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COMBATE À DESINFORMAÇÃO
Projeto Saúde com Ciência garante direito fundamental da população à verdade
oto: Igor Evangelista/MS
Não importa a idade, a era digital chegou para todos. Seja em frente ao computador ou com um celular na mão, é possível viajar o mundo sem sair do lugar.
As pessoas passam o dia consumindo informação nas mais variadas fontes: redes sociais, sites de notícias, aplicativos de troca de mensagens, TV, rádio ou conversando com um amigo que soube de “fontes seguras” que a vacina contra covid-19 pode gerar câncer nas pessoas. Será?
Um dos painéis do seminário para criação do Memorial da Pandemia de Covid-19, realizado pelo Ministério da Saúde em Brasília, nos dias 11 e 12 de março, trouxe especialistas para debater o tema e encontrar soluções possíveis para enfrentar os problemas causados pela divulgação de conteúdos falsos. Na ocasião, foi apresentado, também, o projeto Saúde com Ciência.
Se até o Dráuzio foi vítima de desinformação
Imagina a gente! O médico e cientista Drauzio Varela, conhecido por levar informações sobre saúde às brasileiras e brasileiros pela tela da TV, foi personagem principal dos criadores de desinformação.
Um vídeo feito pelo próprio médico em janeiro de 2020, quando a covid-19 ainda estava apenas na China, e não se tinha conhecimento sobre a doença, afirmava que o vírus não era tão perigoso assim. No mês seguinte, quando a covid-19 chegou à Itália e foi possível entender um pouco mais sobre como o vírus agia, Drauzio pediu para retirar o vídeo do ar e gravou um novo depoimento afirmando a gravidade da doença.
“Gravei outro vídeo dizendo que eu não soube estimar direito o impacto que esse vírus teria. E aí mudei completamente o tom. Quando a epidemia estava espalhada pelo mundo, ressuscitaram o vídeo antigo dizendo que eu defendi que o vírus não tinha importância nenhuma e que não ia provocar mais do que um resfriado, e isso é repetido até hoje”, contou o médico durante a mesa de debate “A informação como aliada da ciência durante e depois da pandemia”.
Os negacionistas usaram uma tática muito comum: tirar do contexto falas e imagens para espalhar inverdades. No caso do Dráuzio, o objetivo era minimizar a gravidade da doença e convencer as pessoas de que as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como, por exemplo, isolamento social e uso de máscara, eram medidas exageradas e não precisavam ser seguidas, colocando a vida de milhões de pessoas em risco.
Direito à verdade
Para Margareth Dalcolmo, “olhar o outro e dizer a verdade é a cultura da paz”. Se você não sabe quem é Margareth, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), talvez se lembre quando uma médica apareceu na televisão, em dezembro de 2020, e disse a todos que não podia ter Natal.
“No dia 23 de dezembro de 2020, um jornalista me ligou e me perguntou se era verdade que eu ia dizer no ar que não podia ter Natal. Eu disse: no maior país católico do mundo não pode ter Natal. Não tem vacina. Quem fez ceia, congela. Não pode levar vovô, não pode levar neto, não pode ter Natal”, lembra a participante do debate.
Sobre conteúdos responsáveis, a presidente da SBPT pontuou, também, a importância da imprensa brasileira durante a pandemia da covid-19. “Um consórcio de órgãos de comunicação passou a fazer a produção de dados diariamente para informar a sociedade sobre o cenário atual da doença no país. A geração de dados foi algo muito particular que aconteceu no Brasil e com o qual nós passamos a lidar diariamente. Isso foi algo muito positivo sobre o papel da imprensa”, defendeu.
Nessa linha, Yole Mendonça, do Ministério da Saúde, apresentou o projeto interministerial Saúde com Ciência, criado para combater as desinformações sobre saúde espalhadas pelas diferentes mídias, em especial as referentes à vacinação.
De acordo com a representante do Ministério da Saúde, as mentiras têm, atualmente, uma capacidade de disseminação muito grande. “Em um país que sempre foi referência em vacinação, as pessoas deixaram de acreditar nas vacinas. Queremos combater, com o Saúde com Ciência, essas teorias com informação confiável”, explica.
Para Margareth, é inaceitável ainda existir a propagação de narrativas falsas sobre a vacina. “Esses que estiveram recentemente no Senado Federal criticando a vacinação infantil contra a covid-19, dizendo inverdades de maneira absolutamente impune”, afirmou, fazendo referência a médicos que participaram do debate no órgão legislativo e, na ocasião, criticaram a vacinação a partir de teorias conspiratórias.
Levantamento feito pelo projeto e apresentado no seminário identificou, de julho a novembro do ano passado, 51.570 conteúdos com narrativas falsas, que impactaram potencialmente 188 milhões de usuários.
Alguns dos conteúdos falsos mais frequentes, segundo os dados, são: vacinas contra covid-19 causam mortes súbitas e deixam sequelas graves; vacinas causam doenças como câncer, AIDS ou diabetes; após vacinadas, pessoas passam a ter chip no corpo controlado pelo governo. Para não restar dúvidas: nada disso é verdade!
A comunicação como meio de combate à desinformação
Também participante do debate, o comunicador digital Felipe Neto defendeu uma comunicação mais assertiva para combater a desinformação.
Segundo o comunicador, “o primeiro alvo quando se quer fazer uma teoria conspiratória é a ciência. Por isso, é tão importante a educação midiática, desde as escolas, para as crianças, até os adultos”, defendeu.
Felipe explica que os adeptos da desinformação trabalham com manipulação da fé, teorias conspiratórias e dando senso de pertencimento, acolhimento e razão de vida para a pessoas. Por outro lado, “as nossas armas são ciência, informação e verdade, mas cometemos o erro de sermos muito acadêmicos”, disse.
O primeiro pilar do Saúde com Ciência – Comunicação Estratégica – vai justamente nessa linha. O objetivo é criar campanhas direcionadas para o alcance de públicos específicos tornando a mensagem seja mais eficaz, além de garantir às pessoas acesso a informações íntegras e respaldadas por dados.
Em sua apresentação, o professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Pedro Arantes mostrou pesquisa liderada por ele na Unifesp, com participação de outras universidades, sobre a atuação da academia durante a pandemia da covid-19, com destaque para a produção e artigos científicos. O professor disse, também, que há um levantamento de más condutas, com falas e os respectivos responsáveis.
A mesa foi mediada por João Brant, da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom/PR).
Entenda o que é o Saúde com Ciência
O projeto foi criado em outubro de 2023 para que cidadãs e cidadãos brasileiros tenham um espaço confiável de busca e conferência de informações sobre saúde. A ideia é, além de combater os efeitos nocivos da desinformação, promover o fortalecimento das políticas públicas de saúde e de valorização da ciência.
Aqui, informação publicada é informação comprovada com dados, pesquisa e opinião de especialistas que estudam e trabalham de forma responsável com as mais diversas áreas da saúde e respondem às questões levantadas a partir de evidências científicas.
O projeto é baseado em cinco pilares: comunicação estratégica; capacitação e treinamento; cooperação institucional; acompanhamento, análise e pesquisa; e responsabilização.
A iniciativa é coordenada pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), em parceria com a Advocacia-Geral da União (AGU), a Controladoria-Geral da União (CGU), o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Saiba mais sobre o projeto aqui.