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SAÚDE COM CIÊNCIA
Existe relação entre vacinas e mal súbito?
Entre os conteúdos falsos sobre saúde que mais circulam está a relação entre mal súbito e vacinas. Mortes repentinas passaram a ser associadas às vacinas contra Covid-19 e divulgadas como “terrível” efeito do imunizante. A desinformação circula há algum tempo e gera em muitas pessoas desconfiança em relação à segurança dos imunizantes.
Vamos aos fatos: a afirmação é falsa. Não existem evidências científicas que confirmem que casos de mal ou de morte súbita estejam relacionados às vacinas.
No início de 2022, mortes repentinas de atletas logo após relato de mal súbito foram erroneamente colocadas na conta das vacinas. O conteúdo falso foi muito propagado por pessoas simpáticas ao movimento antivacina e ganhou espaço nos debates da internet. Isso fez com que a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) divulgasse uma nota enfatizando a falta de evidências sobre o assunto e confirmando a segurança das vacinas.
“Não há nenhuma evidência científica mostrando qualquer tipo de elevação no número de casos de morte súbita (MS) em atletas. Adicionalmente, não há nenhum dado que mostre uma associação entre vacinas contra o Sars-CoV-2 e MS em atletas ou em praticantes de atividades físicas intensas e/ou frequentes”, afirma o texto.
O que é mal súbito?
De acordo com o médico cardiologista Bruno Caramelli, diretor da Unidade de Medicina Interdisciplinar em Cardiologia do Instituto do Coração (InCor) e professor de Cardiologia da Universidade de São Paulo (USP), “o termo ‘mal súbito’ é utilizado para descrever eventos médicos agudos, inesperados e repentinos que requerem atendimento médico imediato”, explica.
Segundo o cardiologista, pela maneira abrupta como ocorre o mal súbito, geralmente, a causa é cardiovascular, entre as quais estão o infarto do miocárdio, arritmias cardíacas graves, embolia pulmonar, acidentes vasculares cerebrais, crises convulsivas, choque anafilático secundário e alergias graves.
“Embora o mal súbito, se não receber atendimento médico imediato, possa levar à morte, ele não é sinônimo de morte súbita, definida como a morte que ocorre antes de passadas 24 horas do início dos sintomas”, esclarece Caramelli.
Fatores de risco e causas genéticas
O mal súbito levando à morte súbita geralmente está relacionado a causas cardiovasculares que, por usa vez, estão relacionadas a condições ou fatores de risco que levam ao desenvolvimento e progressão destas doenças. Entre os fatores de risco mais comuns estão tabagismo, hipertensão, diabetes, colesterol alto, além das causas genéticas, como malformações e arritmias cardíacas hereditárias.
Segurança das vacinas
Em 2015, um estudo realizado com autópsias, na cidade de Ribeirão Preto (SP), identificou a incidência de casos de morte súbita como sendo de 30 casos para cada 100.000 habitantes por ano, a maioria de causa cardiovascular.
O vírus Sars-CoV-2, responsável pela Covid-19, pode agredir o coração e o sistema circulatório, levando à ocorrência de complicações cardiovasculares e morte.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número total de mortes associadas direta ou indiretamente à pandemia de Covid-19 (descrito como “excesso de mortalidade”) entre 1º de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2021 foi de aproximadamente 14,9 milhões, comprovando o impacto da doença na saúde da população e a necessidade de não poupar esforços na prevenção da Covid-19.
“As vacinas são a principal estratégia preventiva contra a doença. Elas foram capazes de reduzir tanto a ocorrência de Covid-19, quanto a incidência das complicações como a morte súbita”, revela Caramelli.
Para o médico infectologista Victor Bertollo Gomes Porto, “a Covid aumenta substancialmente o risco de morte súbita nos indivíduos. Já a vacina, além de aumentar as chances de não contrair a infecção pela covid, reduz principalmente o risco de morte súbita após a infecção. A vacina é uma proteção”, enfatiza.
