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Com 8.716 contemplados, Bolsa Atleta tem recorde histórico
João França, do halterofilismo paralímpico: há dez anos no Bolsa Atleta. Foto: Cris Mattos / CPB
“Se não fosse o Bolsa Atleta, acho que muitas modalidades teriam fechado as portas. O Bolsa Atleta me permitiu ter esperança no esporte. É o que me permite viver daquilo que amo, que é competir”. Aos 28 anos, o halterofilista paralímpico João França fala a partir de uma longa estrada percorrida. Nascido em Natal com artrogripose, uma má formação das articulações, ele passou pelo atletismo e basquete paralímpicos e há dez anos encontrou-se no halterofilismo. Desde então, integra o programa do Governo Federal. “Há dez anos represento a Seleção Brasileira e há dez anos estou no Bolsa Atleta. Ele é de fundamental importância não só para eu continuar competindo, mas para fazer disso a minha profissão”, diz.
Há dez anos represento a Seleção Brasileira e há dez anos estou no Bolsa Atleta. Ele é de fundamental importância não só para eu continuar competindo, mas para fazer disso a minha profissão”
João França, do halterofilismo paralímpico
Na quarta-feira (22/5), o Bolsa Atleta atingiu um patamar inédito. A lista de contemplados publicada no Diário Oficial da União é a maior da história: 8.716 atletas. O investimento federal para 2024 é de R$ 148,9 milhões. “Mais uma vez, quebramos o recorde no número de beneficiados. Este ano, 8.716 atletas receberão o apoio financeiro essencial para treinar, adquirir equipamentos, custear viagens. Um recurso que dá tranquilidade para que se preparem e representem bem o Brasil”, afirma o ministro do Esporte, André Fufuca.
SURDOLÍMPICOS – Do total de contemplados, a maior parte, 6.240 representantes, competem em 39 modalidades olímpicas. Outros 2.210 atletas defendem 25 modalidades paralímpicas. Neste ano, o Bolsa Atleta, depois de anos de pleito do setor, beneficia também representantes de 15 modalidades do programa surdolímpico. São 238 contemplados.
A mesatenista Maria Fernanda da Silva Costa, 22 anos, atleta surda e com Síndrome de Down, pratica esportes desde cedo. Passou por judô, muay thai, taekwondo e caratê, além de ter experimentado yoga e natação. Para ela, o esporte é um dos pilares essenciais de sua rotina, uma vez que a síndrome exige estimulação constante. Agora, contemplada com a Bolsa Atleta na categoria Nacional (R$ 925), ela tem uma razão a mais para se dedicar aos treinos e evoluir.
“É um incentivo para que ela continue se desenvolvendo como atleta surdotenista de rendimento. Mas, além do incentivo, é o reconhecimento de anos de treinamento, estímulo e busca de resultados, tanto por meio de medalhas nas competições até aqui, mas principalmente para o desenvolvimento dela como ser humano”, ressalta a mãe da atleta, a professora de artes aposentada Karen Jackeline da Silva. “O tênis de mesa é o caminho de inclusão na prática para a Maria Fernanda e a obtenção da bolsa neste momento representa um suporte financeiro, sempre necessário, mas um estímulo para continuarmos acreditando no paradesporto como forma prática de inclusão”, prossegue.
Além do incentivo, o Bolsa Atleta é o reconhecimento de anos de treinamento, estímulo e busca de resultados, tanto por meio de medalhas nas competições, mas principalmente para o desenvolvimento dela como ser humano”
Karen Jackeline da Silva, mãe de Maria Fernanda da Silva, atleta surda e com Síndrome de Down
Para a presidente da Confederação Brasileira de Desportos de Surdos, Diana Kyosen, a medida muda o horizonte de toda uma comunidade esportiva. “É de suma importancia para o crescimento e sucesso do nosso alto rendimento. Possibilita mais segurança para trazer bons resultados e orgulho ao Brasil. Traz inclusão e visibilidade para os atletas surdos”, comenta.
ATLETAS-GUIA – Outra novidade da lista de contemplados deste ano é a entrada de atletas-guia. Em determinadas modalidades do esporte paralímpico, como atletismo e bocha, os guias são fundamentais para auxiliar atletas com deficiência visual ou comprometimento agudo dos movimentos, no caso da bocha. A lista traz 28 atletas-guias.
