Notícias
TURISMO
Isenção de visto entre Brasil e Japão mobiliza planos e amplia perspectivas econômicas
Decisão sobre isenção de vistos foi um dos resultados da reunião entre o presidente Lula e o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, durante reunião do G7, em Hiroshima. Foto: Ricardo Stuckert / PR
Brasil e Japão entram, a partir de 30 de setembro, em uma nova fase de relações diplomáticas. Nesta data, o Japão inicia a medida de isenção de visto para cidadãos brasileiros, portadores de passaporte comum eletrônico, que tenham por finalidade atividades de curta duração (até 90 dias) a partir da entrada no país.
O acordo, com validade inicial de três anos, prevê reciprocidade por parte do Brasil, que adotará as mesmas medidas em relação aos portadores de passaporte japonês. O entendimento é resultado do anúncio do Primeiro-Ministro Fumio Kishida, durante a viagem oficial do presidente Lula ao país asiático, em maio.
A isenção de visto entre Brasil e Japão sem dúvidas facilita a vida dos turistas japoneses que vêm nos visitar. Inclusive a Embratur vai ao Japão em setembro participar de um grande evento com profissionais de turismo de aventura. Também já nos reunimos com o embaixador japonês no Brasil e estamos trabalhando juntos em ações de promoção dos nossos destinos lá e cá
MARCELO FREIXO
Presidente da Embratur
A contrapartida brasileira foi oficializada em Nota à Imprensa divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores em 9 de agosto, “em consonância com o padrão da política migratória brasileira, alicerçada nos princípios da reciprocidade e da igualdade de tratamento entre os Estados”, como indica o texto. A medida reforça uma história de conexões entre os países. Em 2023 celebram-se os 115 anos da chegada dos primeiros imigrantes japoneses no Porto de Santos, em 1908.
IMPULSO — Em 2022, segundo números da Embratur, 17.635 japoneses visitaram o Brasil. O número coloca o país na 24ª posição entre as nações com mais turistas no Brasil no ano passado. Argentina (1,03 milhão), Estados Unidos (441 mil) e Paraguai (308,2 mil) lideram esse ranking. Entre janeiro e junho deste ano, 23,1 mil japoneses entraram no Brasil. A expectativa a partir dessa novidade é que o número possa crescer e ganhar impulso. A Embratur trabalha para retomar a marca de 79.914 turistas japoneses registrados no país em 2019, antes da pandemia.
“A isenção de visto entre Brasil e Japão sem dúvidas facilita a vida dos turistas japoneses que vêm nos visitar. Inclusive a Embratur vai ao Japão em setembro participar de um grande evento com profissionais de turismo de aventura. Também já nos reunimos com o embaixador japonês no Brasil e estamos trabalhando juntos em ações de promoção dos nossos destinos lá e cá”, adiantou o presidente da Embratur, Marcelo Freixo.
A isenção de vistos reforça a nossa ação estratégica para ultrapassar a barreira dos 6 milhões de estrangeiros que visitam anualmente o Brasil e que perdura há anos
CELSO SABINO
Ministro do Turismo
KASATO MARU — De acordo com dados da publicação Comunidades Brasileiras no Exterior – Ano-base 2022 , divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, 4,5 milhões de brasileiros residem no exterior. Desse total, 206.990 vivem no Japão, o que faz do país a quinta nação com mais brasileiros no exterior, atrás apenas de Estados Unidos (1,9 milhão), Portugal (360 mil), Paraguai (254 mil) e Reino Unido (220 mil). O Japão concentra 93% dos 222 mil brasileiros que vivem na Ásia.
Na outra ponta, cerca de 2 milhões de japoneses e descendentes vivem no Brasil, a maior população de origem japonesa fora do Japão. Eles fazem parte de uma história que teve início em 18 de junho de 1908, quando o navio Kasato Maru chegou ao Porto de Santos com os primeiros 793 imigrantes japoneses, abrindo as portas para uma relação entre os dois países que se reflete em vários campos, extrapolando os limites turísticos e culturais.
“Com a isenção de visto, os turistas japoneses terão mais um incentivo para conhecer os atrativos, a cultura, a história e a gastronomia brasileira. Isso reforça a nossa ação estratégica para ultrapassar a barreira dos 6 milhões de estrangeiros que visitam anualmente o Brasil e que perdura há anos”, enfatizou o ministro do Turismo, Celso Sabino.
João Paulo e Vanessa (D) com um casal de amigos diante do monte Fuji, no Japão. Têm planos de voltar em breve. Foto: Arquivo pessoal
PRONTO PARA VOLTAR — Com a nova realidade no horizonte, brasileiros como João Paulo Ribeiro, apaixonado pelo país oriental, avaliam que terão mais facilidade para programar uma visita ao Japão e explorar a cultura ao mesmo tempo milenar e ultra tecnológica.
