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SAÚDE COM CIÊNCIA
Pesquisa mostra como a desinformação afeta até hoje a confiança na vacina contra covid-19
Foto: Rafael Nascimento/MS
De acordo com a pesquisa "Epicovid 2.0: Inquérito nacional para avaliação da real dimensão da pandemia de Covid-19 no Brasil", entre os entrevistados que não se vacinaram, 32,4% alegam optar por não se vacinar contra a Covid-19 por não acreditar na vacina como motivo. Já outros 31% dos não vacinados acreditam que a vacina contra a doença pode fazer mal. O estudo foi apresentado pelo Ministério da Saúde na última quarta-feira (18).
O Epicovid 2.0 é a maior pesquisa de base populacional sobre a doença no Brasil. Ela foi conduzida em 133 cidades brasileiras, com uma amostra de 33.250 entrevistas, e avaliou o impacto da pandemia sobre a população brasileira. Os resultados são voltados ao histórico de infecções, os impactos socioeconômicos, vacinação e condições pós-covid. O estudo é uma continuação do Epicovid-19, iniciado em 2020, agora focado nos impactos contínuos do vírus na sociedade e na vida das pessoas.
O Saúde com Ciência conversou com o epidemiologista e professor da Universidade de Illinois (EUA) Pedro Hallal, um dos responsáveis pelo estudo, sobre os impactos da desinformação sobre a covid-19 para a população. Confira a entrevista exclusiva.
O que é a pesquisa Epicovid 2.0 e o que ela apresenta de novo?
É muito importante que a gente, depois de ter avaliado o quanto o vírus estava se disseminando no Brasil, lá em 2020, agora, em 2024, avalie o impacto que a pandemia teve sobre a vida das pessoas e sobre a vida das famílias.
Cerca de 15% dos entrevistados registraram morte de um familiar devido à Covid-19. Já 48,6% relataram redução na renda, aspecto que acarretou insegurança alimentar para 47,4%, ou seja, pessoas que não tinham a garantia de prover seu alimento diariamente. Cerca de 34,9% perderam o emprego e 21,5% interromperam os estudos durante a pandemia.
De acordo com a pesquisa, uma das principais causas da hesitação vacinal é a falta de confiança nas vacinas contra a covid-19. Como você avalia isso?
Infelizmente, naquele momento da pandemia, nós tínhamos lideranças políticas no país que disseminavam notícias de que a vacina fazia mal. Hoje o Epicovid 2.0 mostra o impacto que aquela irresponsabilidade cometida por alguns líderes teve sobre a população brasileira.
Nós lidamos com uma vacina que parte da população tem desconfiança porque ouviu durante anos que ela é ruim, que não é segura, que transforma as pessoas em jacaré. Essa irresponsabilidade de disseminar desinformação tem impacto para as famílias brasileiras até hoje.
Outra desinformação espalhada por alguns grupos é a de que a pandemia não existiu, que ela foi inventada. Como podemos esclarecer que a pandemia foi real?
Nós temos o dado de que 15% das famílias brasileiras tiveram algum familiar próximo que morreu durante a pandemia. Então, a simples menção de alguém imaginar que a pandemia não existiu é tão absurda quanto alguém imaginar que a Terra é plana e não esférica.
A pandemia existiu sim e, infelizmente, o Brasil foi um dos países mais afetados. A mortalidade no Brasil foi quatro vezes maior do que a média mundial e o que a pesquisa mostra agora é que essa pandemia trouxe impactos sérios para a vida das pessoas e das famílias brasileiras.
Como a população pode se proteger dos diversos conteúdos falsos que chegam nas redes sociais e nos aplicativos de trocas de mensagens? Alguma dica?
Sempre que a gente recebe uma informação, seja em grupos de mensagem, e-mail ou rede social, é importante buscar de onde veio aquela informação. Tem muita gente usando a desinformação para ganhar dinheiro. A gente sabe que alguns conteúdos bombásticos completamente equivocados geram muitos likes, muitos cliques, então a gente recomenda que as pessoas sempre busquem a fonte de onde surgiu aquele conteúdo.
É importante lidar com fontes confiáveis, com órgãos de imprensa, com especialistas, ou seja, com quem tem credibilidade para falar sobre o assunto. Acontece isso na minha família. Muitas vezes a minha mãe recebe algum conteúdo no WhatsApp e o meu pai me pergunta se é verdade. Eu mostro pra eles. “Vamos clicar aqui na fonte original”. E quando vai na fonte original, eu mostro porque não é verdade. É importante que todas as pessoas façam isso como forma de se proteger de tanta informação falsa sendo disseminada no Brasil, eu diria até de uma forma criminosa.
Marcela Saad
Ministério da Saúde