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SAÚDE COM CIÊNCIA
Vacinas contra a covid-19 não causam disfunção cognitiva
Foto: Internet
Nos últimos dias, circulou nas redes sociais uma alegação falsa de que a vacina contra covid-19 estaria associada a um suposto evento adverso chamado "disfunção cognitiva". Afirmava-se, ainda, que isso estaria levando ao aumento de erros médicos. No entanto, o conteúdo é falso. A alegação não tem respaldo em estudos ou evidências científicas e só contribui para aumentar a hesitação vacinal.
Na verdade, o que acontece é que a doença covid-19 pode gerar diversos efeitos nas pessoas. Estudos já mostraram como a doença causa efeitos em todo o corpo, e não só respiratórios. Entre as partes do organismo que podem ser afetadas pelo coronavírus Sars-CoV-2 está o sistema nervoso, com danos já bem conhecidos.
Efeitos neurológicos pós-covid, como dificuldades de sono, estresse, ansiedade, depressão, perda de memória e sensação de “névoa cerebral” (que engloba dificuldade de concentração, confusão mental e fadiga cerebral, entre outros sintomas) já foram descritos como possíveis sequelas da doença.
Pesquisa no Reino Unido
Pesquisa realizada em 2022¹ por cientistas da Universidade de Cambridge e do Imperial College de Londres observou que a perda cognitiva que pode ocorrer de seis a dez meses após a alta hospitalar por covid-19 é semelhante à de um envelhecimento natural de 20 anos.
A mesma deficiência cognitiva equivale a uma perda de dez pontos de QI, segundo o estudo publicado em maio de 2022 na revista eClinical Medicine, do grupo Lancet. Neste estudo, os pesquisadores também constataram que a gravidade da perda cognitiva e dos sintomas neurológicos está ligada ao quadro mais severo da doença, durante o período de internação, com necessidade de ventilação mecânica e indicação de inflamação no organismo. No entanto, o estudo mostrou ainda que essas sequelas não acontecem somente em pessoas que sofreram a doença no estágio mais grave.
As principais diferenças observadas entre pacientes que tiveram alta hospitalar após uma infecção pelo vírus e indivíduos que possuíam as mesmas características, porém não foram hospitalizados com covid-19, foram na velocidade de resposta (demora para responder), maior esquecimento de palavras ou frases completas e menor noção espaço-temporal.
Pesquisa UFMG
Aqui no Brasil, pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgada em março de 2024, analisou os efeitos da chamada covid longa no contexto do trabalho e publicou o resultado na “Série Técnica Navegador SUS da Rede Colaborativa Brasil de Pesquisa em Dados Clínicos Covid-19, Covid Longa e Mpox”, organizada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em parceria com o Ministério da Saúde.
O capítulo Evidências de pós-covid em trabalhadores e em profissionais da UFMG avaliou a permanência de sintomas pós-covid-19 em trabalhadores da Universidade. O estudo mostrou que os sintomas cognitivos estão entre as sequelas mais frequentes em pacientes com síndrome pós-covid-19, entre as quais se destacam dificuldade para encontrar a palavra certa (18,6%), problemas de memória (18,3%), problemas de concentração (17,2%) e dificuldade para pensar claramente (10,3%).
Pesquisa InCOR
O estudo “O uso do jogo digital MentalPlus®️ para avaliação e reabilitação da função cognitiva após remissão dos sintomas da covid-19”, [RMAS3] feito no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e divulgado em fevereiro de 2021, constatou que independentemente do grau da doença, da faixa etária ou do nível de escolaridade, os pacientes que tiveram sintomas podem sofrer de disfunção cognitiva.
A pesquisa avaliou pessoas que tiveram covid-19 em vários estágios, idades e classes econômicas. Os resultados indicaram que em 80% dos participantes da pesquisa o novo coronavírus ocasiona dificuldade de concentração ou atenção, perda de memória ou dificuldade para lembrar-se das coisas, problemas com a compreensão ou entendimento, dificuldades com o julgamento e raciocínio, habilidades prejudicadas, problemas na execução de várias tarefas, mudanças comportamentais e emocionais, além de confusão.
De acordo com a pesquisa, a memória de curto prazo de 62,7% dos participantes foi afetada. Já a de longo prazo teve alterações em 26,8% dos voluntários. Em relação à percepção visual, o impacto foi notado em 92,4%.
Segurança Comprovada
As vacinas utilizadas no Brasil passaram por rigorosos testes clínicos antes de serem aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Essas vacinas também foram amplamente utilizadas em diversos países, com monitoramento contínuo de possíveis eventos adversos. Vacinas são seguras.
Lembre-se sempre: as vacinas salvam vidas e são extremamente importante para a saúde da população.
Eventos adversos
Entre os eventos adversos mais comuns, que são leves e temporários, destacam-se:
- Dor ou inchaço no local da aplicação;
- Febre baixa;
- Cansaço;
- Dores musculares e
- Dor de cabeça.
Os eventos adversos graves são extremamente raros, sendo investigados e acompanhados pelas autoridades de saúde do Brasil, através do Sistema Nacional de Vigilância de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização. Autoridades nacionais e organismos internacionais, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), monitoram de perto quaisquer eventos adversos inesperados após o uso da vacina covid-19.
Profissionais de Saúde e Vacinação
Os profissionais de saúde estão entre os maiores aliados no combate à covid-19. Desde o início da vacinação, eles receberam as mesmas vacinas aplicadas à população brasileira, todas seguras e aprovadas por órgãos reguladores. Atribuir a esses profissionais da saúde supostos problemas cognitivos é incorreto. Erros médicos, quando acontecem, são investigados de forma criteriosa pelas instituições responsáveis e não têm qualquer relação com a vacinação contra a covid-19.
A Importância de combater Fake News
As vacinas contra a covid-19 são seguras e eficazes e foram essenciais no controle da pandemia. Alegações como "disfunção cognitiva" são infundadas e apenas reforçam a importância de questionar mensagens antes de compartilhá-las. Valorize a ciência, os profissionais de saúde e o esforço coletivo para proteger vidas. Juntos, podemos combater tanto o vírus quanto a desinformação. Aprenda a checar conteúdos duvidosos e nunca repasse uma mensagem suspeita antes de checar a fonte.
Fontes
As referências usadas nesta matéria são as seguintes:
1: Hampshire, Adam et al. Multivariate profile and acute-phase correlates of cognitive deficits in a COVID-19 hospitalised cohort. eClinicalMedicine, Volume 47, 101417. https://doi.org/10.1016/j. eclinm.2022.101417
2: Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor). O uso do jogo digital MentalPlus® para avaliação e reabilitação da função cognitiva após remissão dos sintomas da CVID-19 [Internet]. São Paulo: InCor-FMUSP; 2021 [acesso em 17 dez. 2024]. Disponível aqui.
Organização Pan-Americana da Saúde e Ministério da Saúde. Pós COVID na Atenção Primária à Saúde e Ambulatorial Especializada: Reunindo evidências para o Sistema Único de Saúde e à Plataforma Clínica Global da OMS. Brasília, D.F.; 2024. Disponível aqui.
Covid-19: Ministério da Saúde garante que os efeitos adversos da vacina são leves
Efeitos colaterais das vacinas COVID-19
Covid-19 deixa disfunções cognitivas em 80% dos pacientes, diz estudo
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