É um país fantástico. Acho que é menos burocracia para quem quer conhecer o Japão. Não precisar dessa etapa de tirar o visto facilita o planejamento”
JOÃO PAULO
Atleta que sonha voltar ao Japão
“É um país fantástico. Ir ao Japão foi a realização de um sonho. Cheguei a fazer seis anos de japonês para tentar entender e saber me virar lá. O que consegui foi bem pouquinho”, brinca João Paulo, 32 anos. Brasiliense e empresário do ramo de contabilidade, ele viajou ao Japão em maio de 2017 acompanhado da esposa, Vanessa, e de um casal de amigos. A viagem marcou a primeira e única viagem internacional de João Paulo até aqui, mas ele faz planos de voltar.
“Ficamos na área principal de Tóquio e visitamos vários bairros, como Shibuya, Ueno, Harajuku, Shinjuku e Asakusa. Visitamos também Aomori, no norte do Japão, para ver a florada das cerejeiras e para isso pegamos o trem bala, o que foi uma experiência incrível. Essa viagem foi muito intensa, porque, infelizmente, fiquei somente sete dias lá”, recorda.
Para ele, a isenção de visto é uma facilidade importante. “Acho que é menos burocracia para quem quer conhecer o Japão. Não precisar dessa etapa de tirar o visto facilita o planejamento”, diz o brasiliense.
Jéssica Yamada integrou a seleção de tênis de mesa nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021. Intercâmbios ficarão menos burocráticos e mais frequentes.
Foto: Abelardo Mendes Jr. / rededoesporte.gov.br
TREINAMENTO — Para a mesatenista Jessica Yamada, 33 anos, nascida em São Paulo e que defendeu o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, a isenção dos vistos contribui não apenas para o turismo e a cultura, mas beneficia atletas que, como ela, reconhecem o Japão como um dos principais polos de treinamento e intercâmbio.
Como atleta, não ter a necessidade de tirar o visto japonês para ir ao Japão é perfeito, pois o tênis de mesa lá é muito forte. Com isso, teremos mais oportunidades de intercâmbios e de evoluir a modalidade no Brasil
JÉSSICA YAMADA
Atleta do tênis de mesa
“Como atleta, não ter a necessidade de tirar o visto japonês para ir ao Japão é perfeito, pois o tênis de mesa lá é muito forte. Com isso, teremos mais oportunidades de intercâmbios e de evoluir a modalidade no Brasil. Uma das dificuldades para realização de intercâmbios era exatamente o visto”, destaca a atleta.
VISITANTE FREQUENTE — O servidor público Roberto Suguino, que costuma viajar com certa frequência ao Japão e pretende voltar em 2024, também celebrou o acordo. “Antes, a gente tinha que fazer um roteiro pontual, com passagem de ida e volta, onde você ia, qual hotel ia ficar. Uma lista minuciosa. Com essa isenção imagino que vai ficar bem mais tranquilo”, acredita.
A opinião é similar à do cientista político e estudante de História Ricardo Westin, que embarcou no fim de agosto para uma viagem à China e ao Japão, país que vai visitar pela segunda vez. Para ele, a decisão tem potencial de contribuir para o intercâmbio cultural entre os países. “Vai facilitar bastante. A burocracia acaba dificultando. Acho que vai estimular que mais brasileiros viajem ao Japão e que mais japoneses viajem para o Brasil”.
Para Westin, o Japão é fascinante por vários motivos. “Os japoneses fazem questão de preservar as tradições, como o ritual do chá, o budismo, o xintoísmo e os quimonos, e ao mesmo tempo estão sempre buscando e antecipando o futuro, com o trem-bala, os robôs e os carros e edifícios ultramodernos. Além de tudo, eles são bastante atenciosos com os turistas e fazem de tudo para que os visitantes se sintam acolhidos”, elogia.
Camila Nishikawa viveu por 15 anos no Japão e dá aulas de japonês no Brasil. Alunos estão animados para visitar o país asiático. Foto: Arquivo pessoal
TERCEIRA GERAÇÃO — Nascida no Brasil, filha de pai nascido no Brasil e pertencente à segunda geração de imigrantes japoneses no país, Camila Nishikawa, 37, viveu por 15 anos no Japão, dos cinco aos 20 anos. Funcionária da Embaixada do Japão, ela abriu recentemente uma escola que ensina japonês no Brasil e atualmente conta com 17 alunos.
Ela conta que a notícia da isenção de vistos foi recebida com euforia por seus alunos e uma já irá se beneficiar imediatamente da medida. “O objetivo final deles no curso é conhecer o Japão. Essa questão do visto foi muito boa. Eu tenho uma aluna que afirmou que isso até já facilitou para que ela fosse fazer um curso intensivo, que vai melhorar ainda mais o japonês dela. Tenho muito alunos que já conhecem e que querem voltar e isso com certeza vai facilitar os planos”, conta Camila.
“Eu acho muito bom, porque amplia essa relação entre Brasil e Japão. É uma distância tão grande e com burocracia desanima viajar. Para mim, foi uma atitude diplomática muito boa, de ambos os países”, conclui a brasiliense.