A Febre do Mayaro é uma doença infecciosa febril aguda, cujo quadro clínico geralmente é de curso benigno, semelhante à Dengue e à Chikungunya. A doença é causada pelo vírus Mayaro (MAYV), um arbovírus (vírus transmitido por artrópodes) da família Togaviridae, gênero Alphavirus, assim como o vírus Chikungunya (CHIKV), ao qual é relacionado genética e antigenicamente.
O vírus Mayaro foi isolado pela primeira vez em Trinidad, em 1954, e o primeiro surto no Brasil foi descrito em 1955, às margens do rio Guamá, próximo de Belém/PA. Desde então, casos esporádicos e surtos localizados têm sido registrados nas Américas, incluindo a região Amazônica do Brasil, principalmente nos estados das regiões Norte e Centro-Oeste. O Mayaro compõe a lista nacional de doenças de notificação compulsória imediata, conforme Portaria de Consolidação nº 4, de 28 de setembro de 2017.
Transmissão
O ciclo epidemiológico do vírus Mayaro (MAYV) é semelhante ao da Febre Amarela Silvestre e se dá com a participação de mosquitos silvestres, principalmente do gênero Haemagogus, com hábitos estritamente diurnos e que vivem nas copas das árvores, o que favorece o contato com os hospedeiros animais. Nesse ciclo, os primatas são os principais hospedeiros do vírus e o homem é considerado um hospedeiro acidental. Possivelmente, outros gêneros de mosquitos participam do ciclo de manutenção do vírus na natureza, tais como Culex, Sabethes, Psorophora, Coquillettidia e Aedes; além de outros hospedeiros vertebrados como pássaros, marsupiais, xenartras (preguiças, tamanduás e tatus) e roedores, que podem atuar na amplificação e manutenção do vírus em seu ambiente natural. Dada a comprovação em laboratório da possiblidade de infecção do Aedes aegypti pelo MAYV (competência vetorial) e de achados de infecção natural, considera-se haver risco potencial de transmissão urbana, que poderia eventualmente ser sustentada num ciclo homem-mosquito-homem.
Não existe transmissão de uma pessoa para outra diretamente. O sangue dos doentes é infectante para os mosquitos durante o período de viremia, que dura entre 3 a 6 dias. A transmissão ocorre a partir da picada de mosquitos fêmeas infectadas ao se alimentar do sangue de primatas (macacos) ou humanos. Depois de infectados, e após um período de incubação extrínseca (em torno de 12 dias), os mosquitos podem transmitir o vírus por toda a vida. Assim como a febre amarela, a doença pelo vírus Mayaro é considerada uma zoonose silvestre e, portanto, de impossível eliminação. O homem é considerado um hospedeiro acidental, quando frequenta o habitat natural de hospedeiros, reservatórios e vetores silvestres infectados.
Sintomas
As manifestações clínicas nos pacientes com Mayaro são semelhantes àquelas provocadas pelo vírus Chikungunya e outros arbovírus. O quadro clínico têm início súbito com febre, entre 39 e 40°C, acompanhada de dor de cabeça, artralgia, mialgia, edemas articulares, calafrios, dor retro-orbital, mal-estar, erupção cutânea (exantema), vômitos e diarreia. Em alguns casos, podem ser referidos náusea, tosse, dor de garganta, dor abdominal, congestão nasal, prurido, anorexia, nódulos linfáticos inchados e sangramento da gengiva. Aproximadamente 20% dos casos apresentam edema (inchaço) articular, especialmente nos pulsos, dedos, tornozelos e dedos dos pés. A presença de exantema é mais comum em crianças do que em adultos e normalmente aparece no quinto dia da doença, podendo persistir por dias. O quadro clínico agudo pode persistir por 1 a 2 semanas.
Depois de identificar alguns desses sintomas, é preciso procurar atendimento médico na unidade de saúde mais próxima e informar sobre seu local de residência, trabalho, passeio ou qualquer viagem para áreas rurais, de mata ou silvestres, nos últimos 15 dias antes do início dos sintomas. Também é importante informar se foi observada a presença de macacos, sadios ou doentes no local visitado recentemente.
Importante: A Febre do Mayaro não é contagiosa, portanto, não há transmissão de pessoa a pessoa ou de animais a pessoas. Ela é transmitida somente pela picada de mosquitos infectados com o vírus Mayaro.
Diagnóstico
O diagnóstico da Febre do Mayaro é clínico, epidemiológico e laboratorial.
A suspeita se dá a partir da avaliação clínica do paciente, com base nos sintomas descritos, e do histórico de exposição a situações de risco nos 15 dias que antecedem o início dos sintomas. Em decorrência das similaridades com outras arboviroses, principalmente Chikungunya, o diagnóstico laboratorial é fundamental para a conclusão da causa etiológica, em conjunto com os achados clínicos e epidemiológicos. O diagnóstico laboratorial pode ser realizado a partir de provas diretas (isolamento viral, biologia molecular) ou indiretas (sorologias).
Tratamento
Não existe terapia específica ou vacina. Os pacientes devem permanecer em repouso, acompanhado de tratamento sintomático, com analgésicos e/ou drogas anti-inflamatórias, que podem proporcionar alívio da dor e da febre.
Prevenção
Considerando que atualmente não existe uma vacina disponível e que não é possível eliminar o ciclo silvestre de transmissão do vírus, as medidas de prevenção consistem em evitar o contato com áreas de ocorrência e/ou minimizar a exposição à picada do vetor, seja por meio de recursos de proteção individual (uso de repelentes, roupas compridas) ou coletiva (uso de cortinas; mosquiteiros, principalmente em área rural e silvestre, além de evitar exposição em área afetada), visando minimizar o contato homem e vetor silvestre (principalmente entre às 9 e 16 horas). Cuidado adicional deve ser tomado nas áreas com ocorrência recente de transmissão do vírus Mayaro.
Dessa forma, recomenda-se:
- evitar exposição em áreas de mata sobretudo desprotegido, durante o período de maior atividade do mosquito transmissor da doença;
- uso de roupas compridas e repelentes podem ajudar a evitar contato com o vetor silvestre e diminuir o risco de infecção;
- uso de mosquiteiros, principalmente em área rural e silvestre;
- evitar exposição em área afetada (com transmissão ativa).
Viajantes
O vírus Mayaro é considerado endêmico na região Amazônica, que envolve os estados da região Norte e Centro-Oeste. O vírus ocorre em área de mata, rural ou silvestre e geralmente afeta indivíduos susceptíveis que adentram espaços onde macacos e vetores silvestres habitam.
Uso de roupas compridas e de repelentes podem ajudar a evitar o contato com o vetor silvestre e diminuir o risco de infecção pelo vírus Mayaro.
Cuidado especial deve ser observado em áreas endêmicas e recentemente afetadas.