Situação Epidemiológica
No mundo
A oncocercose ocorre principalmente em áreas tropicais (Figura 1). Mais de 99% das pessoas infectadas vivem em 31 países da África subsaariana: Angola, Benin, Burkina Faso, Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Chade, República do Congo, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, República Equatorial Guiné, Etiópia, Gabão, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Quénia, Libéria, Malawi, Mali, Moçambique, Níger, Nigéria, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Sudão do Sul, Sudão, Togo, Uganda, República Unida da Tanzânia.
Entre 1974 e 2002, a oncocercose foi controlada na África Ocidental utilizando principalmente o controle vetorial, suplementado pela administração da ivermectina em larga escala desde o ano de 1989.
Nas Américas
O Programa de Eliminação da Oncocercose das Américas (OEPA) começou em 1992 com o objetivo de eliminar a morbidade ocular e a interrupção da transmissão nas Américas até 2015 por meio de um tratamento massivo em grande escala com ivermectina. Todos os 13 focos dessa região alcançaram uma cobertura de mais de 85% em 2006, e a transmissão foi interrompida em 11 dos 13 focos até o momento. Os esforços de eliminação estão agora concentrados na população da Terra Yanomami no Brasil e na República Bolivariana da Venezuela.
A Colômbia foi o primeiro país do mundo a ser verificado e declarado livre de oncocercose pela OMS. Em 5 de abril de 2013, o diretor-geral da OMS publicou uma carta oficial confirmando que a Colômbia alcançou a eliminação da oncocercose, seguido por Equador em setembro de 2014, México em julho de 2015 e Guatemala em julho de 2016. Nesses países o tratamento coletivo foi interrompido, mas ainda se mantem os trabalhos de vigilância pós eliminação (Figura 2).
Em 2016 a OPAS publicou uma nova resolução CD55.R9, para todas as enfermidades infecciosas desatendidas, entre elas a oncocercose, com a meta de eliminação para o ano de 2022.
No Brasil
A área endêmica no Brasil está restrita à Terra Indígena Yanomami em área fronteiriça com a Venezuela, na região norte do país, nos estados do Amazonas e Roraima (Figura 3).
A partir de 1993, a Fundação Nacional de Saúde (FNS) assumiu a coordenação do Programa Brasileiro de Eliminação da oncocercose (PBEO) e passou a executar trabalhos de campo com vistas à caracterização epidemiológica do foco no Brasil, bem como planejar e implementar atividades profiláticas.
Devido à grande mobilidade dos indígenas, o monitoramento e registro individual do tratamento é constantemente atualizado e computado por comunidades indígenas. Atualmente o PBEO está sob a gerência da Coordenação-Geral de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial (CGZV) na SVS.
Atualmente a oncocercose está em fase de pré-eliminação. Não há registros de casos sintomáticos no Brasil entre o período de 2000 a 2018. Apenas uma proporção de portadores assintomáticos de microfilárias na pele, com baixas densidades da parasitemia detectada nas áreas-sentinela (média de 20% em 2003, 15% em 2007, 4% em 2012 e de 2,5% em 2016).
Durante a última avaliação epidemiológica realizada, nos 3 polos base-sentinela em 2016 o percentual de casos detectados foi de 3,5% (27/777) no polo base Xitei, 1,3% (6/467) no Toototobi e 0,0% (0/66) em Balawaú (Figura 4).
Ressalta-se que esses resultados se referem a áreas de maior risco, no epicentro da área endêmica, correspondendo em sua maior parte a zonas hiperendêmicas, no alto da Serra do Parima, na fronteira com a Venezuela.
Em outras avaliadas fora das áreas-sentinela, não foram encontradas pessoas parasitadas, revelando assim resultados altamente satisfatórios da intervenção de tratamento. A vigilância tem sido realizada em intervalos de 4 anos, por meio de inquéritos parasitológicos (biópsias de pele) na população indígena Yanomami, inquéritos entomológicos e levantamento sorológico em crianças entre 1 e 10 anos de idade.
A partir dos dados da vigilância, destacam-se a queda acentuada da prevalência da infecção entre os residentes, a redução moderada dos portadores de ceratite punctata, a redução total da ocorrência de microfilárias vivas na câmara anterior dos olhos e a redução acentuada da infecção parasitária nos vetores.
A intervenção mediante tratamentos coletivos, com altas coberturas em área endêmica da população residente e circulante da área endêmica na Terra Indígenas Yanomami é a medida fundamental para se alcançar a meta de eliminação. Torna-se, então, imprescindível a manutenção dos tratamentos coletivos com regularidade, com homogeneidade e coberturas acima de 85%.
Figura 1. Distribuição da oncocercose no mundo por status da terapia preventiva – 2017
Figura 2. Distribuição da oncocercose nas Américas – 2020
Figura 3. Identificação da área endêmica no Brasil – 2020
Figura 4. Evolução da prevalência (%) da oncocercose em exames parasitológicos de pele – Brasil, 1995-2016.