Workshop de Fortificação Caseira no Brasil
A fortificação caseira consiste em uma estratégia de prevenção e controle das deficiências de vitaminas e minerais, particularmente da anemia e deficiência de ferro, mediante a adição direta de múltiplos micronutrientes em pó aos alimentos. Esse tipo de estratégia, amplamente estudada por todo o mundo e implementada com sucesso em diferentes continentes, já acumula muitas evidências de eficácia e efetividade e, recentemente, teve essa importância reconhecida em guias específicos da Organização Mundial da Saúde.
Nesse sentido, nos dias 29 e 30 de Setembro, o Ministério da Saúde, em parceria com o Unicef/Brasil, realizou, em Brasília, uma Oficina de Trabalho sobre a Estratégia de Fortificação Caseira no Brasil, na qual se reuniram representantes do Ministério da Saúde, Anvisa e sociedades médicas, pesquisadores brasileiros e internacionais e representantes dos governos do México, Peru e Equador. O principal objetivo da reunião foi conhecer as experiências bem sucedidas de programas de fortificação caseira com micronutrientes em pó e debater os desafios para a implementação da estratégia de fortificação caseira no Brasil.
Dentre os temas discutidos, destacaram-se:
- O cenário nutricional e das políticas de saúde e nutrição para as crianças brasileiras, destacando-se os avanços na redução da desnutrição e o problema de saúde pública representado pela anemia no Brasil;
- A importância dos micronutrientes no desenvolvimento infantil;
- A eficácia, efetividade, segurança e mecanismos de implementação da estratégia de fortificação caseira, tendo em vista as evidências e experiências internacionais;
- As experiências nacionais do Equador, México e Peru, em que se destacaram, como aspectos comuns, a logística da implementação dos programas nacionais e a importância de estratégias de comunicação para profissionais de saúde e do monitoramento e avaliação das iniciativas;
- Os desafios para o planejamento e implementação da estratégia de fortificação caseira no Brasil;
- Os aspectos regulatórios dos múltiplos micronutrientes em pó no Brasil;
- O monitoramento e a avaliação para as estratégias.
Cenário Epidemiológico da Anemia no Brasil
A anemia é considerada um problema de saúde pública nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento e nas últimas décadas, algumas estratégias foram adotadas, porém poucos foram os avanços conquistados na diminuição da prevalência de anemia. A Organização Mundial da Saúde (2008) publicou uma análise da prevalência de anemia no mundo, no período de 1993 a 2005. Em termos globais, essa carência afeta 1,62 bilhões de pessoas. As crianças em idade pré-escolar são as mais afetadas, com prevalência de 47,4% (293 milhões). Estima-se que a prevalência de deficiência de ferro seja 2,5 vezes maior que a prevalência de anemia.
A anemia por deficiência de ferro pode causar efeitos deletérios à saúde da criança, tais como repercussões negativas no desenvolvimento psicomotor e cognitivo, diminuição na capacidade de aprendizagem, e comprometimento da imunidade celular, com menor resistência às infecções. A anemia grave na gestação está associada ao maior risco de morbidade e mortalidade fetal e materna e em casos moderados maior risco a parto prematuro e baixo peso ao nascer.
No Brasil, um estudo de revisão sumariza os resultados de 53 estudos, realizados no período de 1996 a 2007, demonstrou que prevalência mediana de anemia foi de 53,0% em crianças menores de 59 meses. Sendo que as maiores prevalências foram observadas em crianças menores de 24 meses (JORDÃO, et. al, 2009). Outro trabalho realizado com o objetivo estimar a prevalência de anemia em crianças brasileiras segundo diferentes cenários epidemiológicos mostrou que a prevalência de anemia em crianças que frequentam creches/escolas foi de 52,0%, que frequentam serviços de saúde foi de 60,2%, em populações em iniquidades foi de 66,5%, e estudos de base populacional 40,1% (VIEIRA e FERREIRA, 2010).
A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-2006) traçou o perfil da população feminina em idade fértil e das crianças menores de cinco anos no Brasil. Em linhas gerais, a pesquisa revelou prevalência de anemia em crianças de 20,9% e de 29,4% em mulheres. Para crianças, observou-se que a região Nordeste apresenta a maior prevalência (25,5%). A pesquisa aponta maior prevalência de anemia em crianças com idade inferior a 24 meses. Observou-se, ainda, que as crianças moradoras de áreas rurais apresentam menor freqüência de anemia quando comparadas as crianças das áreas urbanas. No caso das mulheres, a prevalência de anemia foi igual a 29,4%, e de aproximadamente 40% na região Nordeste. O mapa da anemia no Brasil, apontado pelos dados PNDS-2006, demonstrou que para as crianças menores de 59 meses a situação é classificada, segundo a OMS, como problema moderado de saúde pública. No entanto, apresenta-se como grave problema de saúde pública em determinadas localidades.
