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SAÚDE COM CIÊNCIA
Médica que postou fake news sobre câncer de mama é obrigada pela Justiça a apagar postagens
Foto: Internet
No dia 1º de novembro, o Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) determinou que a médica paraense Lana Tiani Almeida da Silva apague conteúdo enganoso nas redes sociais nos quais nega a existência do câncer de mama, atendendo um pedido do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).
A decisão da juíza da 9ª Vara Cível e Empresarial de Belém, Lailce Ana Cardoso, além de determinar a retirada dos conteúdos do ar de forma urgente, impede que Lana publique novas desinformações, sob a pena de multa diária de R$ 1.500 em caso de descumprimento.
A liminar (decisão provisória) condena a fala da médica de que a mamografia pode piorar o quadro de inflamação nas mamas, o que pode acarretar em medo na população que precisa realizar o exame.
É falso que câncer de mama não existe
O câncer de mama ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil, com taxa de mortalidade ajustada por idade, pela população mundial, para 2021, de 11,71/100 mil (18.139 óbitos). A doença é uma das mais estudadas e documentadas pela ciência médica, com ampla evidência clínica e epidemiológica.
O câncer de mama é uma condição na qual células anormais da mama crescem descontroladamente e podem formar tumores, com potencial para se espalhar para outras partes do corpo se não for tratado.
A doença é a que mais atinge mulheres no Brasil, sendo as regiões Sul e Sudeste as que apresentam maiores taxas de incidência e mortalidade. Diante desses dados, a detecção precoce e a prevenção primária desempenham um papel crucial na redução dos números da doença. O acesso à informação, exames de rotina e cuidados com a saúde são essenciais para que a população feminina esteja preparada para identificar os sinais e buscar tratamento adequado o quanto antes.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que 73.610 novos casos de câncer de mama sejam registrados até 2025, com uma taxa de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres, e que a doença cause 18 mil mortes. Embora rara, a doença também pode acometer homens, representando cerca de 1% dos casos.
Entenda o caso
Lana e outro médico foram denunciados no dia 29 de outubro a conselhos de medicina por declarações sobre câncer de mama que são consideradas falsas pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca).
As afirmações foram divulgadas durante o Outubro Rosa mês de conscientização e alerta sobre a importância da prevenção desse tipo de câncer.
Em um vídeo postado nas redes sociais, Lana Almeida, inscrita no Conselho de Medicina do Pará, nega a existência do câncer de mama e pedem para as pessoas esquecerem a mamografia.
O outro médico é Lucas Ferreira Mattos, que tem registros em São Paulo e Minas Gerais, e possui mais de 1,2 milhão de seguidores no Instagram.Em um dos vídeos, Lucas responde uma pergunta sobre uma pessoa que diz ter dois cistos nos seios e quer saber o que fazer para “acabar com eles". Na resposta, ele diz a mamografia gera uma radiação que aumenta a incidência de câncer de mama e afirma ter “100% de certeza que o seu nódulo benigno é deficiência de iodo". O médico faz a afirmação sem fazer nenhum exame na paciente.
O vídeo em questão foi encaminhado ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).
A partir das postagens, os médicos passaram a ser investigados por dizerem que 'câncer de mama não existe' ou que “mamografia causaria a doença”. Lana foi condenada pelo TJPA na última sexta-feira (1º). Já o Cremesp investiga o caso.
Assim que as postagens ganharam repercussão, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) afirmou em nota para a imprensa que o conteúdo das postagens era totalmente falso, assim como Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e a Sociedade Brasileira de Mastologia que alertaram sobre a disseminação de informações falsas.
Cuide-se
A mamografia de rastreamento é indicada para mulheres de 50 a 69 anos de idade, uma vez a cada dois anos. O exame de rotina é feito periodicamente em mulheres sem queixa específica, com o objetivo de detectar precocemente alguma alteração que possa indicar a possibilidade de alguma doença. O câncer de mama apresenta significativo sucesso de tratamento e cura quando diagnosticado precocemente.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferta atenção integral à prevenção e ao tratamento do câncer de mama, além de orientar a população sobre mudanças habituais das mamas em diferentes momentos do ciclo de vida e principais sinais suspeitos da doença. Nos últimos seis anos, o SUS realizou mais de 20 milhões de exames de mamografia de rastreamento em mulheres entre 50 e 69 anos de idade.
Sinais e sintomas
O sintoma mais comum do câncer de mama é o caroço (nódulo) no seio, que pode ser acompanhado ou não de dor. Ele está presente em mais de 90% dos casos da doença. De acordo com o INCA, nem todo o caroço é câncer de mama, por isso, é importante consultar um profissional de saúde para análise. Outros principais sintomas são:
- Pele da mama avermelhada, retraída ou com aspecto de casca de laranja;
- Pequenos nódulos embaixo do braço ou no pescoço;
- Alterações no bico do peito (mamilo);
- Saída espontânea de líquido de um dos mamilos.
As alterações suspeitas de câncer de mama devem ser sempre investigadas para esclarecimento do diagnóstico. Em mulheres mais jovens, qualquer caroço persistente por mais de um ciclo menstrual deve ser investigado por um profissional. No caso das mulheres com mais de 50 anos, todo caroço na mama deve ser investigado.
Como funciona a mamografia
A mamografia é a principal forma de prevenção de mortes pela doença. O diagnóstico precoce, obtido pela mamografia, permite a descoberta do câncer em estágios menores, onde as chances de cura são maiores e os tratamentos, menos agressivos. A mamografia é um tipo de Raio-X realizado em um aparelho chamado mamógrafo, que comprime a mama e gera imagens de alta qualidade capazes de revelar a existência de sinais precoces do câncer.
A compressão da mama é necessária para que o tecido da glândula mamária seja adequadamente espalhado e eventuais nódulos e microcalcificações revelem-se e o exame seja efetivo.
O eventual desconforto que pode acontecer é totalmente suportável e não deve ser uma barreira para que as mulheres deixem de fazer o exame, pois ele é fundamental para a obtenção de um diagnóstico ainda em fase inicial da doença.
Conforme já mencionado, o Ministério da Saúde recomenda o exame para mulheres a partir dos 50 anos, independente da presença de sintomas. Quando se detecta alterações pré-malignas e tumores mamários muito pequenos, o que é possível a partir da mamografia, as chances de cura do câncer de mama aumentam de forma significativa.
Não acredite em tudo que lê e ouve
O compartilhamento de desinformações como esta é muito perigoso e pode colocar a saúde das pessoas em risco, por estimular a negligência de exames preventivos importantes, como mamografias, e atrasar diagnósticos que podem salvar vidas. É fundamental buscar outras fontes para verificar o conteúdo e seguir orientações baseadas em evidências científicas fornecidas por profissionais de saúde qualificados e organizações reconhecidas, como o Ministério da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as associações de câncer.
Desinformação pode matar! Não compartilhe este tipo de narrativa e ajude no combate a Fake News na área da saúde.
Fontes
As referências usadas nesta matéria são as seguintes:
Juíza manda retirar publicações que negam existência do câncer de mama
Estima-se que o Brasil registre 73.610 novos casos de câncer de mama até 2025, aponta INCA
Câncer de Mama – Ministério da Saúde