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SAÚDE COM CIÊNCIA
É enganoso falar que Reino Unido irá indenizar pessoas por reações à vacina AstraZeneca
Foto: Internet
Recentemente uma página no X (antigo Twitter) afirmou que o Reino Unido irá indenizar milhares de pessoas que se tornaram “incapazes de produzir” e ganhar o próprio dinheiro após sofrerem efeitos colaterais da vacina contra Covid-19 da AstraZeneca/Oxford. Na postagem, que compartilha um print da notícia publicada no jornal britânico Daily Mail, também é questionada a segurança das vacinas.
Vamos aos fatos?
Os benefícios das vacinas contra a Covid-19 estão bem documentados por diversas entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
A vacina fabricada pela empresa AstraZeneca/Oxford, desenvolvida no início da pandemia, e produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi extremamente importante para o controle dos casos e redução de óbitos por Covid-19 no Brasil e no mundo, salvando milhares de vidas.
Dados da vacinação no Reino Unido
Segundo o relatório “Coronavirus Vaccines”, da autoridade sanitária do Reino Unido, a Medicines and Healthcare Products Regulatory Agency (MHRA), quase 25 milhões de adultos receberam a primeira dose da vacina Oxford/AstraZeneca em 2021 no país, e quase todos eles receberam uma segunda dose. O relatório traz dados de dezembro de 2020 a novembro de 2022.
Política britânica
Em 1979, muito antes da pandemia da covid-19, foi criado no Reino Unido o Plano de Pagamento por Danos Causados por Vacinas (VDPS), após um susto sobre a segurança da vacina contra coqueluche em uso na época.
O Plano oferece um pagamento único isento de impostos para requerentes aprovados nos quais, em ocasiões muito raras e com base no equilíbrio de probabilidades, uma vacina qualificada foi avaliada como tendo causado algum tipo de incapacidade considerada grave, com base em relatórios médicos.
Do início do VDPS até agosto de 2021, houve 6.799 reivindicações no âmbito do Plano para todas as vacinas e 946 indenizações efetivamente. Até 26 de agosto de 2021, 260 reclamações foram recebidas pela Unidade de Pagamentos de Danos por Vacinação em relação à vacinação contra a Covid-19.
De acordo com artigo publicado pela Universidade de Cambridge, como resultado de uma "revisão contínua" de dados, a agência britânica MHRA concluiu, a pedido da Commission on Human Medicines (CHM), que todas as três vacinas contra Covid-19 utilizadas no Reino Unido, entre elas a AstraZeneca, tinham evidências suficientemente fortes de segurança, qualidade e eficácia de ensaios clínicos para autorizar seu fornecimento.
Desinformação
A indenização já existia antes da pandemia e não foi anunciada recentemente, como algumas pessoas que compartilharam a desinformação acreditam. Isso inclui a vacina contra a Covid-19, acrescentada ao programa em dezembro de 2020, antes mesmo de o uso ser aprovado no país.
Reações adversas
A Organização Mundial da Saúde (OMS), além das principais agências reguladoras, como FDA nos Estados Unidos, EMA no Reino Unido, e Anvisa no Brasil, atestaram a segurança da vacina contra Covid-19 da AstraZeneca.
Após autorização de uma vacina, as autoridades de saúde realizam a farmacovigilância (segurança de medicamento) para detectar, avaliar, compreender, comunicar e prevenir qualquer problema relacionado à vacinação. Isso permite a identificação de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (ESAVI) raros e inesperados, e a implementação de medidas adequadas para mitigar riscos.
Após o uso em massa da vacina da AstraZeneca, um evento adverso muito raro, o que significa menos de um caso para cada 10.000 doses administradas, chamado Síndrome de Trombose com Trombocitopenia (STT), envolvendo casos incomuns de coagulação sanguínea associados a baixas contagens de plaquetas, foi identificado como sinal de segurança pela farmacovigilância de vacinas.
Em 2023, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que produz a vacina AstraZeneca no Brasil, esclareceu que efeitos adversos como a STT são extremamente raros e possivelmente associados a fatores de risco individuais já existentes.
Suspensão de vacinas do tipo vetor viral
Após o início da vacinação e a queda progressiva e intensa de hospitalizações e mortes pela doença, o uso das vacinas de vetor viral, como a AstraZeneca, foi limitada para os grupos com melhor perfil de segurança em dezembro de 2022, conforme Nota Técnica n.º 393/2022.
Desde então, o Ministério da Saúde deixou de adquirir e distribuir vacinas de vetor viral, dando preferência para a aquisição de vacinas de outras plataformas, conforme a disponibilidade das produtoras e recomendações da Câmera Técnica Assessora de Imunizações (CTAI).
No entanto, a pasta reforça a garantia de que os efeitos adversos da vacina AstraZeneca são extremamente raros. Segundo a Anvisa, as reações mais comuns do imunizante são sensibilidade, dor, sensação de calor, coceira ou hematomas, cansaço, calafrios, dor de cabeça, enjoo, dores musculares e nas articulações, diarreia, e sintomas semelhantes aos de um resfriado, como dor de garganta, coriza e tosse.
Combate à desinformação Fontes
As vacinas contra Covid-19 são alvo frequente de desinformação. Por isso, é preciso atenção. Cheque os conteúdos antes de repassá-los a outras pessoas, verifique as fontes e desconfie de textos muito sensacionalistas e cheios de adjetivos.
Fontes
As referências usadas nesta matéria são as seguintes:
Entenda o efeito colateral raro da vacina da AstraZeneca contra covid-19
Sobre a recomendação de uso da vacina AstraZeneca/Oxford
Fiocruz esclarece sobre vacina covid-19
Esquemas de danos causados por vacinas nos EUA e no Reino Unido são reavaliados: tornando-os adequados à finalidade à luz da Covid-19 – Universidade de Cambridge
Government to add COVID-19 to Vaccine Damage Payments Scheme