A mucormicose é uma infecção fúngica oportunista, altamente invasiva, não transmissível, causada por fungos da ordem Mucorales, dos gêneros Rhizopus spp., Rhizomucor spp. ou Mucor spp., Lichtheimia spp, Cunninghamella spp. Foi descrita pela primeira vez pelo patologista alemão Richard Paultauf, em 1885, a qual correspondia a uma infecção sistêmica com envolvimento gástrico e rinocerebral.
Esses fungos podem ser encontrados em resíduos orgânicos em decomposição, pão, frutas, matéria vegetal, alimentos contaminados, fezes de animais e podem infectar o homem por inalação, inoculação ou até mesmo ingestão dos esporos dispersos no ambiente.
Transmissão
Não há transmissão de mucormicose entre seres humanos e nem de animais para seres humanos.
Os principais meios de contaminação são:
- Inalação de esporos das fontes ambientais;
- Por via cutânea ou mucosa, quando há ruptura da barreira da pele ou da mucosa por ferida, por trauma ou grandes queimaduras;
- Por via digestiva com a ingestão de produtos contaminados.
Fatores de risco
Trata-se de infecção oportunista e sua ocorrência é mais comum entre pessoas com diabetes mellitus descompensada. Atualmente está em expansão e acomete indivíduos com outros fatores de risco, tais como: quimioterapia, transplantes de órgãos, imunoterapia, uso prolongado de antibióticos, procedimentos cirúrgicos e infecções que promovem enfraquecimento do sistema imunológico.
A falta de insulina é uma condição que favorece o desenvolvimento do fungo, não apenas em indivíduos imunodeprimidos, mas também entre os indivíduos saudáveis. Por essa razão a diabetes mellitus é o principal fator de risco para adoecimento por mucormicose.
Diagnóstico e Tratamento
Considerando o atual cenário de pandemia da Covid-19 e o possível surgimento de casos de mucormicose associados a pacientes infectados pelo coronavírus, a identificação correta e em tempo oportuno desse fungo é crucial para correto manejo dos casos e para determinação do tratamento adequado. O diagnóstico laboratorial dessa micose é comumente realizado em laboratórios com estrutura adequada para realizar exame micológico direto e cultura de fungos. O Laboratório de Referência Nacional (LRN) de Micoses Sistêmicas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da FIOCRUZ (INI/Fiocruz) recomenda o envio das amostras biológicas ou isolados fúngicos para identificação e/ou confirmação do diagnóstico até o nível de espécie do agente etiológico.
O LRN em Micoses Sistêmicas realizará as técnicas necessárias para identificação e diagnóstico/confirmação laboratorial. As amostras de tecido humano direcionadas à pesquisa de mucormicose associada à Covid-19 devem ser encaminhados ao Serviço de Anatomia Patológica (INI/Fiocruz) para identificação e/ou confirmação do diagnóstico. O tratamento da mucormicose inclui, obrigatoriamente, remoção cirúrgica de tecidos necróticos associado ao tratamento antifúngico, preferencialmente com administração de formulação lipídica de anfotericina B ou derivados azólicos (posaconazol ou isavuconazol).
Diante da suspeita clínica de mucormicose, o tratamento deve ser iniciado imediatamente, independentemente do resultado dos exames laboratoriais específicos (exame micológico direto, cultura e histopatologia). O Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS), disponibiliza o complexo lipídico de anfotericina B para o tratamento das infecções fúngicas graves. O medicamento integra o Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename, 2020). O complexo lipídico de anfotericina B é liberado após análise dos casos e obedece aos esquemas terapêuticos estabelecidos pelas diretrizes clínicas e consensos de doenças fúngicas.
Sintomas e Prevenção
A mucormicose se apresenta principalmente nas formas rino-órbito-cerebral (nariz, olhos e cabeça), pulmonar, gastrointestinal, cutânea e outras formas. É uma doença extremamente grave e de rápida evolução para óbito, em razão do acelerado crescimento do fungo e destruição de tecido. Por isso, deve ser diagnosticada e tratada precocemente.
Os principais sinais e sintomas são lesões necróticas invasivas no nariz e no palato acompanhadas de dor e febre. Infecção nos olhos, deslocamento do globo ocular e secreção nasal com pus também podem ser indicativos da doença.
Podem ocorrer sintomas pulmonares graves que incluem tosse com secreção, febre alta, falta de ar ou dificuldade para respirar, além de infecção disseminada em pessoas que tenham comprometimento grave do sistema imunológico.
Os indivíduos com suspeita de mucormicose devem procurar atendimento médico para investigação da causa da doença, diagnóstico e tratamento adequado o mais rápido possível, a fim de impedir a evolução da doença e suas complicações.
Recomenda-se evitar exposição à poeira proveniente de escavação do solo e realizar manipulação de vegetais, terraplanagem, jardinagem e de local de construção utilizando de equipamentos de proteção individual (máscaras, luvas, sapatos), quando disponíveis.
A principal medida de prevenção e controle da mucormicose é a correção de alterações relacionadas à doença de base, como, por exemplo, a correção dos índices glicêmicos em pacientes diabéticos, ou controle dos fatores que levem ao enfraquecimento do sistema imunológico.
Em caso de mucormicose, não há necessidade de isolamento dos doentes. As medidas de prevenção e controle de infecção devem ser de uso hospitalar rotineiro.