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SEMS/RJ
Quando procurar ajuda?
No Brasil, o mês de setembro é dedicado à prevenção ao suicídio. Muitas campanhas são desenvolvidas sobre o tema, quando são divulgados os
principais canais de apoio para quem precisa. Mas como saber se chegou o momento de procurar ajuda? Para o psicóloga Jaqueline Ferreira da Silva (foto), do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), não existe uma condição prévia que possa ser aplicada a qualquer pessoa. “O que caracteriza a busca por um profissional é o reconhecimento de algum sofrimento, algum impasse na vida, que pode, inclusive, ser apontado por quem convive”, explicou.
A psicóloga alerta que procurar resolver o problema, com base apenas nos sintomas, pode ser uma armadilha. “Na psicanálise, trabalhamos a partir das singularidades. Não fazemos generalizações a partir de fenômenos sintomáticos”, afirmou Jaqueline da Silva. Deste modo, não se recomenda procurar um diagnóstico por meio da inserção de palavras-chave em portais de busca, prática que é muito comum atualmente.
Síndrome de Borderline
Um exemplo do perigo desse “diagnóstico” virtual é a Síndrome de Borderline. Quando se digita sintomas como instabilidade contínua no comportamento, no humor ou na autoimagem, os sistemas de pesquisa na internet mostram como resposta esse transtorno de personalidade: “Borderline é uma categoria da psiquiatria que descreve uma determinada sintomatologia. O termo ‘borderline’ seria algo no limite entre a neurose e a psicose. Mas, para a psicanálise, não existiria nada na borda entre uma ou outra estrutura psíquica. Ou se trabalha com a hipótese de neurose ou com a de psicose”, esclareceu a psicóloga do HFSE.
Entretanto, a pessoa que passa por um processo de crise, que pode vir a se desdobrar numa tentativa de suicídio, não precisa definir seus sintomas antes de procurar auxílio de um profissional. “O autodiagnostico é o que menos importa na hora de buscar tratamento”, ressaltou Jaqueline.
CVV disponibiliza ajuda por 24 horas
Quando não for possível ter certeza de que sua condição necessita de atendimento, vale escutar a opinião das pessoas ao seu redor. “Pode acontecer de a pessoa não se dar conta do seu sofrimento psíquico ou naturalizar, achando que ‘vai passar’. Então, é importante escutar quem está próximo, pois outras pessoas podem perceber que você não está bem”.
Para as pessoas que estão em crise, o Centro de Valorização da Vida (CVV) disponibiliza a ajuda de especialistas durante 24 horas. Basta ligar para o telefone 188 ou acessar o chat do portal https://www.cvv.org.br/. No estado do Rio de Janeiro, também é possível comparecer às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ou ligar para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192.
As estruturas psíquicas da Psicanálise
Os estudos da psicanálise buscam estabelecer uma estrutura psíquica para cada paciente. Resumidamente, estas estruturas se dividem em neurose, psicose e perversão. No entanto, estas divisões servem para auxiliar o trabalho do psicólogo. O objetivo não é definir um diagnóstico. “A estrutura psíquica vai sendo esclarecida durante o tratamento e não pela descrição dos sintomas. Por isso, muitas vezes o quadro descrito como Borderline se configura como uma psicose não desencadeada”, avaliou Jaqueline Ferreira da Silva.
A psicóloga do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) explica que “ainda que o paciente não apresente um quadro clássico da psicose, fica difícil um diagnóstico diferencial entre neurose e psicose, até mesmo porque também existem neuroses muito graves, que se confundem com a psicose. Por isso, na minha clínica eu não trabalho apoiada com essa categoria diagnóstica. Mas existem excelentes psicólogos que abordam a Síndrome de Borderline”, finalizou.
Antonio Vianna