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Eu quero ter peso saudável
Emagreci rápido ou sem saber o motivo. E agora?
Muito se fala sobre os malefícios do acúmulo excessivo de gordura corporal, diretamente relacionado ao sobrepeso e obesidade, uma doença crônica grave e que é fator de risco para diversos outros problemas de saúde, como diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão, câncer, entre outras. Mas na mesma linha, a perda brusca e repentina de peso também é um alerta para a saúde. De acordo com Erika Cardoso, que é professora do Departamento de Nutrição Clínica e Social da Escola de Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto, mestre e doutora em saúde pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/FIOCRUZ), perder peso sem qualquer modificação nos hábitos de vida, como mudanças alimentares, inclusão ou aumento da prática de atividades físicas, alterações no sono, uso de medicamentos ou rotina de trabalho, por exemplo, pode ser um indicativo de que algo não vai bem.
“Essa perda rápida de peso liga um alerta porque o nosso corpo tem mecanismos fisiológicos de autorregulação que, quando saudável, impede que isso aconteça. Ou seja, apenas na presença de alguma anormalidade ou condição clínica o organismo demandaria grande gasto energético e perda de peso”, explica a especialista.
Uma das causas da perda de peso rápida e repentina pode ser até mesmo de fundo emocional. Quando a saúde mental é afetada, a ingestão alimentar também sofre esse impacto. Afinal de contas, conforme Erika ressalta, comer é um ato social, além de fisiológico. E essa atitude está inserida no contexto das nossas relações sociais, com os outros e com nós mesmos. Sendo assim, algumas pessoas manifestam sintomas emocionais por meio da redução do consumo de alimentos com a consequente perda de peso, enquanto outras podem tender aaumentar o consumo de alimentos e, consequentemente, sentem o ganho de peso.
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Os riscos de emagrecer rápido demais
E já que falamos inicialmente sobre a importância do equilíbrio, vale entender quais são os reais riscos da desproporção causada pela perda de peso excessiva e acelerada. Segundo Erika, as consequências disso podem ser temporárias ou até mesmo permanentes. O problema é ainda pior quando a perda de peso acontece em decorrência de transtornos alimentares ou da adoção de dietas restritivas e sem acompanhamento profissional, pois esse é um movimento induzido de forma voluntária.
Em relação aos problemas provocados na saúde, a profissional explica que podem surgir alterações hormonais e metabólicas, alterações e/ou danos no fígado decorrentes da alteração no metabolismo de gorduras, doenças no sangue como anemias por deficiência de ferro ou vitamina B12, além de outras carências nutricionais específicas. Isso sem falar que apostar em dietas restritivas é um gatilho para o conhecido “efeito sanfona”, aquele ciclo vicioso de perda e reganho de peso.
Dentre as alterações metabólicas, a profissional lembra que dietas severas têm a capacidade de ativar o metabolismo adaptativo. Isso significa dizer que, por causa da restrição alimentar provocada por elas, o organismo passa por um processo de adaptação reduzindo também a taxa de metabolismo basal, que é a energia mínima que precisamos gastar diariamente para nos mantermos vivos. Com isso, o corpo propositalmente usa menos energia, como mecanismo de defesa, o que acaba impedindo mais perdas de peso.
“Assim, as dietas restritivas, ao invés de colaborarem, podem induzir processos metabólicos que dificultam ainda mais a perda ou que favorecem o ganho de peso, considerando que o mecanismo de defesa também faz o organismo acumular mais energia para se proteger das fases de restrições”, complementa a profissional.
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Nem 8, nem 80. O importante é começar aos poucos
De forma geral, falar em alterações no peso corporal em excesso é um problema, tanto no ganho quanto na perda. Segundo Erika, a literatura considera significativa a perda de 5% ou mais do peso corporal entre seis a 12 meses, e isso é preocupante quando ocorre de forma involuntária. Mas colocar em pauta esse tipo de alerta nos leva a outro que é sobre a maneira como a sociedade estigmatiza as pessoas com o excesso de peso e valoriza o corpo magro, levando-as aos excessos e aos comportamentos obsessivos em busca de uma silhueta tida como ideal.
Para quem realmente precisa alcançar um peso saudável, existem caminhos saudáveis para isso que passam por mudanças não só individuais, mas também coletivas. E sobre as que dizem respeito somente ao indivíduo, vale reforçar as escolhas alimentares saudáveis, que priorizem os alimentos in natura e os minimamente processados, e a prática de atividade física regular.
Considerando que a obesidade é uma doença multifatorial e muitas vezes progressiva, apenas manter o peso ou reduzi-lo para uma margem mais segura já garante benefícios para a saúde, principalmente em relação ao controle do diabetes e da hipertensão. Por esse motivo, Erika explica que a perda de 5 a 10% do peso corporal já é suficiente para reduzir os riscos para a saúde, uma vez que essa proporção já provoca alterações metabólicas importantes.
Por esse motivo, essa é uma boa estratégia para quem sente dificuldade para emagrecer e ao mesmo tempo precisa controlar o excesso de peso e a obesidade. Se o ganho de peso é interrompido, o agravamento das consequências inerentes ao aumento também é.
“É preciso destacar que a manutenção do peso é tão importante quanto a perda modesta de peso, e que ambas produzem resultados metabólicos importantes. No entanto, deve-se compreender que interromper ou reduzir o ganho de peso depende de outros fatores, incluindo questões sociais e econômicas e não apenas da vontade individual”, reforça a professora.
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