“Foi uma coisa muito importante a inclusão de guias e calheiros, que são atletas exclusivos do movimento paralímpico. O atleta cego precisa correr com um atleta-guia. O atleta da bocha tem que usar o calheiro. É uma felicidade grande esse recurso destinado aos atletas”, diz o ex-velocista Yohansson Nascimento, dono de 25 medalhas em Jogos Paralímpicos, Mundiais e Jogos Parapan-americanos no atletismo e hoje vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Operador de rampa, nome oficial dos calheiros na bocha paralímpica, Roberto Rodrigues Ferreira, o Beto, é um dos beneficiados pela novidade. “Nós somos peça fundamental para que o atleta da classe BC3 (da bocha) possa atingir os melhores resultados. Nesses longos anos trabalhando com a modalidade, a preparação sempre foi fundamental para que os resultados viessem. Porém, nem sempre podíamos estar no mais alto nível por questões financeiras”.
TRANQUILIDADE – Medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992 no judô e atual diretor-geral do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Rogério Sampaio reforça a importância do Bolsa Atleta para o esporte nacional. “Esses programas dão uma tranquilidade financeira para que o atleta possa ter recursos para pagar plano de saúde, comprar material esportivo e para que possa disputar as competições dentro do Brasil. É importante para que a gente tenha cada vez mais atletas em mais alto nível participando de competições”, afirma o dirigente.
Uma das sensações da etapa do WTT do Brasil de tênis de mesa, que está sendo disputada no Rio de Janeiro nesta semana, o jovem Leonardo IIzuka, de 18 anos, é integrante do programa desde as categorias mais básicas. Hoje está na Internacional. Após superar o francês Kan Akkuzu por 3 sets a 1 para chegar às oitavas de final do torneio nesta quinta-feira (23/5), ele definiu a importância do programa em sua trajetória. "O Bolsa Atleta é uma ajuda do governo que acaba dando suporte para a gente viajar mais, treinar em outros lugares, disputar mais torneios, porque nem todo mundo uma condição financeira favorável. Isso ajuda bastante a gente a seguir na carreira e a alcançar os objetivos que a gente está buscando".
RELEVÂNCIA - A dimensão do Bolsa Atleta é comprovada no número de atletas contemplados que integraram a delegação brasileira nos últimos dois maiores eventos do esporte mundial: os Jogos Olímpicos e os Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2021. Nos Jogos do Japão, 80% dos integrantes da delegação olímpica e 95% da paralímpica eram bolsistas. Nas Olimpíadas, o Brasil conquistou 21 medalhas (sete ouros, seis pratas e oito bronzes), em 13 modalidades e terminou na 12ª colocação no quadro de medalhas. Em 19 dos 21 pódios (90,45%), os atletas recebiam o Bolsa Atleta. Já nas Paralimpíadas, foram 72 medalhas (22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes) conquistadas, o que rendeu ao país a sétima posição no quadro de medalhas. Os bolsistas representaram 68 dos 72 pódios conquistados: 94,4% do total.
BOLSA PÓDIO – Em abril, o Diário Oficial da União publicou a lista dos contemplados com a Bolsa Pódio, a categoria mais alta do Bolsa Atleta, voltada aos atletas com mais chance de conquistar medalhas nos grandes eventos internacionais, como Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Foram beneficiados 312 atletas, entre eles 104 de esportes olímpicos, 202 do esporte paralímpico, quatro atletas-guias e dois representantes do programa surdolímpico, que recebem bolsas que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil mensais pelos próximos 12 meses.
RECORTES – A Região Sudeste é a residência de mais da metade dos contemplados: 4.403. Depois dela, aparecem Sul (1.889), Nordeste (1.364), Centro-Oeste (668) e Norte (392). São Paulo, com 2.973 beneficiados, é o estado com maior número de representantes. No recorte por modalidade, o atletismo detém o maior número de contemplados, tanto na modalidade paralímpica (784 representantes) quanto olímpica (589). Já entre as modalidades do programa surdolímpico, o futebol é o que tem mais atletas, com 56 contemplados. Na divisão por sexo, os homens são maioria: 4.849 beneficiados. As mulheres somam 3.867.