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Ágatha sobre mudança no Bolsa Atleta: “É dar direito à atleta de formar família quando fizer sentido, e não só quando se aposentar”
Ágatha com Kahena: direito de escolher quando e como formar uma família. Foto: Vitória Antunes
Dois ícones do esporte brasileiro, a jogadora de vôlei de praia Ágatha Rippel e a ex-jogadora de basquete Janeth Arcain, ambas medalhistas olímpicas e campeãs mundiais, enxergam uma série de benefícios na sanção, na última segunda-feira (3/7), da Lei nº 14.614/2023 , que garante às mulheres grávidas e em fase de amamentação a segurança de continuar se beneficiando do Bolsa Atleta , principal programa de suporte ao esporte de alto desempenho no país e um dos principais do mundo.
É dar à atleta a possibilidade de pensar em ser mãe durante a carreira. Precisamos do corpo para trabalhar. Não tem como escapar disso. Mesmo as que têm patrocínios, quando resolvem engravidar, sabem que a chance é enorme de perderem os apoios nesses períodos”
Ágatha Rippel, campeã mundial e vice-campeã olímpica no vôlei de praia
“Saber que agora as atletas garantem o direito de continuar recebendo o Bolsa Atleta durante a gravidez e puerpério é dar a possibilidade de a atleta pensar em ser mãe durante a sua carreira”, ressaltou a paranaense Ágatha, 40 anos, medalha de prata nos Jogos Rio 2016, campeã mundial em 2015 e tricampeã do Circuito Mundial em 2015, 2018 e 2021, entre dezenas de outros títulos.
A primeira filha dela, Kahena, nasceu em outubro passado e a acompanha mundo afora nas etapas do circuito mundial. Inclusive em Gstaad, na Suíça, de onde concedeu essa entrevista. Eleita esportista do ano e jogadora mais inspiradora do Circuito Mundial em 2018, além de melhor jogadora do Mundial em 2015, Ágatha lembrou as dificuldades que as atletas, mesmo as consagradas, enfrentam ao ser mães durante a carreira.
CORPO E TRABALHO - “Precisamos do corpo para trabalhar. Não tem como escapar disso. A grande maioria não tem patrocínios e o sustento vem de premiações das competições e de programas de apoio público, como o Bolsa Atleta. Mesmo as que têm patrocínios, quando resolvem engravidar, sabem que a chance é enorme de perderem os apoios nesses períodos”, ponderou Ágatha.
Para ela, a mudança no Bolsa Atleta permite, agora, um horizonte mais igualitário. “É dar o direito de a atleta formar sua família no meio da jornada ou quando desejar e fizer sentido para ela, e não só quando se aposentar. Uma situação que vemos com bem menos frequência ser discutida entre homens. Por isso, enxergo que essa lei iguala mais a situação. A mulher, aos poucos, vem ocupando seus espaços de direito. Tenho certeza de que vai beneficiar inúmeras mulheres e trazer condições mais justas e dignas”.
QUASE METADE - A vice-campeã olímpica lembrou, ainda, que a participação das mulheres dentro do contexto do Bolsa Atleta é muito significativa e que a ação do Governo Federal ao sancionar uma lei nesse sentido representa um reconhecimento disso. “Quase metade dos contemplados no Bolsa Atleta são mulheres. É um momento de alinhamento e de fortalecimento da figura da mulher em todos os setores”, afirmou.
Segundo ela, a legislação muda um paradigma. Antes, para muitas, a maternidade era sinônimo de aposentadoria e havia pouco espaço para discussões em torno do tema no ambiente do alto rendimento. “Falávamos e discutíamos pouco sobre isso. Então, ver esse tema sendo abordado na mídia, entre atletas e a sociedade, é benéfico para todas. Com diálogo e informação podemos mudar essa realidade”, concluiu.
Para Janeth Arcain, mudança é uma "proteção importante". Foto: Prefeitura de Votuporanga / Ascom |
PROTEÇÃO – Nascida em São Paulo, a ex-jogadora de basquete Janeth Arcain, hoje com 54 anos, formou, ao lado de Hortência e Magic Paula, o trio de ouro do basquete feminino brasileiro entre os anos de 1980 e 1990. Campeã mundial em 1994, na Austrália, medalha de prata nos Jogos de Atlanta 1996 e bronze nos Jogos de Sydney 2000, Janeth é categórica ao dizer que “o governo acertou com esse benefício”.
Para atletas de alto rendimento isso só vem a beneficiar, não só a esta geração, mas as gerações futuras”
Janeth Arcain, campeã mundial e duas vezes medalhista olímpica no basquete
Para a estrela do basquete, que tem no currículo outro título histórico, o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Havana, em Cuba, em 1991, além de duas pratas na competição, em Indianápolis 1987 e no Rio de Janeiro, em 2007, a lei é uma proteção adicional às atletas.
“Fico muito feliz toda vez que tem algo, principalmente uma lei, que venha beneficiar os atletas. A gente sabe de todo sacrifício, toda a dedicação, ainda mais para as mães, as futuras mães, as gestantes. É uma proteção muito importante. Essa iniciativa é sempre bem-vinda. Vejo que o esporte está tendo uma mudança muito grande e a mulher no esporte, também. Para atletas de alto rendimento isso só vem a beneficiar, não só a esta geração, mas as gerações futuras”, conclui Janeth Arcain.
O PROGRAMA – Em 2023, o Bolsa Atleta atingiu um patamar inédito na história do programa voltado para fomentar o esporte de alto desempenho no Brasil. A lista dos contemplados publicada em 18 de abril trouxe 7.868 atletas , o maior número de atletas desde que os pagamentos começaram a ser feitos, em 2005, quase 20% maior que o do edital de 2022, quando foram contemplados 6.419. Do total de contemplados neste ano, 3.478 são mulheres e 4.390 são homens.
O Bolsa Atleta é voltado para esportistas a partir de 14 anos e é considerado um dos mais completos programas de patrocínio direto do mundo. É dividido em cinco categorias: Base, Estudantil, Nacional, Internacional e Olímpico/Paralímpico, com repasses mensais que variam de R$ 370 a R$ 3.100.
O programa conta ainda com a categoria Pódio, destinada a atletas de elite, posicionados entre os 20 melhores do mundo, que recebem benefícios entre R$ 5 mil e R$ 15 mil mensais. Em 2023, a categoria Pódio contemplou 339 atletas, entre olímpicos e paralímpicos. Na lista, a própria Ágatha Rippel .
A importância do programa é reforçada pelos números alcançados na última edição dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Em Tóquio, em 2021, 80% dos integrantes da delegação olímpica e 95% da paralímpica eram bolsistas. Nas Olimpíadas, o Brasil conquistou 21 medalhas (sete ouros, seis pratas e oito bronzes). Em 19 dos 21 pódios (90,45%), os atletas recebiam o Bolsa Atleta. Já nas Paralimpíadas, foram 72 medalhas (22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes). Os bolsistas representaram 68 dos 72 pódios conquistados: 94,4%.