Coccidioidomicose é uma micose sistêmica, de evolução aguda ou crônica, restrita a regiões secas do continente americano. Essa doença acomete os pulmões, podendo se apresentar como infecção respiratória leve, pneumonia adquirida na comunidade (PAC) ou quadro semelhante à tuberculose.
Causa
A coccidioidomicose é causada por duas espécies de fungos filamentosos do gênero Coccidioides – C. immitis, de ocorrência na Califórnia, nos Estados Unidos da América do Norte e C. posadasii, que ocorre em outras regiões das Américas, incluído o nordeste do Brasil.
A exposição à poeira de sítios contaminados é fator de risco crítico para adquirir a infecção. A atividade do homem, ao revolver solos contaminados, provoca grande dispersão aérea das formas infectantes (artroconídios). Tocas de animais e sítios arqueológicos têm sido identificados como os locais de maior probabilidade para isolamento do fungo.
Como o fungo está disperso na natureza, trabalhadores rurais constituem o principal grupo de risco, visto a sua exposição no meio ambiente. Lavradores, militares, trabalhadores na construção de estradas e de transporte terrestre, arqueólogos, antropólogos, paleontólogos e zoologistas são considerados profissionais com maior risco de exposição ao fungo.
Transmissão
Os indivíduos geralmente adquirem a infecção pela inalação (entrada) do fungo, decorrente do manuseio do solo contaminado, relacionado às atividades laborais ou caça a tatus.
A maioria dos casos ocorre nos períodos de tempo mais secos, quando há máxima desarticulação e dispersão aérea dos artroconídios (forma infectante) e sua posterior inalação.
Raramente se adquire a infecção pela implantação traumática em pele ou mucosas, geralmente em acidentes de laboratório.
Não há transmissão de homem para homem, e nem de animais para o homem.
Sintomas
A coccidioidomicose geralmente apresenta-se como infecção respiratória benigna e de resolução espontânea. A intensidade dos sintomas depende diretamente da carga infectante e do estado imunológico do indivíduo, e variam desde um estado gripal leve até uma grave infecção respiratória.
A sintomatologia inclui febre alta, dor torácica e tosse geralmente seca, acompanhada ou não de sintomas gerais e/ou manifestações de hipersensibilidade como artralgias, eritema nodoso e eritema multiforme. Disseminação para outros órgãos ou sistemas, como pele, sistema nervoso central e sistema osteoarticular podem ocorrer. As formas graves podem evoluir para óbito, quando não diagnosticadas e tratadas corretamente.
Diagnóstico
A coccidioidomicose pode ser diagnosticada por meio de uma correlação entre os dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. O diagnóstico é feito pelo exame micológico direto e/ou histopatológico com presença de esférulas maduras de Coccidioides sp** e sorologia.
Devido à virulência de Coccidioides spp. e ao elevado risco de contaminação em laboratório, os cultivos de materiais clínicos de casos suspeitos devem ser evitados. No entanto, uma vez realizados, sua manipulação deve ser feita em ambiente de segurança biológica nível NB3.
Pacientes imunossuprimidos tem maior risco de desenvolver doença pulmonar grave e prolongada, e disseminação.
Tratamento
O tratamento varia de acordo com a forma clínica e gravidade da doença.
Assintomáticos – não requerem tratamento antifúngico.
Formas pulmonares ou disseminadas sem comprometimento do SNC - Itraconazol 400 a 600 mg/dia VO.
Na indisponibilidade do itraconazol, o fluconazol está indicado, na dose de 400 mg/dia,VO. Em casos de lesão cavitária, pode haver indicação de tratamento cirúrgico adjuvante.
Formas disseminadas com comprometimento do SNC – fluconazol, 400 mg a 1200 mg/dia, EV.
As formulações lipídicas da Anfotericina B são indicadas para tratamento das formas mais graves da micose, visando ação antifúngica mais rápida.
O Sistema Único de Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde, oferece, gratuitamente, o itraconazol e o complexo lipídico de anfotericina B para o tratamento dos pacientes diagnosticados com coccidioidomicose.
Prevenção
A principal medida de prevenção e controle a ser tomada é evitar a exposição direta ao fungo. É importante usar equipamentos de proteção individual (EPI), em especial, máscaras, em atividades que envolvam o manuseio de solo, com dispersão de poeira. A educação em saúde, sobre a coccidioidomicose deve ser praticada, com abordagem acerca da forma de aquisição da doença, sobretudo, em comunidades onde a prática de caça ao tatu é comum.
Os indivíduos com lesões ou quadros suspeitos de coccidioidomicose devem procurar atendimento médico, para investigação diagnóstica e tratamento. A quimioprofilaxia primária não está indicada, mesmo em pacientes imunocomprometidos. Como profilaxia secundária, indica-se o uso de fluconazol em pessoas com aids que apresentam formas disseminadas ou meningoencefalite.