Os Romani – os assim chamados ciganos – são um povo de origem desconhecida. A teoria mais aceita atualmente os identifica como um grupo originário da Índia, membros de uma casta militar. Por volta do ano 1000, teria iniciado uma grande diáspora em razão de uma série de invasões islâmicas ocorridas na Índia que resultou numa suposta rota migratória, inicialmente em direção à Ásia Menor e, posteriormente, para os Bálcãs e Europa Ocidental.
No Brasil, existem três grandes grupos que compõem os povos ciganos: os Rom, os Sinti e os Calon. Estão distribuídos em todos os estados da Federação e no Distrito Federal, desde os endereços mais sofisticados até as periferias das grandes cidades. Muitos deles ainda estão voltados às atividades itinerantes tradicionais da cultura cigana, mas já se observa um número crescente de profissionais atuantes em outras áreas, como saúde, educação, direito e artes em geral.
No Brasil, cerca de 800 mil a um milhão de pessoas se identificam como ciganos, de acordo com IBGE. Os estados da Bahia, Minas Gerais e Goiás apresentam as maiores concentrações dos assentamentos ciganos. Segundo levantamento realizado pelo IBGE, em 2011, os acampamentos que existem no Brasil a partir das informações fornecidas por gestores municipais, de acordo com esses dados 849 cidades brasileiras possuem acampamentos. A maioria deles (372) está em 293 municípios do Nordeste. Na região Sudeste, Minas Gerais é o estado com maior número: 175 acampamentos em 127 cidades mineiras. A historicidade do deslocamento dos povos ciganos no Brasil apontam para uma chegada inicialmente pelo Estado da Bahia, a primeira capital colonial do Brasil, a partir dali tinham migrado para o Estado de Minas Gerais. Os demais fluxos migratórios são múltiplos.
“Na verdade, são várias culturas, como são povos diferentes. Há uma tendência a generalizar, assim como a palavra indígena, ou índio, ou a palavra negro esconde vários povos com línguas e costumes diversos sob um mesmo nome. Os povos ciganos também são assim, então a gente tem culturas e identidades diferentes, algumas coisas são semelhantes ao ponto de serem chamados ciganos”, explica Aluízio, Aluízio de Azevedo Silva Junior é cigano Kalon ,doutor pelo Programa de Pós-graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/ICICT) da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz, 2014-2018).
Aluízio nos aponta ainda que o histórico de perseguição e racismo é comum a todos os grupos de ciganos, independentemente do estado ou do país, que faz com que muitos não assumam sua ascendência publicamente e não procurem equipamentos públicos do Sistema Único de Saúde (SUS) e a rede pública de ensino, por medo de represália. Outro aspecto dos povos ciganos é acerca do nomadismo, que teria surgido nos povos ciganos surgiu não por uma característica da própria cultura, mas foi incorporada em decorrência de políticas de expulsão em diversos países ao longo da história. Porém, por um movimento que ocorre, há 40 anos, a maioria opta por residências, ou em acampamentos fixos, ou pequenas comunidades. Os nômades representam 10 a 15% das comunidades, ou seja, o conceito mais correto atualmente seria viajante ou itinerante, pois têm uma residência fixa, viajam por algum tempo em uma rota pré-determinada, e voltam.
Deve-se ter como premissa o respeito, a diversidade cultural e o modo de vida dessa população que apresenta saberes próprios, como a organização de sua comunidade. O trabalho na comunidade deve considerar as especificidades de cada etnia cigana e de sua regionalidade.
Preconiza-se que os povos ciganos sejam assistidos na Atenção Primária e Atenção Especializada do Sistema Único de Saúde conforme assegura a Constituição Cidadã de 1988. Ressaltando-se especificidades étnicas e culturais de modo que o acesso à saúde ocorra com respeito a esses critérios, ocorra com a garantia da equidade.
Ações em Curso
- Revisão da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani;
- Monitoramento da implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani em território Nacional, efetivação dos direitos;
- Revisão e atualização dos materiais que subsidiam a saúde dos Povos Ciganos, tais como a Cartilha Subsídios para o Cuidado à Saúde do Povo Cigano;
- Mapeamento interministerial e intraministerial de secretarias e coordenações afins às pautas dos Povos Ciganos para elaboração de estratégias de fortalecimento intersetorial;
- Mapeamento e articulação com os movimentos sociais representativos dos Povos Ciganos no Brasil para escuta e coleta de reivindicações acerca da saúde dos Povos Ciganos;
- Participação nas principais agendas de Luta dos Povos Ciganos para escuta de demandas e reivindicações em saúde.