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Eu quero ter peso saudável
O impacto da obesidade
Falar em excesso de peso e obesidade vai muito além dos números da balança. A obesidade é uma doença complexa, de origem multifatorial: existem diversas causas envolvidas em seu surgimento, que podem ser de natureza individual, coletiva, social, econômica, cultural e ambiental. Isso significa dizer que a condição de obesidade não está relacionada apenas a atitudes e comportamentos individuais.
A obesidade é uma doença que tem crescido no Brasil e no mundo. Traduzindo em números, aproximadamente 60% dos adultos brasileiros já têm excesso de peso, o que representa cerca de 96 milhões de pessoas, e 1 em cada 4 tem obesidade, num total de mais de 41 milhões de pessoas, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde PNS/2020. Em 2021 9,1 milhões de indivíduos adultos atendidos na APS já tinham diagnóstico de excesso de peso e mais de 4 milhões, de obesidade, sendo que 624 mil tinham obesidade grave (grau III).
Pensando no futuro da sociedade, esses dados servem de grande alerta. Isso porque o crescimento da obesidade confere grandes impactos para o sistema de saúde, e essas consequências não se limitam aos custos econômicos. Entram nessa lista os custos sociais, como a diminuição da qualidade de vida, a perda de produtividade, a mortalidade precoce e os problemas relacionados às interações sociais. Estamos falando especificamente dos estigmas sofridos pelas pessoas com obesidade, o que pode ser traduzido em preconceitos, bullying, discriminação, entre outros. Atitudes que prejudicam os relacionamentos e reduzem o bem-estar emocional das pessoas com sobrepeso e obesidade.
Sobre o impacto financeiro, Leandro Rezende, que é epidemiologista e professor adjunto do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (USP), menciona que já existe um estudo que mostra os custos diretos com tratamentos ambulatoriais e hospitalares de aproximadamente 30 doenças e agravos em saúde que estão relacionados ao excesso de peso e à obesidade e o percentual do custo total que poderia ser atribuído à obesidade. O resultado mostrou que dos 6 bilhões de reais que foram utilizados, em 2019, com tratamento de doenças crônicas, aproximadamente 22% ou 1,5 bilhão foram atribuídos ao excesso de peso e à obesidade.
Mas além dessa amostra, o médico relembra que existem custos que podem ser classificados como pessoais, sendo aqueles que saem diretamente do bolso do cidadão, como a perda da qualidade de vida, perda de produtividade no trabalho e mortalidade precoce.
Como é possível reduzir os impactos?
É inevitável falar nos benefícios ao priorizar e investir num conjunto de estratégias de prevenção e cuidado da obesidade para deter o avanço ou reduzir a prevalência da doença. Dentre essas estratégias, estão as medidas de incentivo à alimentação adequada e saudável e a uma vida mais ativa fisicamente, gerando maior qualidade de vida.
Em relação à alimentação, O Guia Alimentar para a População Brasileira é um importante instrumento de política pública que traz diretrizes e informações importantes para subsidiar políticas, programas e ações que visem incentivar, apoiar, proteger e promover a saúde e a segurança alimentar e nutricional da população, reforçando o compromisso do Ministério da Saúde de contribuir para o desenvolvimento de estratégias para a promoção e a realização do direito humano à alimentação adequada.
Ainda, cabe destacar a taxação e rotulagem adequada dos ultraprocessados como estratégias para desencorajar o consumo desses alimentos. A restrição da publicidade também ajuda nesse sentido, uma vez que os comerciais e táticas de vendas tendem a induzir as pessoas a comprarem estes produtos sob a ideia de que eles são opções saudáveis. Os ambientes escolares também podem incentivar o consumo da comida de verdade ao vender nas cantinas alimentos in natura e minimamente processados, que compõem uma refeição adequada e saudável. E os produtores locais podem ganhar mais espaço, afinal de contas são eles que produzem e vendem os alimentos in natura, ajudando a compor uma refeição colorida e saudável.
Os ambientes escolares e de trabalho também podem incentivar hábitos saudáveis por meio da estrutura física oferecendo lugares apropriados para as pessoas fazerem suas refeições ou levarem de casa. No âmbito da atividade física, é importante pensar e instalar ambientes urbanos que favoreçam a prática. Estamos falando de ciclovias, parques, calçadas adequadas e quadras públicas, por exemplo. Ou seja, um desenho das cidades que possibilita a prática de atividade física, com segurança, em espaços de lazer ou por meio de transporte, incentivando as pessoas a terem uma vida mais ativa fisicamente.
Como política pública de promoção da atividade física, o Ministério da Saúde publicou, em 2021, o Guia de Atividade Física para a População Brasileira. O documento apresenta as primeiras informações e recomendações do Ministério da Saúde para que a população seja mais ativa fisicamente e tenha mais qualidade de vida. Junto com o Guia, foram lançadas as Recomendações para Gestores e Profissionais de Saúde,com o objetivo de fornecer subsídios para a promoção da atividade física, convergindo esforços intra e intersetoriais para o aumento dos níveis de atividade física dos brasileiros.
Por fim, é importante lembrar que medidas de prevenção que ajudem a deter o crescimento da obesidade podem resultar numa economia de recursos que possibilitam investimentos em outros setores, como a promoção da saúde, por exemplo.
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