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CRISE HUMANITÁRIA
Sonia Guajajara: ações do Governo Federal já permitem articular atenção mais próxima ao Povo Yanomami
Ministra na Casa de Saúde Indígena em Boa Vista (RR), ao lado de agentes de campo da Missão Yanomami. Fotos: Leo Otero / ASCom MPI
Depois de uma fase de atenção emergencial em saúde ao Povo Yanomami concentrada em Boa Vista (RR), o Governo Federal se organiza para uma nova vertente do atendimento à crise humanitária. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, detalhou em coletiva de imprensa neste sábado (04) que a restrição do espaço aéreo em Roraima, a opção clara do Governo Federal pela retirada do garimpo e a recuperação da pista de pouso na região de Surucucu vão tornar viáveis abordagens mais próximas da comunidade.
A reestruturação da base aérea no Surucucu vai permitir que pousem lá aviões de maior porte para levar alimentos e infraestrutura. Com isso, será possível montar um hospital de campanha lá. Isso vai facilitar o atendimento e permitir a assistência de forma mais próxima das malocas dentro do território. A partir dessa base do hospital de campanha, vamos distribuir equipes para dentro dos polos bases e reestruturar unidades de saúde que já existem”
Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas
“A reestruturação da base aérea no Surucucu vai permitir que pousem lá aviões de maior porte para levar alimentos e infraestrutura. Com isso, será possível montar um hospital de campanha lá. Isso vai facilitar o atendimento e permitir a assistência de forma mais próxima das malocas dentro do território. A partir dessa base do hospital de campanha, vamos distribuir equipes para dentro dos polos bases e reestruturar unidades de saúde que já existem”, afirmou a ministra.
Segundo Guajajara, é essencial que isso seja feito de forma articulada com outras ações federais, como o estabelecimento de um sistema de comunicação que contemple tanto os profissionais de saúde quanto os próprios povos indígenas. E, principalmente, com a garantia da retirada dos garimpeiros ilegais. Só assim, reforça, haverá condições de segurança e o início do trabalho de recuperação ambiental, já que muitos rios foram deteriorados, o que implicou a morte de animais e aumento exponencial dos casos de doenças, como a malária.
“É preciso combater a raiz, o garimpo ilegal. São 30 mil indígenas convivendo com 20 mil garimpeiros. Não dá para ser assim. No estado de Roraima não há qualquer autorização para exploração de minérios. Tudo o que é garimpo no território Yanomami é ilegal e precisa ser retirado imediatamente. O Governo Federal está organizando ações para a retirada, para a construção de poços artesianos e estruturas de cisternas para captar águas da chuva”, elencou.
Segundo ela, já há relatos de que, em função da restrição do espaço aéreo determinada pelo Governo Federal, muitos dos garimpeiros estariam deixando a região. “Temos relatos de que estão saindo. É bom que saiam. Se começaram a sair, estão corretos. O chamado que estamos fazendo é para isso mesmo. Se saem sem a necessidade de forças policiais e de segurança, melhor”.
Outra frente de trabalho essencial, segundo a ministra, é estabelecer um plano de reconstrução da capacidade dos indígenas de produzir a própria alimentação. Isso envolve a recuperação dos rios e terrenos degradados e uma parceria para formular um plano de produção de alimentos, que envolve entrega de ferramentas, sementes e insumos.
A ministra concedeu a entrevista ao lado de representantes de entidades de proteção aos povos indígenas federais e da região, como Lúcia Alberta, diretora de promoção e desenvolvimento da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Kleber Karipuna, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Edinho Batista, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Ernane Santos, da coordenação do COE local, e Thiago Araújo, apoiador do Distrito de Saúde Estadual Indígena (DSEI) Yanomami.
ATENÇÃO EMERGENCIAL – Nos últimos 15 dias, o Governo Federal garantiu a entrega de mais de 75 toneladas de mantimentos e medicamentos à população Yanomami. O número é referente a 3.785 cestas básicas. O trabalho é coordenado pelo Ministério da Defesa e executado pela Força Aérea Brasileira (FAB), que transporta os suprimentos desde 21 de janeiro, diariamente para aldeias Yanomami – o maior território indígena do país. A montagem, preparação e entrega dos suprimentos fazem parte de um trabalho conjunto com o Exército Brasileiro.
Os kits estão sendo enviados por cinco aeronaves, que realizam os lançamentos aéreos com paraquedas, em função do difícil acesso à região, e helicópteros, em especial o H-60 Black Hawk. Neste período, a FAB viabilizou, também, 37 evacuações aeromédicas com indígenas em situação grave de saúde. Os militares já realizaram mais de 600 atendimentos médicos e acumulam mais de 340 horas de voo em trabalho de ajuda humanitária.
GOVERNO INTEGRADO - Diante de denúncias que vieram à tona no início do ano de um quadro crítico de desnutrição, de dezenas de casos de malária e de insegurança alimentar e social na Terra Indígena Yanomami, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, editou em 20 de janeiro um decreto que cria o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das populações em território Yanomami. Lula esteve em Boa Vista com uma comitiva em 21 de janeiro e determinou a ministros de diversas áreas a adoção de medidas de enfrentamento à crise humanitária.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, assinou uma portaria que declara Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional diante da necessidade de ação urgente. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, determinou a abertura de inquérito policial para apurar o crime de genocídio e crimes ambientais no território indígena. A Polícia Federal ficou responsável por apurar responsabilidades e punir culpados.