação, da 3ª Conferência de Economia Solidária, do Encontro Macro Nordeste da Rede de Educação Cidadã (Recid), do Seminário de apresentação da Pesquisa Movimentos Sociais e Esfera pública, de Seminário de pesquisadores sobre a agenda futura em participação social, do lançamento do filme “Descalço sobre a Terra vermelha’, do Fórum Interconselhos,, do Seminário do Movimento Fé e Política sobre Bem-Viver e Práxis política, de Seminário sobre Experiências democráticas e mecanismos de Participação Social na América Latina, do 10º Encontro da Rede MOVA Brasil, da Mesa de Controvérsia sobre Segurança Alimentar e Territórios, de reuniões de aprovação do Plano de Ação de Articulação dos Processos formativo-educativos do governo federal e Política Nacional de Educação Popular, da 4ª reunião do Comitê Brasileiro do Ano Internacional da Agricultura Familiar, Camponesa e Indígena (AIAF/2014), de reunião plenária da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), do Colóquio Gestão democrática: Mecanismos e Processos de Participação popular, da Mesa de Interesse do Marco Referencial de Políticas públicas à Política Nacional de Educação popular, da plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), do lançamento público das conclusões da Comissão Nacional da Verdade, da assinatura de convênios do Ecoforte, do Encontro dos Amigos do MST, do Seminário Questão Agrária e Desigualdades, do 5º Diálogos Brasil Sem Miséria, do Seminário Políticas de Promoção da Equidade, Educação popular e Controle Social no SUS.
Estive em Fortaleza, Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Félix do Araguaia, Luziânia, ou seja, em todas as macrorregiões brasileiras. Ufa! É a efervescência acontecendo no Brasil depois do segundo turno das eleições, 26 de outubro. E tem mais. Houve ainda o 12º Encontro Nacional da Rede de Educação Cidadã, com o tema ‘Nos Caminhos do Brasil, construindo o Projeto Popular’, quatro dias na Chácara do CIMI em Luziânia, GO, com cerca de 100 educadores e educadoras populares e lideranças sociais de todo Brasil.
O ministro Gilberto Carvalho, convidado especial, agradeceu ‘muito pelo trabalho militante que vocês da RECID estão fazendo, trabalhando com as políticas públicas, construindo processos formativo-educativos com o povo trabalhador. Isso é muito importante e precisa continuar’.
A Rede de Educação Cidadã (Recid) é uma rede de educadores e educadoras populares surgida no primeiro governo Lula, 2003, no âmbito do Programa Fome Zero. Frei Betto, seu inspirador, sempre dizia: “É preciso matar a fome de pão, sim, como prioridade, mas, ao mesmo tempo e tanto quanto, saciar a sede de beleza.”
Disse Eliane de Moura Martins, no Encontro da Recid: “Os direitos são conquistados a duras penas. Em geral, no Brasil, se diz ou dizia: ‘Espera que chega’. A pauta revolucionária de mudança nunca foi pauta do povo brasileiro. O povo tem dificuldade de entender isso. Mas o povo entende a pauta dos direitos. Por isso, tem sentido a luta pelos direitos e por políticas públicas e sociais. E a partir desta compreensão vai-se politizar a luta”.
Muita coisa está acontecendo no Brasil. E não são apenas as mobilizações de rua a partir de 2013. Há debates sobre o futuro, sobre o modelo de desenvolvimento, sobre o projeto de sociedade. Em todas as análises de conjuntura e em todas as oportunidades, digo que estamos num momento histórico. Há cinquenta anos, 1964, as Reformas de Base não aconteceram. Houve um golpe contra o povo brasileiro. Agora, na efervescência política e popular antes e pós eleições presidenciais, mais uma vez colocam-se na roda da história a necessidade e a urgência das reformas, a começar pela mais importante, a reforma política.
Frei Betto, no Encontro da Recid, falou do papel da educação popular na construção de um país com soberania, igualdade, justiça, onde o povo trabalhador, construtor dos seus direitos, seja o protagonista: “É preciso chegar no coração e na cabeça das pessoas. Politizar, organizar as pessoas. O oprimido tem que ser protagonista do seu processo libertador. O opressor não liberta o oprimido, dizia Paulo Freire. Os movimentos sociais precisam de nutrição espiritual: visão crítica da realidade e sentido de utopia. A Rede de Educação Cidadã tem este papel de imprimir sentido revolucionário à vida das pessoas que estão á margem, que estão na opressão”. Os caminhos do Brasil estão grávidos.
Selvino Heck é assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República