Os imunizantes são testados ostensivamente, em diversas fases, garantindo a segurança e eficácia antes de serem liberadas para uso na população. Por isso, não é correto dizer que as vacinas contra Covid-19 são experimentais e não tem eficácia comprovada.
“O fato de as vacinas terem sido liberadas para uso em tempo recorde, mais rápido do que as vacinas anteriores, é fruto de enorme investimento e do esforço conjunto de pesquisadores do mundo todo. Não é um indício de fraude ou pressão econômica dos fabricantes”, explica o cardiologista.
Todas as vacinas contra Covid-19 foram desenvolvidas com todo o rigor científico e aprovadas pelas agências regulatórias de todo o mundo (Anvisa, FDA, EMA). Além disto, após a aplicação da vacina, há uma vigilância rigorosa e atenta com o objetivo de detectar rapidamente eventos adversos inesperados. Este sistema de vigilância foi capaz de observar que:
- Muitos dos eventos descritos com associação à vacina, na verdade, eram coincidentes com condições clínicas prévias do indivíduo vacinado;
- Complicações associadas a algumas vacinas contra Covid-19 podem ocorrer, mas são raras, geralmente de pequena magnitude e reversíveis;
- O balanço entre o benefício da vacinação contra a doença e a ocorrência destas complicações é favorável à vacinação de toda a população;
- As vacinas são eficazes em reduzir a ocorrência da doença e reduzir a ocorrência de morte pela Covid-19, além de seguras.
Dados científicos
Um estudo da revista científica Nature reitera achados de diferentes estudos que mostram que não há aumento significativo na mortalidade cardíaca ou por todas as causas nas 12 semanas após a vacinação contra a Covid-19. Por outro lado, o fato de testar positivo para SARS-CoV-2 é associado ao aumento da mortalidade cardíaca e por todas as causas.
Os gráficos abaixo, do Ministério da Saúde, apontam claramente o aumento de morte súbita ao mesmo tempo em que ocorreu o aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave por Covid-19. Por outro lado, com a chegada da vacina, o estudo revela a queda de casos de morte súbita.
Outro estudo da Nature utilizou registros de saúde longitudinais de 45,7 milhões de adultos na Inglaterra, entre dezembro de 2020 e janeiro de 2022, e comparou a incidência de complicações trombóticas e cardiovasculares até 26 semanas após a primeira, segunda e doses de reforço das marcas e combinações de vacinas contra Covid-19. A incidência de eventos arteriais trombóticos comuns (principalmente infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral isquêmico) foi geralmente menor após cada dose de vacina, independentemente da marca e combinação. Da mesma forma, a incidência de eventos venosos trombóticos comuns (principalmente embolia pulmonar e trombose venosa profunda dos membros inferiores) também foi menor após a vacinação.
Verifique as informações antes de repassar
Lembre-se sempre: antes de repassar qualquer informação sobre saúde, verifique a fonte, o conteúdo e desconfie de promessas fáceis e textos sensacionalistas. Procure fontes oficiais e busque a afirmação em outros sites. Ao contrário da desinformação, vacinas salvam vidas. Divulgue esse conteúdo aos amigos e familiares.
Fontes:
As fontes usadas nesta matéria são as seguintes:
Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE)
https://www.scielo.br/j/abc/a/hRPMz6Y8rw8jQ4fhZgkR4Nd/?format=pdf&lang=pt
https://www.nature.com/articles/s41467-023-36494-0
- Entrevista com o médico cardiologista Bruno Caramelli, diretor da Unidade de Medicina Interdisciplinar em Cardiologia do Instituto do Coração (InCor) e professor da disciplina Cardiologia na Universidade de São Paulo (USP)
- Entrevista com o médico infectologista Victor Bertollo Gomes Porto, mestre em Medicina Tropical e Saúde Internacional. Victor também é chefe da Assessoria de Mobilização Institucional e Social para Prevenção de Endemias da Secretaria de Saúde do Distrito Federal
Marcela Saad
Ministério da Saúde