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A convivência com o Semiárido e suas potencialidade
Nas últimas décadas, pela ação de diversos atores sociais vem sendo gerada uma concepção alternativa à do “combate à seca” no Semiárido, baseada na compreensão: que seu povo é cidadão; que seca não se combate; que é possível conviver com a semiaridez; que a região é viável; que uma sociedade justa se constrói com equidade de gênero e o protagonismo das mulheres; e que a educação contextualizada é fundamental na valorização do conhecimento do povo na convivência com o Semiárido. Nasce, assim, a perspectiva da “convivência com o Semiárido”.
Entre muitas práticas e iniciativas que já estão ou que podem concretizar alternativas de convivência com o Semiárido encontram-se: a necessidade da reforma agrária e da regularização fundiária; o plantio de espécies resistentes que vivem com pouca água; a criação de animais adaptados; o desenvolvimento e adoção de tecnologias que possibilitam a captação de águas das chuvas; as experiências de créditos comunitários e oficiais; a promoção da educação contextualizada nas escolas; evitar a implantação de obras faraônicas; a criação de mecanismos de partilha da água; a educação para a conservação do solo, da caatinga, das águas, da biodiversidade e da vida no Semiárido; as políticas de assistência técnica agroecológica; e a organização do processo produtivo com base nos princípios da agroecologia.
Uma das principais estratégias para a convivência com o Semiárido é dinamizar uma cultura de estoque. A primeira água inclui estocar água para o consumo humano, por meio de cisternas de 16 mil litros próximas das casas dos agricultores/as. A segunda é a água para a produção animal e vegetal, que conta com várias tecnologias, como as cisternas calçadão, tanques de pedra, barreiros trincheira e outras. A terceira água é a água para a comunidade, para usos não contemplados pelas estratégias anteriores. Por fim, a quarta água é a da emergência, para secas maiores. Nesse caso conta-se com poços artesianos, aguadas mais fortes e barragens maiores.
Uma estratégia chave da convivência com o Semiárido consiste em se guardar os alimentos para as pessoas e para os animais. Isso inclui em garantir sistemas simples de armazenamento de grãos para o consumo e de sementes para o plantio, bem como a manutenção de variedades de animais adaptados ao Semiárido, apoiados em técnicas de ensilagem, fenação e no cultivo de plantas forrageiras.
Para a ampliação de todas essas questões, duas coisas são fundamentais: a assistência técnica desenvolvida no Semiárido de modo sistêmico, realizada por órgãos governamentais e por organizações não governamentais, numa linha de universalização e baseada nos princípios da agroecologia; e crédito que sirva de base para a dinamização de todos os processos descritos, especialmente para viabilizar a cultura do estoque para as pessoas e para os animais.
Como se pode notar, o Semiárido possui conhecimentos, estratégias e ações que, à medida que vão sendo implementados e fortalecidos, ajudam a gerar vida digna para seu povo. Como será tratado mais adiante, algumas dessas ações já foram transformadas em políticas enquanto outras ainda estão longe disso. O caminho da convivência, no entanto, exige que tais práticas ainda localizadas se transformem em políticas públicas e sejam universalizadas.
* Naidison de Quintela Baptista é mestre em Teologia, com graduação em Filosofia, Teologia e Educação; presidente do Consea Bahia e conselheiro do Consea Nacional. Carlos Humberto Campos é Graduado em Sociologia, membro da Equipe Técnica da Cáritas Brasileira – Regional do Piauí e membro da Coordenação da ASA Brasil. O texto completo encontra-se publicado emhttp://www.ufrgs.br/redesan/publicacoes