A fusariose é uma doença infecciosa provocada por fungos oportunistas do gênero Fusarium. Estes fungos estão presentes no ambiente na forma de esporos, de saprófitas do solo e em patógenos comuns de plantas e cereais. Os fungos do gênero Fusarium têm sido relacionados a infecções localizadas ou invasivas em pacientes imunocomprometidos, sobretudo naqueles portadores de neoplasias hematológicas ou submetidos ao transplante de medula óssea, bem como em pessoas imunocompetentes.
Existe mais de 200 espécies desse fungo, sendo o Fusarium solani o mais comum e o mais virulento em seres humanos (40-60%), seguido por outros complexos como o Fusarium oxysporum (~20%), Fusarium fujikuroi e Fusarium moniliforme (~10%).
Transmissão
A principal forma de aquisição do Fusarium spp. acontece principalmente pela inalação de esporos fúngicos presentes no ambiente ou por meio da inoculação direta do fungo na pele, por exemplo ferida cirúrgica, queimaduras, úlceras profundas, celulite facial etc.
Os locais mais comuns de entrada do fungo no organismo estão os seios paranasais, os pulmões e a pele, e causam lesões cutâneas, ceratite, endoftalmite, sinusite, otite, abcesso cerebral, infecção de corrente sanguínea, artrite, onicomicose, peritonite, pneumonia e osteomielite.
Causa
A fusariose é causada por fungos filamentosos hialinos, do gênero Fusarium, que vivem em todo o ambiente, sendo encontrados no ar, água, solo, plantas e substratos orgânicos. As regiões tropicais e subtropicais são consideradas as que apresentam condições climáticas propícias para o desenvolvimento da espécie. A infecção em humanos por Fusarium spp. tem relação com fatores de risco do indivíduo, como imunossupressão, tratamento prévio com esteróides e o uso de lentes de contatos (Proença-Pina et al., 2010). Além disso a infecção pode ser adquirida por trauma. As formas de infecção podem variar em superficial, invasiva e disseminada.
Sintomas
A sintomatologia pode variar conforme a localização do fungo no organismo. Os sintomas clínicos desta doença não são específicos e podem apresentar desde febre persistente a diminuição dos níveis de consciência, mucosa avermelhada e edema nasal; palidez e descoloração da mucosa, rinorreia, taquicardia, mialgias, tosse seca, dor torácica pleurítica e falta de ar, olhos vermelhos, lacrimejantes, dor nos olhos, entre outros.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico e laboratorial. A confirmação laboratorial baseia-se no exame micológico direto e cultura das amostras clínicas, que podem ser sangue, secreção, aspirado de lavado brônquico alveolar, biópsia de tecido, raspado da córnea, swab nasal, líquido de ascite ou cavitário, onde a presença de hifas com filamentos hialinos septados e dicotomizados em ângulo agudo e reto, esporulação e elementos que parecem leveduras, sugere fortemente a fusariose.
Tratamento
Os antifúngicos utilizados na maioria das infecções causadas por Fusarium spp. são o voriconazol, posaconazol, natamicina, anfotericina B.
O complexo lipídico de anfotericina B e o itraconazol são medicamentos antifúngicos disponíveis no estoque estratégico do Ministério da Saúde, dispensados pela área técnica de Vigilância e Controle das Micoses Sistêmicas, desde 2008. O atendimento à solicitação desses antifúngicos decorre do preenchimento da ficha de solicitação de medicamentos antifúngicos para tratamento de pacientes com micoses sistêmicas endêmicas oportunistas, como a fusariose, além da comprovação da infecção fúngica em atividade (diagnóstico laboratorial recente) e resultado da sorologia para HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana).
Prevenção
A principal medida de prevenção e controle a ser tomada é evitar a exposição direta ao fungo.
É importante lavar as mãos com água e sabão após exposição ao solo contaminado com o fungo.
Recomenda-se a lavagem das mãos dos profissionais de saúde que manejam os pacientes, especialmente aqueles em isolamento, e o monitoramento constante da qualidade do ar e da água para reduzir o número de infecções oportunistas no ambiente hospitalar.
Limpeza e manutenção do sistema de climatização do ar hospitalar, com troca frequente de filtros e limpeza dos demais componentes, como dutos e forros. Recomenda-se também o controle de limpeza no sistema de abastecimento de água em hospitais.
Os agricultores e pessoal que trabalham ao ar livre são incentivados a usar equipamentos protetores nos olhos, máscara facial, luvas e roupas de manga longa em atividades que envolvam o manuseio de material proveniente do solo e plantas, bem como o uso de calçados em trabalhos rurais
As unhas dos pés devem ser mantidas limpas e aparadas para evitar ferimentos.
Os usuários de lentes de contato podem prevenir a ceratite, evitando ambientes mofados e higienizando suas lentes com soluções de limpeza estéreis.
Recomenda-se a lavagem das mãos antes da manipulação das lentes e a limpeza e esterilização frequentes dos equipamentos relacionados com as lentes. Manter sempre o ambiente limpo e arejado.
Situação Epidemiológica
É a terceira infecção mais comum causada por fungos, logo depois da aspergilose e mucormicose. Quando indivíduos com quadro clínico como neutropenia prolongada grave são acometidos por infecções causadas por Fusarium spp., tendem a evoluir para a forma disseminada da doença, resultando em fungemia em aproximadamente 70% dos casos. Por consequência, a identificação das espécies de Fusarium e o teste de sensibilidade aos antifúngicos na rotina laboratorial são importantes para o manejo clínico dos pacientes com as diferentes infecções por Fusarium.
Já entre os anos de 2000 e 2010 foram relatados 21 casos de fusariose invasiva em pacientes com doenças hematológicas (neutropenia, leucemia mielóide aguda e transplantados de células hematopoiéticas). Em 2007, observou-se um aumento na incidência de fusariose invasiva, com relato de cinco casos na forma disseminada da doença e dois casos de infecções invasivas localizadas num período de sete meses.
As micoses endêmicas não integram a lista nacional de doenças de notificação compulsória no Brasil. Elas também não são objeto de vigilância epidemiológica de rotina, com exceção dos estados brasileiros que instituíram essa notificação de iniciativa do seu âmbito de gestão. Por isso, não existem dados epidemiológicos da ocorrência, magnitude e transcendência da fusariose em nível nacional.