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A Tricosporonose é uma infecção fúngica causada pelo gênero Trichosporon. O gênero Trichosporon corresponde aos fungos pertencentes ao filo Basidiomycota, predominantemente leveduriformes, normalmente associados a infecções cutâneas como piedra branca. Nos últimos anos, esses fungos vêm se destacando como importantes patógenos oportunistas em infecções sistêmicas, atingindo principalmente em pacientes imunocomprometidos, sobretudo em indivíduos com doenças hematológicas malignas, transplantados, principalmente de medula óssea, pacientes em uso prolongado de corticosteroides, indivíduos que realizaram cirurgias de válvulas cardíacas e pacientes infectados pelo vírus HIV.
A denominação Trichosporon é uma derivação do grego, onde “trichos” significa cabelo e “sporon” representa esporos. Esta nomenclatura está relacionada à presença de nódulos claros e irregulares ao longo do cabelo, comum nos quadros de piedra branca. Piedra branca é uma infecção crônica da cutícula dos pelos das axilas, barba, bigode, áreas genitais e couro cabeludo, caracterizada pela presença de nódulos de coloração branca e amarela.
O gênero Trichosporon apresenta seis espécies de interesse médico que incluem: T. asahii, T. mucoides, T. cutaneum, T. inkin, T. asteroides, T. ovoides (Servonnet et al., 2010). Destes T. asahii e T. mucoides estão envolvidos em infecções sistêmicas, enquanto T. asteroides, T. ovoides e T. cutaneum, são responsáveis por piedra branca e outras infecções superficiais. A espécie, T. inkin, é responsável tanto por infecções superficiais como sistêmicas, que a espécie mais comumente isolada é de Trichosporon asahii, responsável por 90% dos casos.
Causas: Leveduras do gênero Trichosporon são encontradas naturalmente no meio ambiente (solo, água e madeiras em decomposição), predominantemente em zonas tropicais e temperadas. Essa levedura faz parte da microbiota permanente do trato gastrointestinal e também da microbiota transitória da pele, mucosa orofaríngea e trato respiratório superior em humanos. Uma vez que as espécies de Trichosporon fazem parte da microbiota humana, e mediante alteração do estado imunológico do paciente, esses fungos podem causar infecções oportunistas.
Além de fazer parte da microbiota normal humana, a espécie foi isolada em fômites hospitalares, o que reforça a hipóteses de transmissão horizontal do microrganismo. Os principais locais de acometimento pela Tricosporonose são os tratos respiratório, gastrintestinal e urinário conhecido como locais frequentes de colonização e posterior disseminação hematogênica. Algumas espécies do gênero Trichosporon apresentam grande capacidade de formação de biofilmes em dispositivos invasivos, como nos cateteres venosos centrais, cateteres vesicais e dispositivos médicos de uso prolongado.
Além destes dispositivos servirem como porta de entrada do microrganismo, a colonização da pele e do trato gastrointestinal atuam como reservatório desses patógenos.
Acredita-se que não ocorra transmissão destas leveduras de homem a homem, revelando assim, a importância da interação entre o estado imunológico do paciente como imunossuprimidos, oncológicos e hematológicos e os fatores predisponentes para doença.
Os sinais e sintomas clínicos desta doença não são específicos e depende do local anatômico da infecção. Nas fungemias por Trichosporon podem ser observadas febre persistente e neutropenia com frequente disseminação para os pulmões, rins, pele e outros órgãos.
O diagnóstico é clínico e laboratorial. O diagnóstico das infecções ocasionadas por Trichosporon é raramente suspeitado, até que seja isolado do sangue, urina ou lesão cutânea. O diagnóstico laboratorial baseia-se no exame micológico direto ou culturas provenientes das amostras clínicas de sangue, urina, lavado bronco alveolar, unhas, pele, mucosa vaginal e anal, couro cabeludo, tecidos, entre outros.
Também é realizado exame histológico da biópsia da lesão cutânea, que pode ser uma ferramenta útil para o diagnóstico da doença, porém, a manifestação dessas lesões pode ocorrer de forma tardia, adiando o tratamento.
O diagnóstico e tratamento adequado é sem dúvida um parâmetro importante para os pacientes com Tricosporonose. Os principais antifúngicos prescritos para o tratamento da doença são as formulações lipídicas de anfotericina B, voriconazol, 5-flucitosina e posaconazol.
Alguns autores recomendam tratamento combinado. Cabe salientar que diversos trabalhos mostraram que a anfotericina B, a 5-flucitosina e o itraconazol não foram ativas, de forma isolada, frente a Trichosporon.
O complexo lipídico de anfotericina B e o itraconazol são medicamentos antifúngicos disponíveis no estoque estratégico do Ministério da Saúde, dispensados pela área técnica de Vigilância e Controle das Micoses Sistêmicas, desde 2008.
O atendimento à solicitação desses antifúngicos decorre do preenchimento da ficha de solicitação de medicamentos antifúngicos para tratamento de pacientes com micoses sistêmicas endêmicas oportunistas, como a Tricosporonose, além da comprovação da infecção fúngica em atividade (diagnóstico laboratorial recente) e resultado da sorologia para HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana).
Os indivíduos com suspeita da doença devem procurar atendimento médico, preferencialmente um infectologista ou dermatologista, para investigação etiológica, diagnóstico e tratamento correto e o mais rápido possível, visando impedir a evolução da doença.
As micoses invasivas são problemas importantes para as unidades hospitalares, pois requerem a distinção dos fatores relacionados ao hospedeiro ou ambientais, que predispõem o paciente às infecções oportunísticas. Acredita-se que não ocorra transmissão destas leveduras de homem a homem, revelando assim, a importância da interação entre o estado de portador e fatores predisponentes ao estabelecimento da doença.
Espécies de Trichosporon já foram isoladas em salas de limpeza de equipamentos de artigos médicos hospitalares, lavatórios de pacientes e fômites, sendo assim, recomenda-se adesão às diretrizes apropriadas de desinfecção hospitalar proposto pelas CCIH.
É fundamental a realização do exame físico pelos profissionais de saúde (médicos e enfermagem), buscando avaliar o corpo do paciente através de sinais e sintomas na região do couro cabeludo, a axila e a região pubiana, em virtude de o microrganismo se alojar em regiões íntimas do corpo.
As micoses endêmicas não integram a lista nacional de doenças de notificação compulsória no Brasil. Elas também não são objeto de vigilância epidemiológica de rotina, com exceção dos estados brasileiros que instituíram essa notificação de iniciativa do seu âmbito de gestão. Por isso, não existem dados epidemiológicos da ocorrência, magnitude e transcendência da Tricosporonose em nível nacional.