A Doença pelo Vírus Ebola (DVE) é uma zoonose, cujo morcego é o reservatório mais provável. Quatro dos cinco subtipos ocorrem em hospedeiro animal nativo da África. Acredita-se que o vírus foi transmitido para seres humanos a partir de contato com sangue, órgãos ou fluidos corporais de animais infectados, como chimpanzés, gorilas, morcegos-gigantes, antílopes e porcos-espinho. A doença pelo vírus ebola é uma das mais importantes na África subsaariana, ocasionando surtos esporádicos, afetando diversos países. O agente da doença é um vírus da família Filoviridae, do gênero Ebolavirus, descoberto em 1976, a partir de surtos ocorridos ao sul do Sudão e norte da República Democrática do Congo (anteriormente Zaire), próximo ao Rio Ebola, mesmo nome dado ao vírus.
Até o momento, foram descritas cinco subespécies de vírus Ebola, sendo que quatro delas afetam humanos e uma delas, apenas primatas não humanos. As espécies são: vírus Ebola (Zaire Ebolavirus); Vírus Sudão (Sudão Ebolavirus); Vírus Taï Forest (Tai Forest Ebolavirus), vírus Bundibugyo (Bundibugyo Ebolavirus) e vírus Reston (Reston Ebolavirus), este último afetando somente animais. O Zaire Ebolavirus é o que apresenta a maior letalidade. A doença do vírus Ebola, conhecida anteriormente como Febre Hemorrágica Ebola, é uma doença grave, muitas vezes fatal e com taxa de letalidade que pode chegar até os 90%. A doença afeta os seres humanos e os primatas não-humanos, como macacos, gorilas e chimpanzés.
Importante: A origem do vírus é desconhecida, mas os morcegos frugívoros (Pteropodidae) são considerados os hospedeiros prováveis do vírus Ebola. Não há registro de casos de ebola no Brasil.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, no dia 17 de julho de 2019, Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) por Ebola na República Democrática do Congo, medida prevista no Regulamento Sanitário Internacional. Neste momento, a OMS considera o risco elevado apenas no país afetado e países que fazem fronteira e não recomenda triagem para pessoas de países que não fazem fronteiras com a República Democrática do Congo.
Definições
- Caso suspeito: indivíduo procedente, nos últimos 21 dias, de país* com transmissão ativa da doença pelo vírus Ebola (DVE) e que apresente febre, podendo esta ser acompanhada de diarreia, vômitos ou sinais de hemorragia, como: diarreia sanguinolenta, gengivorragia, enterorragia internas, sinais purpúricos e hematúria.
- Caso confirmado: caso suspeito com resultado laboratorial de Reação de Polimerase em Cadeia (PCR) detectável para Ebola realizado em laboratório de referência.
- Caso descartado: caso suspeito com dois resultados laboratoriais de Reação de Polimerase em Cadeia (PCR) negativos para Ebola realizados em Laboratório de Referência definidos pelo Ministério da Saúde, com intervalo mínimo de 48 horas entre as duas colheitas.
- Contactante ou comunicante: pessoa que tenha sido exposta a um caso suspeito ou confirmado de DVE em pleno menos uma das seguintes situações: dormiu na mesma casa que um caso; teve contato físico direto com o caso (vivo ou morto) durante a doença; teve contato físico direto com o caso (falecido) em um funeral ou durante a preparação dos rituais de enterro; tocou o sangue o fluidos corporais de um caso durante a doença; tocou nas roupas ou lençóis de um caso; um bebê que foi amamentado pelo paciente, teve relações sexuais com o paciente.
* País com transmissão de Ebola: República Democrática do Congo (atualizado em 11/01/2020 – OMS). A atualização de países com transmissão ativa de Ebola será realizada a partir de informações disponibilizadas pela Organização Mundial da Saúde – OMS.