Arquivos Disponíveis para Download
Artigos Científicos
- Dewey KG; Yang Z, Boy E. Systematic review and meta-analysis of home fortification of complementary foods. Maternal & Child Nutrition Volume 5, Issue 4, pages 283–321, October 2009
- De-Regil LM, Suchdev PS, Vist GE, Walleser S, Peña-Rosas JP. Home fortification of foods with multiple micronutrient powders for health and nutrition in children under two years of age. Cochrane Database Syst Rev. 2011 Sep 7;9
- Jordão RE, Bernardi JLD, Barros Filho AA. Prevalência de anemia ferropriva no Brasil: uma revisão sistemática. Prevalence of iron-deficiency anemia in Brazil: a systematic review. Revista Paulista de Pediatria 27(1): 90-8, 2009
- Vieira RCS, Ferreira HS. Prevalência de anemia em crianças brasileiras, segundo diferentes cenários epidemiológicos. Prevalence of anemia in Brazilian children in different epidemiological scenarios. Revista de Nutrição vol.23, no.3. 2010
Apresentação 1º Dia ( 29/09/2011 )
- Proyecto Alimentario Nutricional Integral - PANI
- Cenário Nutricional das Crianças Brasileiras
- Efficacy, Effectiveness and Safety of home fortification and mechanisms of implementation
- Interfaces da fortificação caseira nas atuais políticas nacionais de nutrição e nos programas de saúde materno-infantil
- Comisión Nacional de Protección Social en Salud
- Importância dos micronutrientes para a Saúde da Criança
- Estrategia de Suplementación Multimicronutrientes Perú
Apresentação 2º Dia ( 30/09/2011 )
- Consideraciones para el Desarrollo de Estrategias de Comunicación Exitosas
- Introduction to impact evaluation of home fortification interventions
- Principles, frameworks and indicators for a monitoring system for home fortification of foods with Multiple Micronutrient Powders
- Desafios para Planejar e Implementar Programa Efetivo de Fortificação Caseira: Estratégia em Construção na Atenção Primária à Saúde
- Efetividade da fortificação caseira com vitaminas e minerais na prevenção da deficiência de ferro e anemia em crianças menores de um ano: estudo multicêntrico em cidades brasileiras
- Multivitamínicos Minerais - Regulamentação no Brasil
- Maternal Knowledge and Use of a Micronutrient Supplement Was Improved with a Programmatically Feasible Intervention in Mexico
- Facilitadores y barreras para el consumo del complemento alimenticio del Programa Oportunidades
Agenda
- Agenda Household Fortification Brazil
- Agenda Taller Estrategia Fortificacion Casera Brasil
- Agenda Workshop Estratégia Fortificação Caseira Brasil
* Papas de fruta: frutas amassadas ou raspadas; * Papas salgadas: expressão utilizada por ser conhecida e de fácil tradução para os pais na orientação da composição da dieta da criança. O objetivo do uso do termo “salgada” não é adjetivar a expressão, induzindo ao entendimento de que a papa tenha muito sal ou seja uma preparação com utilização de leite acrescido de tempero/sal.
Será seguida a rotina de acompanhamento das crianças, conforme estabelecido nos modelos de atenção básica à saúde.
Seguimento - Três meses após a intervenção
Questionário sobre perfil de saúde, alimentação e nutrição da criança desde o recrutamento, aceitação e adesão ao uso do sache e possíveis efeitos colaterais.
Grupo focal com pais/responsáveis e com profissionais da saúde sobre adesão à estratégia.
Grupo Controle
• População:
Crianças de 12 a 14 meses atendidas na rotina vigente de puericultura.
• Método:
Aplicação de questionário sobre condições socioeconômicas, demográficas, maternas e familiares, morbidades, alimentação e nutrição da criança.
Aferição de medidas antropométricas da mãe e da criança.
Avaliação bioquímica.
Avaliação Final
A avaliação da efetividade e impacto da intervenção será realizada pela comparação do grupo controle com o grupo intervenção após seis meses do início do estudo. Ambos os grupos terão entre 12 e 14 meses de idade. Os grupos também serão estratificados por modelo de atenção básica à saúde.
Contatos
Coordenação Geral:
Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde.
Faculdade de Saúde Pública.
Universidade de São Paulo
email: marlyac@usp.br
Centro Goiânia:
Faculdade de Nutrição
Universidade Federal de Goiânia
email: clarethadler@uol.com.br; mrg.peixoto@uol.com.br
Centro Olinda:
Departamento de Nutrição
Universidade Federal de Pernambuco
email: lirapic@ufpe.br; leopoldinasa@hotmail.com
Centro Rio Branco:
Centro de Ciências da Saúde
Universidade Federal do Acre
email: pascoaltorres@uol.com.br
Centro Porto Alegre:
Departamento de Nutrição
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
email: marciavitolo@hotmail.com; danielact@ufcspa.edu.br