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SAÚDE COM CIÊNCIA
Mães vacinadas não representam perigo a bebês que amamentam
Foto: Divulgação
No mês em que comemoramos a Semana Mundial da Amamentação e chamamos a atenção para um tema tão importante, circula pela internet um conteúdo que preocupa lactantes e gera muitas dúvidas sobre a vacinação. A mensagem enganosa afirma que uma mãe recebeu a vacina contra covid-19 da Pfizer e passou, por meio da amamentação, efeitos adversos do imunizante ao recém-nascido.
A informação falsa gerou preocupação e desconfiança entre as lactantes e seus familiares sobre a vacinação. Entenda agora como funciona a vacina em lactantes.
Evidências Científicas sobre a vacina
Estudos demonstram que o RNA mensageiro das vacinas contra Covid-19, como é o caso da Pfizer, não é detectado ou encontrado em quantidades vestigiais no leite materno.
Mesmo em casos nos quais foram detectados traços de mRNA, estes estavam em níveis tão baixos (máximo de 2 ng/ml) que é improvável que tenham qualquer evento adverso no bebê. O sistema gastrointestinal da criança degrada qualquer mRNA residual, o que faz com haja uma redução maior da exposição infantil.
Assim, além de não apresentar riscos ao bebê, a vacinação de mães lactantes é positiva tanto para a mãe quanto para o bebê. É importante lembrar que gestantes e puérperas fazem parte do grupo prioritário indicado para receber o imunizante contra Covid-19. Saiba mais aqui.
Importância da vacinação
Um ponto muito importante de entender é que após a vacinação, as mães produzem anticorpos IgA e IgG específicos para Covid-19 no leite materno. Estes anticorpos podem fornecer imunidade passiva ao bebê, ou seja, eles ajudam a proteger a criança contra a doença. Isso significa que a vacinação das mães que amamentam é uma proteção a mais para bebês.
Estudos indicam que níveis transitórios e baixos de mRNA da vacina podem ser detectados no leite materno, mas não há nenhuma evidência de que isso cause sensibilização ou efeitos adversos nos bebês amamentados. Os dados relatam que bebês que consumiram leite materno pós-vacinação não apresentaram eventos adversos até 28 dias após a ingestão.
Informações adicionais do Drugs and Lactation Database (LactMed®) confirmam essas conclusões, relatando que muitos estudos envolvendo centenas de mulheres e bebês não encontraram evidências de que a vacina contra SARS-CoV-2 seja prejudicial para a mãe que amamenta ou para o bebê amamentado.
Anticorpos e células T que neutralizam o vírus SARS-CoV-2 aparecem no leite após a vacinação materna, proporcionando potencial imunidade passiva ao bebê. Alguns eventos adversos leves temporalmente associados, como sonolência, aumento da agitação, febre, erupção cutânea ou diarreia autolimitada, foram observados em uma pequena porcentagem de bebês amamentados, mas nenhum efeito adverso sério foi relatado. Vale ressaltar que relação temporal não significa relação causal.
A presença esporádica e quantidades vestigiais de mRNA da vacina contra Covid-19 no leite materno indicam que a amamentação após a vacinação é segura, especialmente após 48 horas da vacinação. A biodistribuição do mRNA da vacina para células mamárias sugere que o mRNA não permanece no leite além de 48 horas e não é detectável no soro dos bebês amamentados.
Além disso, a vacina promove aumentos acentuados nos anticorpos do leite que são semelhantes ou maiores do que após uma infecção por Covid-19. Mães que pegaram a doença durante a gravidez e receberam a vacina apresentaram níveis mais altos de anticorpos no leite do que aquelas que tiveram apenas uma infecção ou duas doses da vacina durante a gravidez. Esses anticorpos persistem por pelo menos seis a oito meses após a vacinação.
Reação à vacina
Se a criança que amamenta apresentar um Evento Supostamente Atribuível à Vacinação ou Imunização (ESAVI), a recomendação é procurar assistência médica imediatamente. É muito importante informar o profissional de saúde sobre a vacinação e também solicitar a notificação da reação às autoridades competentes.
Lembre-se de acompanhar a investigação para verificar se há uma associação causal entre a vacina e a reação ou se a condição clínica está relacionada a outras causas. Esse acompanhamento é fundamental para garantir o tratamento adequado e a segurança do lactente.
Conclusão
Todas as evidências científicas disponíveis indicam que a vacinação contra Covid-19 com vacinas mRNA é segura para mães lactantes e bebês. A presença esporádica e em quantidades mínimas de mRNA no leite materno não representa risco às crianças, e a vacinação pode, inclusive, fornecer proteção passiva ao bebê através dos anticorpos transmitidos pelo leite materno.
Assim, é seguro e recomendado que mães continuem amamentando após receber a vacina.
Combate à desinformação
Averígue todos os conteúdos antes de repassar e tomar alguma decisão, em especial na área da saúde. Busque em sites oficiais, confira as fontes e veja a veracidade e datas dos dados. Vacinas são seguras, passam por rigorosos testes de qualidade e salvam vidas!
Fontes:
As fontes utilizadas nesta matéria são as descritas abaixo:
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- Hanna N, Heffes-Doon A, Lin X, Manzano De Mejia C, Botros B, Gurzenda E, Nayak A. Detection of Messenger RNA COVID-19 Vaccines in Human Breast Milk. JAMA Pediatr. 2022 Dec 1;176(12):1268-1270. doi: 10.1001/jamapediatrics.2022.3581. Erratum in: JAMA Pediatr. 2022 Nov 1;176(11):1154. doi: 10.1001/jamapediatrics.2022.4568. PMID: 36156636; PMCID: PMC9513706.
- Drugs and Lactation Database (LactMed®) [Internet]. Bethesda (MD): Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano; 2006-.Vacinas contra a COVID-19. [Atualizado em 15 de junho de 2024]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK565969/.
Marcela Saad
Ministério da Saúde