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Marcela Leal, psicóloga do PAS, fala sobre os desafios da profissão durante a pandemia de Covid-19
Psicóloga Marcela Leal
Lidar com os sentimentos, traumas e crises, além de estudar e orientar o ser humano, nunca foi ou será fácil. Precisa-se de muito estudo, dedicação e amor a profissão. E para isso, o profissional de psicologia atua com maestria.
No Brasil, o Dia do Psicólogo é comemorado em 27 de agosto, dia em que o presidente João Goulart, em 1964, sancionou a Lei nº 4.119, que regularizou a profissão. Porém, somente em 2016, sob a Lei 13.407/16, que foi oficializada esta data como Dia do Psicólogo.
Para lembrar a data, convidamos a psicóloga do setor de Promoção e Atenção à Saúde do Servidor (PAS), Marcela Leal, para falar um pouco sobre um dos maiores desafios para a psicologia atualmente: a saúde mental em meio a pandemia de Covid-19.
1) Como a pandemia de Covid-19 tem afetado a saúde mental dos servidores?
Marcela Leal: É uma pergunta difícil de ser respondida, pois cada pessoa lida de uma forma própria, particular com eventos como esse. Mas é claro que um cenário pandêmico tende a tornar as pessoas mais suscetíveis a desequilíbrios de ordem emocional como crises de pânico, depressão, ansiedade e até mesmo quadros psicóticos.
- Alguns fatores que podem tornar nossos trabalhadores mais vulneráveis ao surgimento de uma doença mental são:
- Medo de se expor ao vírus no deslocamento para o trabalho e também no próprio setor;
- Receio de sofrer algum tipo de violência ao sair do prédio, no final do expediente, pois houve uma diminuição considerável na circulação de pessoas pelas imediações do prédio;
- O próprio distanciamento físico;
- Servidores licenciados, especialmente os que fazem parte dos grupos de risco, inseguros com a possibilidade de retorno ao trabalho;
- Excesso de exposição a telas;
- Acúmulo de tarefas (atividades do trabalho, cuidados com a casa e, em boa parte dos casos, com os filhos), devido a falta de rede de apoio;
- Atividades de lazer reduzidas;
2) Como o isolamento social tem afetado a saúde mental dos servidores no trabalho?
Marcela Leal: Cada pessoa responderá de uma forma ao isolamento, mas somos seres sociais e esse contato com o outro é importante para a regulação do nosso humor, para a manutenção da nossa saúde mental.
Em condições normais, fora de um contexto pandêmico, quando percebemos que uma pessoa começa a se isolar, já ligamos o sinal de alerta. Procuramos observar se houve alguma mudança no comportamento da pessoa, se ela está com o humor mais rebaixado, mais quieta, calada ou impaciente.
Imagine então no caso em que a pessoa se vê tendo que se isolar por uma motivação externa? Tendo que se manter distante de parentes e amigos quando na verdade queria estar perto? Aí é que precisamos ligar o sinal de alerta mesmo, especialmente quando a pessoa não coabita com ninguém. No entanto, o fato de dividir um lar também pode ser motivo de estresse para muitos, pois, pode ser difícil encontrar momentos de privacidade, de estar só consigo mesmo.
3) Qual o trabalho desenvolvido pelo PAS para que os servidores possam preservara saúde mental na pandemia?
Marcela Leal: O PAS tem mantido, desde o início da pandemia, os serviços oferecidos pela equipe interdisciplinar de saúde mental do Espaço de Escuta Técnica Qualificada (EETQ), de forma remota, acompanhando casos de trabalhadores em sofrimento diretamente ou não ligado ao trabalho. Os acolhimentos, por chamada de vídeo, são realizados mediante agendamento feito por telefone ou e-mail.
4) E o que as pessoas podem fazer para lidar melhor com toda essa situação e com o excesso de notícias ruins?
Marcela Leal: Se manter informado é importante, selecionar alguns jornais, não ficar submerso nesse excesso de notícias. Procurar se envolver com atividades que sejam prazerosas e saudáveis, como: ler um livro, praticar uma atividade física, fazer experimentos na cozinha, desenvolver trabalhos manuais e meditar.
A psicoterapia também pode ser muito bem-vinda nesse momento. Com muita frequência, a equipe do EETQ sugere psicoterapia ao trabalhador que a procura por entender que ele se beneficiaria desse processo. Mesmo com a pandemia, é possível encontrar bons psicólogos. A maioria deles tem atendido de forma remota.
Quanto às perdas de familiares e conhecidos, é importante que a pessoa viva o luto, a saudade dos que se foram. Negar a perda não diminui a dor, pelo contrário, a dor represada pode evoluir para um transtorno mental se não for vista, se não for trabalhada.
5) Como lidar com transtornos como a ansiedade durante a pandemia e que exercícios podem ser feitos para minimizá-los?
Marcela Leal: Pessoas que sofrem de ansiedade podem recorrer a uma psicoterapia e, em casos mais graves, ao acompanhamento com um médico psiquiatra. Atividade física e práticas meditativas também são ótimas aliadas na regulação de humor e no controle da ansiedade.
Sobre o Programa Café com Escuta
O Espaço de Escuta Técnica Qualificada (EETQ), do PAS, também coordena o Programa Café com Escuta, que nasceu durante a pandemia, com o objetivo de criar um ambiente acolhedor de troca entre os colegas, de fala e de exercício da escuta empática. Esse programa consiste em encontros semanais sobre temas diversos que ocorrem de forma híbrida (alguns participam de seu próprio setor, outros de casa e outros da sala multiuso disponibilizada pelo DATASUS).
Procuramos criar um clima bem descontraído para esses encontros como se fosse uma reprodução da hora do cafezinho em que os colegas costumavam se encontrar para conversarem sobre assuntos de seus interesses.
Os encontros do Café com Escuta têm acontecido as sextas-feiras, às 11h, e possuem duração de uma hora. Para participar, basta acessar o link da sala do café (https://bit.ly/3gsmiZM) esse horário.
Por Thiago Tostes