Detecção, Notificação e Registro
O Ebola é uma doença de notificação compulsória imediata. A notificação deve ser realizada pelo profissional de saúde ou pelo serviço que prestar o primeiro atendimento ao paciente, pelo meio mais rápido disponível, de acordo com a Portaria de Notificação Compulsória PRC n° 4, de 28 de setembro de 2017, Anexo V, Capítulo I (Origem: PRTMS/GM 204/2016, Anexo1).
Todo caso suspeito deve ser notificado imediatamente (Notificação Imediata em até 24 horas) às autoridades de saúde das Secretarias municipais, estaduais, CIEVS estadual, CIEVS Nacional pelo Disque Notifica (0800-644-6645), bem como pelo e-mail ou formulário eletrônico no site da SVS. O registro dos casos que se enquadram na definição de caso suspeito de Ebola deve ser realizado por meio da ficha de notificação individual no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) utilizando o Código Internacional de Doenças (CID) A98.4.
Sintomas
A infecção pelo vírus Ebola ocasiona os seguintes sintomas:
- Febre;
- Cefaleia;
- Fraqueza;
- Diarreia;
- Vômitos;
- Dor abdominal;
- Inapetência;
- Odinofagia;
- Manifestações hemorrágicas.
O período de incubação da doença pode variar de 2 a 21 dias, no entanto, o período mediano é de 5 a 10 dias para a maior parte dos casos e os anticorpos IgM podem aparecer com dois dias após o início dos sintomas e desaparecer entre 30 e 168 dias após a infecção. Os pacientes tornam-se contagiosos apenas quando começam a apresentar os sintomas. A confirmação dos casos de Ebola é feita por exames laboratoriais específicos.
Riscos
Para a maioria das pessoas no Brasil, o risco de contrair de Ebola é baixo. No entanto, as chances aumentam nas seguintes hipóteses, que são os principais fatores de risco:
- Visitar áreas nas quais há surto de Ebola;
- Realizar pesquisas em animais, principalmente primatas originários da África ou Filipinas;
- Fornecer assistência médica ou pessoal para pessoas infectadas;
- Preparar pessoas infectadas para o enterro, uma vez que os corpos das pessoas contaminadas ainda podem transmitir a doença.
Diagnóstico
O exame a ser realizado é o de PCR para o diagnóstico confirmatório de Ebola. São realizadas duas coletas, sendo a segunda após 48 horas da primeira. As amostras são encaminhadas para o laboratório de Referência Nacional Instituto Evandro Chagas – IEC.
A DVE é uma síndrome febril hemorrágica aguda cujos diagnósticos diferenciais principais são: malária, febre amarela, sarampo, desinteria bacteriana, doença de lyme, febre tifoide, shiguelose, cólera, leptospirose, peste, ricketsiose, febre recorrente, doença meningocócica, hepatite, dengue grave e outras febres hemorrágicas.
Importante:
Pessoas diagnosticadas com Ebola devem ser isoladas do público imediatamente para ajudar a prevenir a propagação do vírus. Profissionais de saúde e outras pessoas que entrarem em contato com o doente devem obrigatoriamente usar Equipamento de Proteção Individual.
Complicações
Após a primeira semana de infecção, alguns pacientes com DVE podem se recuperar, mas habitualmente a doença evolui para formas graves. A viremia aumenta drasticamente acompanhando o agravamento do quadro clínico. Os pacientes podem desenvolver um rash cutâneo (exantema) difuso, seguido de descamação da pele. Na evolução, podem ocorrer diarreia grave, náuseas e vômitos acompanhados de dor abdominal, comprometimento das funções hepáticas e renais e, frequentemente, coagulação intravascular disseminada levando a hemorragias internas e externas variadas.
De acordo com o Consenso n.º 9188/2014 do Superior Conselho de Saúde da Bélgica, são considerados sinais relevantes/frequentes de gravidade: hemorragia nasal; melena; aumento significativo de transaminases (TGO e TGP); queda abrupta de plaquetas; sinais de choque e baixa saturação de O2. Os óbitos normalmente ocorrem na segunda semana da doença e estão relacionados à instabilidade hemodinâmica, choque (colapso circulatório), infecções bacterianas secundárias e/ou coagulação intravascular disseminada.
