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Cultura e comunicação são plataformas de emancipação para a periferia
Gravação do videocast nesta sexta-feira, 15 de novembro - Foto: Divulgação / CRIA G20
A cultura é o principal instrumento de libertação da população periférica e funciona como uma plataforma de emancipação e de redução da desigualdade. Esta foi a principal conclusão do CRIACast especial, um bate-papo informal realizado nesta sexta-feira, 15 de novembro, no CRIA G20.
Apresentado pelo diretor do Instituto Papo Reto, Raull Santiago, o episódio recebeu Rene Silva, fundador do jornal Voz das Comunidades e organizador do F20 (Fórum das Favelas, que também antecede o G20), o músico Rafa Rafuagi e o produtor e empreendedor Evandro Fióti. Eles debateram os impactos desproporcionais das mudanças climáticas sobre comunidades negras e periféricas.
Em entrevista ao CRIA G20, Raull falou sobre como a crise climática afeta as comunidades periféricas e a importância dos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 18 e 19 — Igualdade Racial e Arte, Cultura e Comunicação, respectivamente — no enfrentamento dessa questão. Segundo ele, essas comunidades são afetadas de todas as formas, dos deslizamentos às enchentes.
“Os direitos mais básicos não garantidos são totalmente ligados ao que se discute nas ODS. A gente não tem esses direitos mínimos e isso gera impacto na saúde, na coleta de lixo, na educação. É um conjunto de fatores. Uma favela infelizmente é um lugar que você olha e entende o porquê as ODS são importantes e porque a gente precisa correr contra o tempo. Já estamos em atraso diante dessa realidade”, enfatizou.
Transmissão do CRIA Cast / Reprodução: Canal YouTube do Governo Federal
TALENTOS PERIFÉRICOS — “Acredito que a cultura é onde a gente consegue ter a percepção de como estão os valores sociais e também imaginar e construir um imaginário possível", disse Fióti. Ele destaca o papel da cultura no impulsionamento dos talentos periféricos, negros e indígenas. “É de uma potência muito grande compreender que, a partir da cultura, a gente tem, geração após geração, conseguido se emancipar. Na verdade, resistir e construir um legado para que as próximas gerações consigam cada vez mais lutar por dignidade, por justiça social e por reparação. Se não fosse a cultura brasileira, nós não teríamos conseguido avançar tanto em políticas públicas, em qualidade de vida e dignidade pras pessoas que vivem em vulnerabilidade, que são as famílias negras, os povos originários”.
Em mensagem aos líderes do G20, Rafa Rafuagi recomenda: “escutar cada vez mais rap”. “O rap fala de letramento racial, de conteúdos pedagógicos que muitas vezes não têm espaço no material de apoio ao professor. O rap acaba sendo esse material para desenvolver um bom plano de aula. Fala sobre questões que muitas vezes são negadas pelas próprias famílias dentro de casa, para auxiliar e condicionar jovens a terem uma cidadania plena", afirmou.
E acrescentou que, “conforme os líderes globais entenderem melhor a cultura hip hop como uma cultura aliada, uma espinha dorsal da transformação social, a gente vai ter a capacidade de avançar mais rapidamente no combate à fome, à pobreza, à desigualdade social e principalmente na direção da justiça climática”.