Entrevista coletiva concedida em 26/05/2011
Presidenta Dilma não concorda que o Brasil seja um país que não tenha condição de combinar a situação de grande potência agrícola que ele é com a grande potência ambiental que ele também é.
Palácio do Planalto, 26 de maio de 2011
Presidente: Eu quero abordar três pontos. O primeiro ponto que eu quero abordar diz respeito à questão do ministro Palocci. Quero assegurar a vocês que o ministro Palocci está dando todas as explicações para os órgãos de controle, as explicações necessárias. Espero que esta seja uma questão que não seja politizada, como foi o caso do que aconteceu ontem, o caso lastimável, que é aquela questão da devolução dos impostos da empresa WTorre. A Fazenda demorou um determinado tempo, acima... se eu não me engano, em torno de dois anos, e a Justiça determinou à Fazenda o pagamento da restituição devida à empresa. Não se trata, de maneira alguma, de nenhuma manipulação. Lamento que um caso desse tipo esteja sendo politizado. A segunda questão diz respeito... e quero reiterar que o ministro Palocci dará todas as explicações para os órgãos de controle, inclusive para o Ministério Público, que serão dadas nos próximos dias.
A segunda questão diz respeito à votação do Código Florestal. Eu quero reiterar, aqui, a minha posição a respeito dessa questão. Eu não concordo que o Brasil seja um país que não tenha condição de combinar a situação de grande potência agrícola que ele é com a grande potência ambiental que ele também é. Nós temos, sim, condições de fazer isso. Por isso, eu não sou a favor da consolidação dos desmatamentos, da anistia aos desmatamentos. Eu acho que no Brasil houve uma prática que a gente não pode deixar que se repita. Muitas vezes se anistiava, por exemplo, dívidas, e novamente se anistiava dívidas, e as dívidas eram novamente anistiadas. O desmatamento não pode ser anistiado, não por nenhuma vingança, mas porque as pessoas têm de perceber que o meio ambiente é algo muito valioso que nós temos de preservar, e que é possível preservar meio ambiente – extremamente possível –, produzir os nossos alimentos, sermos a maior... uma das maiores... Eu não vou dizer a maior porque podia parecer muita pretensão, mas nós estamos, sem sombra de dúvida, entre os maiores produtores de alimentos do mundo, e acho que seremos, nas próximas décadas, o maior produtor de alimentos. Nós podemos fazer isso perfeitamente, preservando o meio ambiente, como temos feito sistematicamente um esforço nessa direção. Não sou a favor, não sou a favor da emenda, fui contra a aprovação da emenda e, obviamente, respeitando a posição de todos aqueles que divergem de mim, continuarei firme, defendendo a mudança dessa emenda no Senado.
Jornalista: A senhora pode vetar a emenda?
Presidenta: Eu, primeiro, tentarei construir uma solução que não leve a essa situação de impasse que ocorreu na Câmara, lá no Senado. Agora, quero dizer a vocês que eu tenho compromisso com o Brasil. Eu não abrirei mão de compromisso com o Brasil. Nós temos obrigações diferentes e prerrogativas diferentes. Somos Poderes e temos de nos respeitar: Judiciário, Legislativo e Executivo. Eu tenho a prerrogativa do veto. Se eu julgar que qualquer coisa prejudica o país, eu vetarei. A Câmara pode derrubar o veto, não é? Você tem ainda as instâncias judiciais. O que eu quero dizer é que eu sou a favor do caminho da compreensão e do entendimento, eu sou a favor deste caminho. O governo tem uma posição, espero que a base siga a posição do governo. Não tem dois governos, tem um governo.
Jornalista: E o kit?
Presidenta: A terceira questão é sobre o kit. O governo não... o governo defende a educação e também a luta contra práticas homofóbicas. No entanto, o governo não vai... não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais, nem... de nenhuma forma nós não podemos interferir na vida privada das pessoas. Agora, o governo pode, sim, fazer uma educação de que é necessário respeitar a diferença e que você não pode exercer práticas violentas contra aqueles que são diferentes de você. Isso...
Jornalista: O que a senhora achou do kit?
Presidenta: Eu não concordo com o kit.
Jornalista: Não. Por quê?
Presidenta: Não. Porque eu não acho que faça a defesa de práticas não homofóbicas.
Jornalista: A senhora assistiu os vídeos?
Presidenta: Eu não assisti os vídeos.
Jornalista: Mas o material...
Presidenta: Um pedaço que eu vi na televisão, passado por vocês, eu não concordo com ele. Agora, esta é uma questão que o governo vai revisar. Não haverá autorização para esse tipo de política, de defesa de A, B, C ou D. Agora, nós lutamos contra a homofobia.
Jornalista: (incompreensível), a senhora pretende prorrogar, já que o Congresso não vai...
Presidente: Minha querida, minha querida, o futuro a Deus pertence.
Jornalistas: Obrigado, Presidente.
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