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SEMS/RJ
Setembro Amarelo
Quando questionada sobre a expectativa de ser avó, os olhos de Débora da Silva* brilham. Em seguida, ela tenta disfarçar o sorriso e depois verbaliza uma preocupação em como será a criação “desses meninos no mundo de hoje”. Seus planos para o futuro, no ano de 2021, contrastam com sua tentativa de suicídio em outubro de 2009. Naquela época, embora não tenha recebido o diagnóstico de um profissional de saúde, apresentava sinais de depressão: “Sentia uma tristeza muito profunda. Fui ficando desanimada e perdendo peso. Chegou um momento que, apesar de amar muito meus filhos, achei que as pessoas seriam mais felizes se eu fosse embora”, recordou.
Com 1,70 m de altura, Débora chegou a pesar 49 quilos. Sentiu que estava precisando de ajuda e compartilhou a situação com seus familiares. Empresário, o marido concluiu que os sintomas dela eram reflexo da inveja de outras pessoas e levou a esposa para um culto religioso. “Um rapaz apertou minha cabeça com força e pressionava para baixo, falando algumas coisas no microfone. Eu, já muito magra, quase caí no chão. Saí de lá correndo”, afirmou.
Segundo ela, em 2009 havia pouca divulgação dos canais de atendimento para quem passa por ideações suicidas. “Hoje em dia, sempre vemos na televisão, ou nas redes sociais, indicações sobre como procurar ajuda. Mas, antigamente, não se ouvia falar muito nisso”, explicou ela. Para as pessoas que estão em crise, o Centro de Valorização da Vida (CVV) disponibiliza a ajuda de especialistas durante 24 horas. Basta ligar para o telefone 188 ou acessar o chat do portal https://www.cvv.org.br/ .
Se tem vida, tem jeito
Débora da Silva revelou como foram os momentos que se seguiram após a sua atitude extrema: “O arrependimento vem segundos depois. Logo em seguida você pensa por que foi fazer aquilo. No hospital, quando vi minha filha, já lamentava o que tinha feito”.
A recuperação física foi bastante sofrida, mas, para ela, foi o marco que alterou o seu quadro psíquico. “Percebi o quanto minha família me amava e como eu sou importante para eles. Eu recebia cartinhas de amor do meu filho e vi minha filha feliz por eu estar viva. Tinha 43 anos, na época, e nunca tinha passado um Natal longe dos meus pais e nem dos meus filhos”.
Durante seu tratamento, ela precisou ser novamente internada no dia 18 de dezembro de 2009. “Mas pedi ao médico para voltar só no dia 26, só para passar o Natal com a minha família”, relembrou.
Psicóloga do HFA participou da recuperação
A empresária conta como foi importante a ajuda dos profissionais de saúde em sua recuperação. Umas das pessoas mais citadas por ela é a psicóloga Iole Dielle de Carvalho (foto), do Hospital Federal do Andaraí (HFA). “Quando o tempo de internação é longo, consigo criar vínculos significativos com alguns pacientes. É uma vitória quando vemos que eles estão seguindo bem as suas vidas”, contou Iole.
É o caso de Débora: “Hoje eu me amo muito. Não vejo a hora de acabar a pandemia para voltar a fazer minhas viagens”, programa-se. E, para quem enfrenta os mesmos problemas que ela passou, é possível buscar o atendimento telefônico ou do chat no portal do CVV. No estado do Rio de Janeiro, também é possível comparecer às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ou ligar para o Corpo de Bombeiros no telefone 193.
*O nome da personagem real foi substituído por um nome fictício
Empresária que sobreviveu à tentativa de suicídio hoje faz planos para o futuro
Por Antonio Vianna