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SAÚDE COM CIÊNCIA
Prevenção e tratamento da Covid-19 não devem ser feitos com Ivermectina
Foto: Internet
Os grupos antivacina continuam a espalhar desinformação sobre a eficiência da ivermectina contra a covid-19 e outras doenças. Segundo o conteúdo, o medicamento é o caminho para a cura da doença, mesmo não existindo nenhuma comprovação científica que comprove a narrativa. Pelo contrário, o uso indiscriminado do remédio pode acarretar em diversos danos à saúde.
Vamos aos fatos.
Ivermectina e SARS-CoV-2
A Ivermectina é um medicamento antiparasitário de amplo espectro. Em seres humanos é utilizada no tratamento de doenças como oncocercose, filariose, ascaridíase, escabiose e pediculose.
Em 2020, um estudo de Caly et al. demonstrou que a Ivermectina apresentou atividade antiviral contra o coronavírus SARS-CoV-2, vírus que causa a doença covid-19, em testes in vitro. No entanto, é importante esclarecer que essa eficácia foi observada apenas em laboratório (in vitro) e não em seres humanos (in vivo).
É importante entender que a dosagem segura utilizada em humanos para outras finalidades terapêuticas não é suficiente para reduzir a carga viral do SARS-CoV-2. Portanto, essa narrativa é falsa. Não há nenhuma evidência que comprove a eficácia e segurança do uso da Ivermectina no tratamento ou prevenção da Covid-19.
Além disso, uma revisão sistemática realizada por Popp et al. (2022) reforça essa conclusão. O estudo indicou, com base em evidências de baixa a alta qualidade, que a Ivermectina não traz benefícios no tratamento de pacientes com Covid-19. Para casos graves, como pacientes hospitalizados, as evidências disponíveis são insuficientes para afirmar que o medicamento previne a morte ou piora clínica.
Adicionalmente, não há dados confiáveis que indiquem a eficácia da Ivermectina na prevenção da infecção pelo SARS-CoV-2.
Outro estudo relevante, conduzido por Hu et al. (2023), também concluiu que a Ivermectina não previne a doença em populações expostas ao vírus.
Uso da Ivermectina
O uso inadequado e indiscriminado da Ivermectina tem aumentado a ocorrência de efeitos adversos, conforme observado por Hentschke-Lopes et al. (2022). Entre as reações adversas mais comuns estão: dores de cabeça, dores musculares, falta de ar, febre, náusea, e reações cutâneas. Casos graves, como a síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica, também foram relatados em alguns estudos.
Em 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19, houve um disparo de vendas do medicamento. De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (CFF), em comparação com 2019, as vendas de ivermectina dispararam 557% no país ao longo de 2020.
É fundamental destacar que o uso incorreto desse medicamento pode acarretar sérios riscos à saúde, incluindo danos ao fígado (hepatotoxicidade). Outro ponto é que o uso inadequado pode comprometer a eficácia terapêutica da Ivermectina para as doenças parasitárias para as quais ela é indicada, contribuindo para o desenvolvimento de resistência parasitária.
Portanto, o uso da Ivermectina deve ser restrito às suas indicações terapêuticas estabelecidas, sendo imprescindível seguir as orientações médicas e científicas para garantir a segurança e bem-estar da população.
Segurança da vacina contra covid-19
A vacina é, comprovadamente, a medida mais eficaz e segura para adquirir proteção contra casos graves da Covid-19. As vacinas ofertadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) são eficientes e seguras e possuem autorização de uso pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Antes de chegar até a população, elas passam por um rígido processo de avaliação de qualidade pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), da Fundação Oswaldo Cruz, instituição responsável pela análise de qualidade dos imunobiológicos adquiridos e distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Todas as vacinas passam por rigorosas fases de testes clínicos antes de serem aprovadas para uso. Esses testes são criados para garantir justamente a segurança e a capacidade da vacina de proteger contra as doenças que se destinam.
Com as vacinas contra Covid-19 não é diferente. Elas seguem esses mesmos requisitos rigorosos de segurança e eficácia. Uma vez aprovada, a implementação das vacinas continua a ser monitorada para identificar imediatamente qualquer problema em relação à segurança da vacina.
Não caia em Fake News
Saúde não é brincadeira e a busca de informações sobre o tema deve ser atenta e crítica. Duvide de conteúdos sensacionalistas e que não comprovam com dados ou fontes reais a veracidade do conteúdo. Vacinas salvam vidas e o uso de medicamentos deve ser feito seguindo orientações médicas e científicas.
Fontes:
As referências usadas nesta matéria são as seguintes:
- ALVES, M. S. D.; BARBOSA, T. N. Resistência parasitária. In: BEZERRA, A. C. D. S.; SILVA, M. D. C., eds. Fitoterapia e a Ovinocaprinocultura: uma associação promissora [online]. Mossoró: EdUFERSA, 2018, pp. 49-76. ISBN: 978-85-57570-91-7. doi: 10.7476/9786587108643.0005.
- CALY, L.; DRUCE, J.D.; CATTON, M.G.; JANS, D.A.; WAGSTAFF, K.M. The FDA-approved drug ivermectin inhibits the replication of SARS-CoV-2 in vitro. Antiviral Research, 178:104787, 2020. doi: 10.1016/j.antiviral.2020.104787.
- HENTSCHKE-LOPES, M.; BOTTON, M. R.; BORGES, P.; FREITAS, M.; MANCUSO, A. C. B.; MATTE, U. Sales of “COVID kit” drugs and adverse drug reactions reported by the Brazilian Health Regulatory Agency. Cadernos de Saúde Pública, 38(7), 2022. doi: 10.1590/0102-311XEN001022
- HU, G-Y.; LIANG, C-A.; LIN, P-C.; LIN, C-Y. Ivermectin's Role in the Prevention of COVID-19: A Systematic Review and Meta-Analysis. Journal of Clinical Pharmacology, 63(3):288-297, 2023. doi: 10.1002/jcph.2178.
- POPP, M.; REIS, S.; SCHIEBER, S.; HAUSINGER, I.; STEGEMANN, M.; METZENDORF, M-I.; KRANKE, R.; MEYBOHM, P.; SKOETZ, N.; WEIBEL, S. Ivermectin for preventing and treating COVID-19. Cochrane Database Systematic Review, 6(6):CD015017, 2022. doi: 10.1002/14651858.CD015017.pub3.