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Eu quero ter peso saudável
Você sabe a diferença entre sobrepeso e obesidade?
Para que o nosso organismo possa realizar suas funções da melhor maneira, alguns parâmetros básicos que se relacionam com a sua composição devem ser considerados. Isso inclui características como quantidade de água no corpo, de massa magra, o peso e o percentual de gordura. Quando dentro de um parâmetro adequado, esse percentual é positivo para a saúde. Mas quando extrapola esse limite, é hora de ligar o sinal de alerta.
Tanto o sobrepeso quanto a obesidade se referem ao acúmulo excessivo de gordura corporal. O que difere os dois conceitos é a quantidade desse excesso e, consequentemente, a gravidade. O sobrepeso está relacionado a um percentual menor quando comparado à obesidade, que tem a quantidade de gordura maior e maior probabilidade de impactar na saúde como um todo.
Segundo Helen Hermana Hermsdorff, Professora Associada do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (UFV), ambas as condições podem ser diagnosticadas a partir do cálculo “peso/altura ²”, sendo esse o Índice de Massa Corporal, popularmente conhecido como IMC. “Do ponto de vista de diagnóstico, um dos indicadores utilizado é o IMC, que avalia justamente essa relação do peso e altura. Para o sobrepeso, o IMC fica entre 25 e 29,99 enquanto a obesidade seria diagnosticada com o IMC a partir de 30”, explica.
Além disso, quando a obesidade é identificada, existem algumas classificações específicas dela que destrincham ainda mais o nível da doença. Nesse sentido, Helen explica que existe a obesidade grau I, grau II e a grau III que seria a chamada obesidade mórbida. Essa é a condição mais grave, caracterizada pelo IMC acima de 40 e com impacto mais relevante na qualidade de vida, além de estar condicionado a um maior índice de mortalidade.
Quais são as consequências para a saúde?
Algumas são bem conhecidas, como as doenças cardiovasculares, hipertensão, problemas nas articulações e até mesmo depressão. Segundo a professora, alguns estudos têm mostrado uma relação entre sobrepeso e obesidade com doenças mentais, com uma associação entre o excesso de peso e a depressão.
Helen explica ainda que o acúmulo de gordura pode provocar várias alterações metabólicas, hormonais e até mesmo comportamentais que impactam a saúde. O sobrepeso já é um excesso de peso, que também oferece danos à saúde. E à medida que esse acúmulo progride, as consequências também.
Mas além de olhar para a quantidade, é importante prestar atenção na localização dessa gordura. Helen explica que as pessoas com sobrepeso e obesidade podem concentrar esse acúmulo na região abdominal, a chamada obesidade central. Tal condição oferece ainda mais riscos à saúde.
“Esse excesso de peso, já no sobrepeso, quanto mais aumenta promove o crescimento da concentração de substâncias pró-oxidantes e pró-inflamatórias que levam a um estado de inflamação crônico, de estresse oxidativo. Todos esses mecanismos provocam a diminuição da captação da glicose e o processo aterosclerótico, que é o enrijecimento das artérias e acúmulo de placas de gordura em seu interior. Esses radicais livres e inflamações favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares”, explica a professora.
Veja também - Por que a obesidade é um fator de risco para pessoas com Coronavírus?
Caminhos para o cuidado e a prevenção
Antes de querer apontar soluções simplistas, é preciso reconhecer suas múltiplas causas. A obesidade é uma doença crônica séria e também muito complexa, considerada um desafio para a saúde pública. Perder peso não é fácil e muito menos depende exclusivamente da vontade de quem sofre com o problema. Existem vários aspectos que permeiam esse contexto da obesidade - que muitas vezes extrapolam o próprio indivíduo e se relacionam com o ambiente, por exemplo- e todos eles precisam ser levados em consideração.
Em um primeiro momento, analisando do ponto de vista biológico, Helen explica que a causa primordial para o excesso de peso é um balanço energético positivo. Ou seja, a pessoa gasta menos e consome mais energia. E como dito anteriormente, a obesidade permeia causas muito mais complexas do que uma abordagem simplista do sistema biológico.
Ao se perguntar os motivos pelos quais as pessoas escolhem alimentos menos saudáveis e mais calóricos, a nutricionista lembra que os sistemas alimentares nos quais elas estão inseridas são de extrema relevância. É preciso avaliar se existem oportunidades de acesso, tanto físico quanto financeiro, aos alimentos in natura ou minimamente processados ou se estimulam o consumo de alimentos ultraprocessados. E se além da alimentação, os contextos incentivam e permitem uma prática regular de atividade física para prevenir o ganho de peso.
Diante disso, podemos perceber que a obesidade também é uma questão social, porque saúde ultrapassa a biologia. Existem muitas características que independem das pessoas e estão relacionadas ao excesso de peso. “Então quais seriam as causas: o balanço energético positivo, o ambiente onde essas pessoas vivem, os sistemas alimentares que permeiam o território em que essas pessoas vivem, as condições e o ambiente construído onde essas pessoas vivem”, resume a professora.
Com um diagnóstico mais amplo, é possível enfim traçar estratégias realistas e viáveis que ajudem a combater a doença sem culpabilização e estigmatização dos indivíduos. Do ponto de vista do profissional de saúde, Helen orienta a importância de um olhar atento e com abordagem humanizada para que um cuidado integral seja possível de se concretizar. É preciso que haja um reposicionamento dessas pessoas com obesidade para que estejam enquanto protagonistas do processo desde o primeiro momento de monitoramento do ganho de peso, que deve ser avaliado e discutido de maneira conjunta para que haja maior probabilidade de interrupção a fim de que não se torne crônico. Afinal, não só a perda é positiva, mas o não ganho já é muito importante.
A partir disso, é preciso passar para o próximo passo que é promover uma vida mais saudável, a partir de uma alimentação baseada em alimentos in natura e minimamente processados e da prática regular de atividade física. E as duas coisas são viáveis, uma vez que comer bem significa priorizar a comida de verdade. E manter o corpo em movimento não se restringe a um exercício planejado, pode ser no lazer, no dia a dia, na redução do comportamento sedentário. Qualquer movimento conta!
“Se a gente conseguir estabelecer um hábito entre as pessoas com excesso de peso, baseado nas orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira, promovendo o consumo de alimentos in natura e minimamente processados. Melhor ainda se forem os regionais e de safra, que podem ser alcançados com poder aquisitivo menor. Isso somado à prática de atividade física, se possível. Promover esses hábitos vai ser muito positivo”, explica.
Mas além de oferecer o aporte nutricional que precisamos com baixas calorias, as frutas, verduras e hortaliças são importantes fontes de vitaminas e minerais que ajudam a combater o processo inflamatório e oxidativo provocado pela obesidade e também protegem contra o surgimento de novas doenças. Mais um motivo para dar uma chance para a comida de verdade.