Transmissão
A transmissão se dá por meio do contato com sangue, tecidos ou fluidos corporais de animais e indivíduos infectados (incluindo cadáveres), ou a partir do contato com superfícies e objetos contaminados. Destaca-se que não há registro na literatura de isolamento do vírus no suor e pelo ar. Não há transmissão durante o período de incubação. A transmissão só ocorre após o aparecimento dos sintomas. Acredita-se que o vírus foi transmitido para seres humanos a partir de contato com sangue, órgãos ou fluidos corporais de animais infectados, como chimpanzés, gorilas, morcegos-gigantes, antílopes e porcos-espinho.
Na África, os surtos provavelmente originam-se quando pessoas têm contato ou manuseiam a carne crua de chimpanzés, gorilas infectados, morcegos, macacos, antílopes florestais e porcos-espinhos encontrados doentes ou mortos ou na floresta. Depois que uma pessoa entra em contato com um animal que tem Ebola, ela pode espalhar o vírus na sua comunidade, transmitindo-o para outras pessoas. O vírus Ebola não é transmitido pelo ar. A infecção ocorre por contato direto com o sangue ou outros fluidos corporais ou secreções como, por exemplo, fezes, urina, saliva, leite materno e sêmen de pessoas infectadas.
Tratamento
Os cuidados são de suporte precoce com hidratação e tratamento sintomático. Ainda não há tratamento licenciado comprovado para neutralizar o vírus, mas uma gama de tratamentos potenciais incluindo produtos sanguíneos, terapias imunológicas e medicamentosas estão em desenvolvimento. O tratamento, a princípio, se restringe ao controle dos sintomas e medidas de suporte/estabilização do paciente.
É importante iniciar o tratamento de maneira oportuna, para aumentar as chances de sobrevivência dos pacientes. É recomendada a expansão volêmica, correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, estabilização hemodinâmica, correção de hipoxemia e manutenção da oferta de oxigênio tecidual e tratamento de infecções bacterianas. Uma vez que a doença foi curada, a pessoa está imune ao vírus Ebola.
Prevenção
Atualmente diversas vacinas estão sendo testadas, mas nenhuma delas está disponível para uso clínico, no momento. Ainda não há tratamento licenciado comprovado para neutralizar o vírus, mas uma gama de tratamentos potenciais incluindo produtos sanguíneos, terapias imunológicas e medicamentosas estão em desenvolvimento. O tratamento, a princípio, se restringe ao controle dos sintomas e medidas de suporte/estabilização do paciente. É importante iniciar o tratamento de maneira oportuna, para aumentar as chances de sobrevivência dos pacientes.
Uma vacina experimental contra o vírus ebola provou ser altamente protetora. Um grande teste foi realizado na Guiné em 2015 e a vacina chama rVSV-ZEBOV, várias pessoas foram envolvidas no teste. A estratégia utilizada foi a vacinação em anel e sua dose foi considerada segura e eficaz e todas as pessoas que tiveram contato com um novo caso confirmado de ebola foram rastreadas e receberam a dose no intuito de frear a transmissão do vírus. Essa estratégia também foi utilizada no 9º e 10º (em andamento) na República Democrática do Congo. Nos países onde há transmissão do Ebola, a melhor maneira de se prevenir é evitar contato com o sangue ou secreções de animais ou pessoas doentes, ou com o corpo de pessoas falecidas em decorrência dessa doença, durante rituais de velório.
Desta forma, as principais medidas de prevenção do Ebola são:
- Evite áreas de surto;
- Lave as mãos com frequência;
- Evite contato com pessoas infectadas;
- Não manuseie corpos de pessoas infectadas.