Notícias
EU QUERO PARAR DE FUMAR
Tabagismo e câncer de mama: existe relação?
O tabagismo é uma doença crônica que tem como origem a dependência à nicotina, que por sua vez está presente nos produtos feitos à base de tabaco. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), essa mistura se dá da seguinte forma: o tabaco é uma planta (Nicotiana tabacum) cujas folhas são utilizadas na confecção de diferentes produtos que têm como princípio ativo a nicotina.
Muitos desses produtos já são amplamente conhecidos pela população, como é o caso do cigarro, charuto, cachimbo, cigarro de palha, tabaco para narguilé, dispositivos eletrônicos para fumar e outros. Mas independente da sua forma, o tabagismo é um problema de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto desse produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo.
Diante dos riscos para a saúde que o fumo oferece, o câncer está entre os principais. O tabagismo contribui para o desenvolvimento de vários tipos da doença, que podem ser manifestadas em diversas partes do corpo. O que segue sendo investigado é se existe ou não a relação entre o cigarro e o câncer de mama.
Segundo Patrícia Izetti, que é médica e coordenadora-geral de Prevenção de Doenças Crônicas e Controle do Tabagismo do Ministério da Saúde, a relação entre o tabagismo e o desenvolvimento do câncer de mama ainda apresenta algumas controvérsias, com alguns estudos demonstração que não há associação, enquanto outros sugerem que sim, especialmente para casos específicos como aqueles cujo tabagismo foi iniciado precocemente, ainda na adolescência, ou na presença de alterações genéticas específicas que tornam as mulheres mais predispostas aos efeitos do tabaco na formação dos tumores.
Saiba mais - Câncer de mama: como reconhecer os 5 sinais de alerta
Outra evidência que reforça a associação do cigarro ao câncer de mama está na redução do risco de desenvolver a doença a partir da cessação do tabagismo. Além disso, Patrícia indica que uma análise conjunta de 14 estudos publicados identificou um risco aumentado de 18% em mulheres que fumaram por mais de 10 anos.
Mas no meio disso tudo, o álcool surge como um elemento que dificulta a identificação de uma real associação entre cigarro e câncer de mama. Isso acontece porque o consumo de bebidas alcoólicas já é reconhecido como um fator de risco. Ao mesmo tempo, o hábito de beber está muito presente na vida dos fumantes. Mulheres que fumam frequentemente fazem uso do álcool associado ao cigarro.
“O IARC/OMS, Agência Internacional de Pesquisa em Câncer de Organização Mundial da Saúde, considera que existem evidências de que o tabaco pode ter efeito carcinogênico para o câncer de mama, embora as mesmas sejam limitadas. Dessa forma, recomenda-se estimular a cessação do tabagismo também como possibilidade de redução no risco de câncer de mama”, explica a profissional.
Para os homens, essa associação já não é significativa. De acordo com Patrícia, o câncer de mama masculino tende a acontecer mais em virtude de fatores genéticos, exposição a substâncias à base de estrogênio, um dos hormônios femininos, e à obesidade. Essa última, inclusiva, vale o alerta. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o excesso de peso corporal está fortemente associado ao risco de desenvolver 13 tipos de câncer, incluindo o de mama.
Já que mencionamos o histórico familiar como fator de risco para os homens, no caso das mulheres existe ainda um alerta até maior. Para elas, o tabagismo pode ser ainda mais prejudicial quando o fator genético existe. Mulheres consideradas de alto risco por história de câncer de mama em familiares de 1º grau, o risco é de 2,4 vezes maior para tabagistas, conforme explica a médica especialista.
Leia também - Estou com excesso de peso e continuo ganhando ao longo dos anos. E agora?
Pacientes que ainda fumam podem prejudicar (e muito) seu tratamento
Mesmo diante da possível relação entre o cigarro e o surgimento do câncer, parar de fumar continua sendo um problema para os pacientes e existem fatores envolvidos que contribuem para essa dificuldade em abandonar o cigarro. Uma delas é o alto nível de dependência. A outra é que encarar uma doença grave como o câncer desencadeia algumas emoções desagradáveis e aumenta a ansiedade, por exemplo. Nesse aspecto, sabe-se que a dependência emocional também é muito presente, uma vez que essas sensações, muitas vezes, tendem a ser amenizadas com o cigarro. Fumar torna-se, portanto, uma válvula de escape.
O alerta continua: manter o cigarro aceso pode piorar a sobrevida das mulheres que estão na luta contra o câncer de mama. Ou seja, ele pode reduzir o tempo de vida após o diagnóstico da doença. Além disso, segundo explica a médica, o tabagismo aumenta o risco de complicações e toxicidades relacionadas aos tratamentos oncológicos, incluindo a cirurgia, quimioterapia e radioterapia, o que pode comprometer significativamente o prognóstico dessas pacientes.
“Para pacientes em tratamento com quimioterapia, por exemplo, pode haver aumento na incidência de efeitos adversos como fadiga, perda de peso, fraqueza e complicações cardíacas e pulmonares. Já em relação à radioterapia, pode haver reações de pele mais intensas, inclusive cursando com a necessidade de interrupção temporária do tratamento, o que pode reduzir a sua eficácia”, finaliza a profissional.