São aquelas causadas pela ingestão de água e/ou alimentos contaminados. Existem mais de 250 tipos de DTHA no mundo, podendo ser causadas por bactérias e suas toxinas, vírus, parasitas intestinais oportunistas ou substâncias químicas. É considerado surto de DTHA quando duas ou mais pessoas apresentam doença ou sinais e sintomas semelhantes após ingerirem alimentos e/ou água da mesma origem, normalmente em um mesmo local. Para doenças de alta gravidade, como Botulismo e Cólera, a confirmação de apenas um caso já é considerado surto.
Além disso, a alteração do comportamento das doenças diarreicas agudas (DDA), como a notificação/identificação de casos de DDA acima do esperado para determinado período e território, também sinaliza a possibilidade de ocorrência de surto de DTHA e, portanto, deve ser investigada.
Importante: Existem ainda as intoxicações causadas por toxinas naturais, como por exemplo, cogumelos venenosos, toxinas de algas e peixes ou por produtos químicos prejudiciais que contaminaram o alimento, como chumbo e agrotóxicos. Em todos os casos, é fundamental procurar uma ajuda médica imediata, porque algumas doenças transmitidas por alimentos podem, se não tratadas adequadamente, levar à morte.
Não há um quadro clínico específico para os surtos de DTHA, podendo variar de acordo com o agente etiológico envolvido. No entanto, os sinais e sintomas mais comuns são:
- Náusea;
- Vômito;
- Dor abdominal;
- Diarreia;
- Falta de apetite;
- Febre.
Além desses, podem ocorrer também afecções extraintestinais em diferentes órgãos e sistemas como nos rins (Síndrome Hemolítico-Urêmica), sistema nervoso central (botulismo e toxoplasmose), má formação congênita (toxoplasmose), dentre outros.
Diagnóstico e Tratamento
Tendo em vista que existem diversas DTHA e estas geralmente apresentem um quadro clínico inespecífico, o diagnóstico das DTHA é feito por exames laboratoriais (clínicos e bromatológicos), que devem ser realizados de acordo com as possíveis hipóteses diagnósticas levantadas a partir da investigação epidemiológica. O principal material das amostras clínicas são as fezes (swab em meio de transporte Cary-Blair e in natura), porém a depender da hipótese diagnóstica também poderão ser coletadas amostras de sangue, urina, entre outros.
Essas análises são realizadas pelos Laboratórios de Saúde Pública (LACEN), pelos laboratórios de referência regional (LRR) e nacional (LRN) e centros colaboradores (CC). Aos LACEN competem a realização de procedimentos laboratoriais de rotina e o encaminhamento para realização de análises de maior complexidade e complementação diagnóstica ao LRR, LRN ou CC. O tratamento das DTHA deve ser específico para cada caso. Por ser, em geral, uma doença autolimitada, o tratamento realizado é baseado na sintomatologia do paciente afetado, visando evitar a desidratação e o óbito.
E, a depender do grau de toxigenicidade do agente etiológico envolvido e da população afetada (crianças, idosos, gestantes e imunocomprometidos, por serem grupos de risco para o adoecimento), podem necessitar de atenção especial. Os sinais e sintomas tendem a desaparecer em alguns dias, mas se houver sangue nas fezes e comprometimento do estado geral, antibióticos são recomendados em conjunto com a reidratação. No entanto, seu uso excessivo e indevido na medicina veterinária e humana tem sido associado ao surgimento e disseminação de bactérias resistentes, tornando o tratamento de doenças infecciosas ineficaz.
Em todos os casos, é importante monitorar o estado de hidratação e a duração dos sinais e sintomas, além de procurar o serviço de saúde para a indicação de terapêutica específica, de acordo com a suspeita clínica.
Importante: Após consulta médica, é indicada terapêutica específica de acordo com a suspeita clínica. Em todos os casos, é importante avaliar o estado de hidratação, principalmente em crianças, idosos e imunodeprimidos que apresentam diarreia e vômito. Quando a diarreia é aguda, deve-se seguir o manejo do paciente com diarreia preconizado pelo Ministério da Saúde, adotando-se o plano de tratamento mais adequado, conforme o estado de hidratação.
