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USO DE TELAS
O lançamento do documento foi seguido por uma roda de conversa que reuniu adolescentes, professores e especialistas para um debate sobre riscos e oportunidades das ferramentas digitais - Foto: Vitor Vasconcelos/Secom-PR
Com o objetivo de fomentar a construção de um ambiente digital mais seguro para os jovens brasileiros, o Governo Federal lançou nesta terça-feira, 11 de março, a publicação “Crianças, Adolescentes e Telas: Guia sobre Uso de Dispositivos Digitais”. O lançamento do documento foi seguido por uma roda de conversa que reuniu adolescentes, professores e especialistas para um debate sobre riscos e oportunidades das ferramentas digitais.
Para a professora Simone Delgado, coordenadora do Centro de Ensino Médio 04 de Sobradinho 2, no Distrito Federal, o guia será fundamental para auxiliar os educadores e pais na tarefa de orientar as crianças e adolescentes sobre o uso de dispositivos digitais. “Esse guia vai servir muito como orientação, mas serve fundamentalmente como informação, porque a informação sobre cidadania digital, uso de celulares e outros conhecimentos dentro de tecnologias digitais chega muito pouco, ainda, às comunidades, em especial em comunidades vulneráveis”, ressaltou a profissional.
“Espero que a gente consiga aumentar a presença de pais dentro da escola, porque, infelizmente, as telas e o uso do celular trazem um ambiente de uma ecologia muito tóxica para todas as pessoas que os utilizam, em especial para crianças e adolescentes, que estão ainda se formando e construindo a sua forma de utilizar esses aparelhos”, pontuou Simone.
A estudante do ensino médio Maria Eduarda Santos considera que o guia é mais uma medida do Governo Federal para ajudar os jovens a utilizar os aparelhos eletrônicos de forma mais saudável, somando-se à lei sancionada pelo presidente Lula que restringe o uso desses dispositivos nas escolas do país. “É de extrema importância esse guia. Porque tem pessoas que usam com consciência. O guia vem para orientar que a internet não é uma terra sem lei, ela tem regras, tem um modo de usar, assim como tudo na vida. Ele vem para guiar os adultos, crianças e adolescentes. E, principalmente, em casa, os pais deveriam ter mais conhecimento, por meio do guia, para dar uma criação melhor para os seus filhos”, afirmou.
Com o início da vigência da restrição do uso de celulares em escolas neste ano, Maria Eduarda já percebeu as mudanças que a medida provocou nela e em seus colegas. “Vejo grupos que antes ficavam isolados no canto da escola, andando por aí, conversando, fazendo novas amizades. Então, acho que essa lei sancionada pelo presidente Lula é de extrema importância para a nossa geração, que está sempre conectada. Essas seis horas que a gente fica dentro da sala de aula, antes, usando o celular, já dava uma carga horária imensa, e agora, como está proibido, a gente consegue, pelo menos, ter uma parte do dia socializando com outras pessoas reais”, relatou. Ela também acredita que a medida vai melhorar a saúde mental e a capacidade de concentração dos estudantes, inclusive podendo melhorar o desempenho no vestibular, que ela vai prestar, aliás, no fim deste ano.
DESAFIO — Carina Flexor, professora da Universidade de Brasília (UnB) e mãe de quatro filhos, também destacou a relevância do lançamento do guia. “Eu já baixei o guia e mandei para o grupo da família toda. Acho que também passa por uma educação da gente como adulto, para sermos um exemplo nesse processo”, disse. Ela classifica como um desafio lidar com o uso excessivo dos dispositivos digitais pelos jovens, que chegam a passar a noite toda acordados utilizando essas ferramentas. “Eu atribuo esse mergulho excessivo nas telas ao período da pandemia. Durante o momento que a gente viveu de pandemia, não só a educação migrou para as telas, mas também a socialização. A gente entendia, naquele momento, que era necessário, por conta da escola, estar com os amigos e não perder os vínculos. Mas, de alguma forma, a gente acabou abrindo espaço para que esses jovens mergulhassem naquilo. E agora, retirá-los de lá é doloroso e difícil”, ponderou.
SAÚDE — A médica Evelyn Eisenstein ressaltou que a Sociedade Brasileira de Pediatria tem pesquisado, nos últimos 15 anos, os impactos dos dispositivos eletrônicos na saúde. “O uso excessivo, precoce e prolongado de telas é prejudicial à saúde de crianças e adolescentes. Porque crianças, ao virem ao mundo, necessitam do básico: alimentação, nutrição, sono para estabelecer o circuito dia-noite, o circuito vigília, produção de neurotransmissores. Ela vai ao mundo, em contato externo. E ela precisa de quê? De afeto”, disse. Devido aos efeitos do uso desenfreado desses dispositivos, ela enfatizou a importância de ações para conscientizar a população sobre os riscos. “A responsabilidade é de todos. Questões éticas, de segurança, de saúde e educação fazem parte da nossa cultura, de sermos pais, mães, avôs e avós”, afirmou.
GUIA — Coordenado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR), com participação de outros seis ministérios – Casa Civil da Presidência, ministérios da Saúde, da Justiça e Segurança Pública, dos Direitos Humanos e da Cidadania, da Educação e do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome –, o documento norteia o uso saudável das telas, além de promover práticas que reduzam os riscos associados ao tempo excessivo diante dos dispositivos. O Guia oferece ainda recomendações para pais, responsáveis e educadores, abordando temas como o impacto das telas na saúde mental, segurança online, cyberbullying e a importância do equilíbrio entre atividades digitais e interações no mundo real.
AMPLA COLABORAÇÃO — Além de representantes do governo, o Grupo de Trabalho criado para elaboração do Guia foi composto por sistema de justiça, organizações da sociedade civil e especialistas no tema. Os debates que resultaram no documento se beneficiaram ainda da cooperação com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e contaram com a colaboração do Instituto Veredas.
Também serviu de subsídio à redação do Guia um processo de escuta qualificada de crianças, adolescentes, familiares e educadores promovido pelo Instituto Alana, com o apoio da Embaixada Britânica no Brasil. Participaram crianças e adolescentes oriundos de 43 municípios distribuídos por todas as regiões brasileiras, vinculados a escolas públicas ou particulares, localizadas em zonas urbanas ou rurais.