A paracoccidioidomicose (PCM) é a principal micose sistêmica no Brasil. Essa doença representa uma das dez principais causas de morte por doenças infecciosas e parasitárias, crônicas e recorrentes, no país.
Causa: ela é causada por um fungo termodimórfico, do gênero Paracoccidioides spp., com destaque para duas espécies patogênicas: Paracoccidioides brasiliensis (P. brasiliensis) e Paracoccidioides lutzii (P. lutzii). Esses fungos estão dispersos no meio ambiente.
Transmissão
A exposição ao fungo está relacionada com o manejo do solo contaminado, como em atividades agrícolas, terraplenagem, preparo de solo, práticas de jardinagem, transporte de produtos vegetais, entre outras. A maioria dos indivíduos que adoeceram com a PCM apresenta história de atividade agrícola exercida nas duas primeiras décadas de vida. Hábitos como tabagismo e etilismo também são considerados fatores de risco frequentemente associados à micose, e ao agravamento do seu quadro clínico.
Não existe transmissão inter-humana do fungo Paracoccidioides spp., nem de animais ao homem. No entanto, os indivíduos estão expostos ao risco por inalação de propágulos infectantes, dispersos no solo. A principal porta de entrada do fungo no organismo é por via inalatória. Os órgãos comumente afetados são os pulmões (50%-100%), seguidos da pele, mucosas, linfonodos, adrenais, sistema nervoso central, fígado e ossos.
Sintomas
As principais formas clínicas da doença são:
- Forma aguda ou subaguda (tipo juvenil): a progressão das lesões primárias evolui rapidamente, de semanas a meses. Essa forma clínica é considerada grave, devido a elevadas taxas de letalidade em crianças e adolescentes. Os sinais podem se manifestar como hipertrofia do sistema retículo endotelial e acometimento generalizado de linfonodos, que geralmente fistulizam (se rompem). O fungo pode se disseminar para outros órgãos ou sistemas como pele, ossos e sistema gastrintestinal, além do fígado, baço e medula óssea;
- Forma crônica (tipo do adulto): responsável pela maioria dos casos de PCM, com prevalência de 74% a 96%. Os indivíduos entre 30 e 60 anos de idade e do sexo masculino são os mais acometidos por essa doença. Essa forma clínica manifesta-se de forma mais lenta, com duração da sintomatologia entre quatro a seis meses, inclusive acima de um ano. O comprometimento pulmonar está presente em 90% dos indivíduos. Os pulmões, a mucosa das vias aerodigestivas superiores e a pele são os locais mais acometidos pela PCM;
- Forma residual: também chamada “sequelas”, manifesta-se clinicamente com alterações anatômicas e funcionais causadas pelas cicatrizes que se seguem ao tratamento da PCM. As sequelas podem ser observadas em vários órgãos, com maior frequência nos pulmões, pele, laringe, traqueia, glândulas adrenais, mucosa das vias aerodigestivas superiores, sistema nervoso central e sistema linfático.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico e laboratorial. A confirmação laboratorial é feita pelo achado do fungo em materiais clínicos (secreções e tecidos), em forma de levedura com ou sem gemulação e cultura específica. A sorologia e a histopatologia também são consideradas na confirmação diagnóstica da PCM. Exames complementares, como hemograma, provas bioquímicas e exames de imagem podem auxiliar o diagnóstico.
Como diagnóstico diferencial, cita-se a investigação laboratorial para tuberculose, hanseníase, leishmaniose tegumentar, sarcoidose, neoplasias (linfomas e câncer de laringe) e outras micoses sistêmicas, como a histoplasmose, a criptococose e a coccidioidomicose.
Controle
Não há medida de controle disponível. Deve-se tratar os doentes precoce e corretamente, visando impedir a evolução da doença e suas complicações. Ainda não existem vacinas para a prevenção da PCM. Recomenda-se, tanto no ambiente rural como no periurbano, evitar a exposição à poeira originada de escavação do solo, de terraplanagem e de manipulação de vegetais.
Para os trabalhadores rurais e motoristas de trator constantemente expostos à poeira mais densa, particularmente os que fazem a coleta manual, limpeza (abano) e varrição do café, é presumível que evitar a exposição com máquinas de cabine bem vedada ou máscaras protetoras tipo N95 (quando disponíveis) possa proteger da infecção por Paracoccidioides spp. Aconselha-se evitar a exposição de crianças e indivíduos imunodeprimidos a situações de risco em zona rural. Em laboratórios, a manipulação de isolados do fungo, sempre que possível, deve ser feita em capela de segurança, principalmente de cultivos na forma de micélio.