Prevenção
Uma das ações prioritárias para a prevenção, controle e redução dos riscos e surtos de DTHA é o investimento público para melhoria da infraestrutura dos serviços de saneamento básico.Outras opções de prevenção incluem práticas de higiene pessoal e coletiva e manejo adequado de alimentos para consumo, tais como:
Lavar as mãos com água limpa e sabão, principalmente:
- Antes de preparar ou ingerir alimentos;
- Após o manuseio de carnes cruas ou terra;
- Após ir ao banheiro;
- Após utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam estar sujas;
- Após tocar em animais;
- Sempre que voltar da rua;
- Antes e após amamentar e trocar fraldas.
Promover medidas que visem à redução do risco de contaminação de alimentos, em especial no comércio ambulante;Consumir carnes bem cozidas/assadas, água tratada e alimentos, cujas condições higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam adequadas:
- Alimentos prontos devem ser armazenados separadamente dos alimentos semiprontos e crus;
- Alimentos prontos quentes expostos ao consumo devem ser mantidos a 60°C ou mais por, no máximo, 6 horas e, quando resfriados, mantidos à temperatura inferior a 5ºC por no máximo 5 (cinco) dias;
- Alimentos preparados, após cocção, mantidos abaixo de 60°C, devem ser consumidos em até 60 minutos;
- Alimentos prontos frios expostos ao consumo devem ser mantidos abaixo de 5°C;
- Alimentos perecíveis só podem permanecer em temperatura ambiente pelo tempo mínimo necessário para sua preparação e devem ser armazenados à temperatura de 2°C a 8°C;
- Alimentos congelados devem ser descongelados em condições de refrigeração à temperatura inferior a 5ºC ou em forno de micro-ondas;
- Os alimentos submetidos ao descongelamento devem ser mantidos sob refrigeração se não forem imediatamente utilizados, não podendo ser recongelados;
- Reaqueça bem os alimentos que tenham sido congelados ou refrigerados antes de consumi-los;
- Mantenha os ovos preferencialmente refrigerados e não armazenados na porta da geladeira;
- Ovos cozidos devem ser fervidos por no mínimo 7 minutos, o consumo de ovo cru ou mal cozido pode causar danos à saúde;
- Mantenha os alimentos bem acondicionados e fora do alcance de insetos, roedores e outros animais.
Higienizar adequadamente as hortaliças (frutas, legumes e vegetais), dando ênfase à esfregação mecânica em água corrente, antes de consumi-los ou prepará-los;Desinfetar as hortaliças antes do consumo:
- Imergir os alimentos em solução preparada com 10 mL (aproximadamente 1 colher de sopa) de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água tratada;
- Lavar e desinfetar as superfícies, os utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos;
- Ensacar e manter a tampa do lixo sempre fechada.
- Quando não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apropriado.
Usar sempre o vaso sanitário, mas se isso não for possível, enterrar as fezes sempre longe dos cursos de água;Eliminar fezes de felinos em lixo seguro;Expor as caixas de areia para fezes de felinos ao sol, preferencialmente, diariamente ou sempre que possível;Cobrir as caixas de areia, para recreação infantil, a fim de evitar a contaminação por fezes de animais ou mantê-las expostas ao sol diariamente;
À população sem acesso a água tratada, realizar tratamento domiciliar:
- Filtrar + utilizar solução de hipoclorito de sódio a 2,5%;
- Filtrar + ferver a água por 5 minutos (após a fervura).
Modo de usar:Coloque duas gotas de hipoclorito de sódio a 2,5% em 1 litro de água e aguarde por 30 minutos de consumir.
Observações:
Buscar os serviços
de saúde em caso de presença de sinais e sintomas;
Vacinar crianças contra o rotavírus humano –
VORH;
Incentivar o aleitamento materno.