A giardíase é uma das infecções parasitárias mais comuns entre os seres humanos em todo o mundo, é mais frequente em crianças e está diretamente associada a locais com condições sanitárias precárias. Há evidências de que impacta no crescimento e desenvolvimento de crianças, sendo um importante problema de saúde pública. A infecção é causada pelo protozoário flagelado intestinal Giardia duodenalis, também conhecido como Giardia lamblia ou Giardia intestinalis, quando sintomática, a manifestação clínica se inicia com diarreia aguda que, se não tratada adequadamente, pode se tornar crônica, intermitente ou persistente por um longo tempo.
Além do quadro sintomático, entre 50 a 70% das infecções são assintomáticas.
Há duas formas do parasita no seu ciclo de vida, o cisto que é a forma infecciosa resistente ao ambiente e é encontrado em fezes infectadas que podem contaminar a água, solo e alimento; e os trofozoítos que são liberados no intestino delgado quando os cistos atingem o duodeno, forma esta que invade o epitélio intestinal e causa a doença.
No mundo, estima-se anualmente cerca de 200 a 250 milhões de novos casos sintomáticos de giardíase e 500 mil óbitos, além disso, estudos prospectivos mostram alta prevalência em países em desenvolvimento.
Sinais e Sintomas
Quando sintomática geralmente o quadro clínico ocorre após um período de 1 a 14 dias (média de 7 dias) e os sinais e sintomas mais comum são:
- Diarreia leve ou severa
- Dor abdominal
- Gases
- Náusea
- Vômito
- Desidratação
Duração dos Sinais e Sintomas
Geralmente os sinais e sintomas duram de uma a três semanas em pessoas imunocompetentes, mas em imunodeprimidas a duração pode ser maior.
Em alguns casos, os sinais e sintomas se tornam intermitentes, ou seja, após um tempo sem apresentar quadro clínico pode retornar após alguns dias ou semanas.
Complicações
Em crianças, a giardíase principalmente a crônica, mas também a assintomática pode promover má absorção de nutrientes, o que prejudica o crescimento, causa perda de peso, desnutrição, deficiência de ferro e zinco séricos, anemia, podendo ocorrer comprometimento cognitivo.
Além disso, há evidências de que a giardíase tenha um papel relevante de coinfecção com bactérias, vírus e outros parasitos.
Transmissão
A infecção da giardíase ocorre a partir da ingestão de cistos do protozoário Giardia lamblia, o que geralmente ocorre pelo consumo de água e alimentos contaminados, incluindo água de recreação, como rios, piscinas e lagos.
A Giardia é altamente transmissível, podendo se disseminar facilmente através das fezes de pessoas ou animais infectados, pois os cistos de Giardia lamblia são infecciosos assim que são eliminados nas fezes, dessa forma, quando presentes em mãos não lavadas podem ser transmitidos de pessoa a pessoa ou contaminar o ambiente e objetos, como maçanetas, campainhas, recipientes de armazenamento de água e alimentos. Os animais de estimação contaminados (cães e gatos) também podem ser vias de transmissão zoonóticas para os seres humanos.
Quatro características da Giardia lamblia que aumentam sua prevalência são as seguintes: a) baixa dose infecciosa, de 10 a 100 cistos em humanos; b) rápida disseminação entre mamíferos após excreção fecal; c) os cistos podem sobreviver de semanas a meses e; d) presença de cistos na água potável e nos alimentos.
Fatores de risco para infecção
- Ingestão de água imprópria para consumo humano - pode aumentar em 4 vezes o risco de infecção por Giardia lamblia em crianças, quando comparado com o consumo de água potável;
- Utilização de outras fontes de água, como riachos, poços, reservatórios e nascente em áreas que sofrem com a escassez de água potável;
- Utilização de recipientes de armazenamento de água contaminados;
- Falta de higiene pessoal, especialmente das mãos, principalmente:
- após defecar e trocar fraldas
- após contato com animais como cães, gatos, cabras, vacas, ovelhas e burros
- antes de manusear alimentos, antes e depois de comer.
Diagnóstico
O diagnóstico laboratorial da giardíase, causada pelo protozoário Giardia duodenalis (Giardia lamblia ou Giardia intestinalis), é realizado a partir da identificação de cistos e/ou trofozoítos nas fezes de pessoas suspeitas. O exame é feito por meio de microscopia direta, com ou sem o uso de corante, e método de sedimentação espontânea (Hoffman).
Neste caso, o material é acondicionado em frasco coletor universal preenchido até a metade de seu volume, sem adição de conservantes ou fixadores. Este material poderá ser transportado para o laboratório, em temperatura ambiente, até 2 horas após a coleta. Caso não seja possível, poderá ser transportado sob refrigeração em até 12h.
Tratamento
Todo paciente com diarreia deve ser avaliado clinicamente e tratado conforme o “Manejo do paciente com diarreia”. Além disso, quando a diarreia durar 14 dias ou mais, se identificarem cistos ou trofozoítos nas fezes ou no aspirado intestinal, o tratamento indicado é Metronidazol 15 mg/kg, 3x/dia por 5 dias.
Prevenção
A ingestão de água potável (filtrada e desinfetada) juntamente com a higiene pessoal, especialmente lavar as mãos, podem reduzir o risco de infecção por giardíase em até 90%. Para reduzir consideravelmente o risco de infecção por Giardia lamblia é fundamental estabelecer as seguintes medidas:
- Disponibilidade de água potável em quantidade suficiente para beber;
- Acesso à água limpa para assegurar a higienização das mãos, dos recipientes e utensílios para manter as boas práticas de manipulação de alimentos e armazenamento da água;
- Higienização das mãos com enfoque nos mais vulneráveis como crianças, idosos e imunodeprimidos e nos grupos que têm maior risco de transmitir a doença, como manipuladores de alimentos, cuidadores de crianças e idosos, profissionais de saúde;
- Instalações sanitárias adequadas com destino seguro de fezes;
- Cuidados com preparo adequado de alimentos potencialmente contaminados por mãos não higienizadas de manipuladores e/ou por água de irrigação;
- Educação em saúde nas escolas sobre os cuidados adequados com a higienização das mãos, cuidados com alimentos e água para consumo humano.