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Eu quero ter peso saudável
A pandemia agravou a obesidade nas capitais brasileiras. Como transformar essa realidade?
Desde o início de 2020, o mundo todo vem passando por transformações impostas pela chegada da Covid-19. A pandemia estabeleceu novas formas de viver e de se relacionar, sendo esse um dos maiores desafios do período pandêmico. Especialmente quando se leva em consideração a principal característica humana, que é: socializar.
E quando se considera o lado social de cada um, a comida é um tema fundamental. Conforme aponta o Guia Alimentar Para a População Brasileira, produzido pelo Ministério da Saúde, os seres humanos são seres sociais e o hábito de comer em companhia está introduzido na história, assim como a divisão da responsabilidade por encontrar ou adquirir, preparar e cozinhar alimentos. Compartilhar o comer e as atividades envolvidas nesse ato é um modo simples e profundo de criar e desenvolver relações entre pessoas. Comer é parte natural da vida social.
Segundo Erika Reis, professora da Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto, o que foi proposto desde então é muito diferente do que as pessoas estavam acostumadas, uma vez que a comida está presente nos encontros. O confinamento impõe não só o afastamento das pessoas, mas faz do lar também um ambiente para todas as outras tarefas. A mistura entre lazer e trabalho fez com que as pessoas mudassem seus hábitos.
A pesquisadora afirma que as pessoas até passaram a cozinhar mais, porém tendo que conciliar com os horários de outras atividades. Sendo assim, a presença dos ultraprocessados na rotina da população, aumentou ainda mais. As bebidas alcoólicas também ganharam mais espaço. Além de incluir a mudança no descolamento e nos encontros, a pandemia trouxe uma alteração no consumo alimentar. Tudo isso reflete no ganho excessivo de peso.
Outro ponto importante nesse contexto é o estado emocional das pessoas. Para Érika, as evidências mostram que o estresse, a ansiedade e a depressão estão associados à alteração na ingestão de alimentos. São condições que, de forma geral, fazem com que a ingestão de alimentos seja aumentada. Durante a pandemia isso aconteceu de forma ainda mais acentuada, levando em consideração um impacto importante na saúde mental das pessoas.
E sobre isso é possível destacar o medo constante da doença e, consequentemente, da própria morte ou de entes queridos. Além disso, a pandemia provocou uma crise financeira em muitos lares, algo que gera abalo emocional, e também dificulta ainda mais o acesso a alimentos adequados e saudáveis. Em contrapartida, vai ganhando espaço o consumo de alimentos mais baratos e de baixa qualidade, que é o caso dos ultraprocessados.
Como transformar essa realidade?
Segundo Érika, fazer escolhas mais saudáveis, incluindo frutas, legumes e verduras no prato, de preferência oriundos da agricultura familiar ou iniciativas agroecológicas, são pequenas mudanças que resultam em impactos significativos no prato e na saúde. Mas levando em consideração a complexidade e o aspecto multifatorial do ganho de peso, é preciso pensar que ele pode estar ligado não só ao consumo alimentar, mas também às demais dimensões da saúde individual e do ambiente no qual o indivíduo está inserido.
Nesse sentido, Érika explica que o Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), incentiva e apoia a implementação das linhas de cuidado para as pessoas com obesidade e sobrepeso. A Atenção Primária à Saúde (APS) oferece diferentes ações que podem ajudar as pessoas tanto na prevenção quanto no tratamento daqueles que já estão com excesso de peso ou com obesidade.
Essas ações envolvem suporte das equipes multiprofissionais, atividades relacionadas a promoção da alimentação adequada e saudável e a prática de atividade física no sistema público de saúde. De uma forma geral, a APS funciona como uma porta de entrada do SUS que vai receber essa pessoa e, de acordo com as características dela, implementar ações que vão ajudar na prevenção do ganho de peso.
O caminho passa por programas e políticas públicas de prevenção e cuidado. Érika lembra que muitas delas já existiam antes da pandemia, mas que outras específicas podem ser implementadas a partir de agora. Ela ressalta ainda a importância do acolhimento no serviço de saúde com olhar especial para aqueles que já eram vulneráveis antes mesmo da pandemia e que tiveram sua situação intensificada com a chegada dela.