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Eu quero parar de fumar
Como o cigarro pode afetar a saúde mental?
Bateu a ansiedade? Um cigarro para relaxar. Sentiu um pouco de angústia? Fumar um pouco para acalmar. Aquele drinque com os amigos, em um momento descontraído, parece uma boa pedida para acender o próximo cigarro. Em diversas situações que envolvem as emoções, o cigarro costuma aparecer.
Antes de qualquer coisa, é preciso entender como o cigarro age no corpo humano. Segundo o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), a nicotina inalada na fumaça do cigarro chega ao cérebro em um curto período de tempo – aproximadamente 10 segundos – onde alimenta os receptores das células cerebrais capazes de reconhecê-la.
Nesse exato momento, são liberados os neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer. Por ser uma substância psicoativa, a nicotina produz alterações no Sistema Nervoso Central que modificam o estado emocional e comportamental do fumante. É exatamente por isso que ela é a responsável pela dependência química.
E como em um mecanismo que se retroalimenta, a dependência emocional também é impulsionada pela química. Isso sem falar no hábito que o tabagismo constrói associações à rotina, como fumar ao acordar ou depois de tomar um café. A conclusão é que os malefícios também são psicológicos.
Sobre estresse, ansiedade, depressão e tabagismo
Segundo Leonardo de Almeida Sodré, médico psiquiatra e professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), o cigarro estimula cronicamente os centros de recompensa do cérebro, situação que propicia também o uso excessivo de outras substâncias associadas ao tabaco, além do comportamento mais impulsivo, a abstinência ao ficar sem fumar, com sensação de ansiedade e irritabilidade, e piora nas relações pessoais íntimas ou profissionais em função desse comportamento abusivo.
Somado a isso, o médico explica que também existe uma prevalência maior de tabagismo entre outros transtornos mentais. E para quem já faz algum tipo de tratamento para esses transtornos e ainda continua fumando, esse hábito pode prejudicar a resposta dos remédios que estiverem sendo utilizados. Lembrando que o cigarro também é associado a piora de abuso de outras substâncias, servindo até como uma porta de entrada.
Beatriz Ávila, psicóloga residente no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso do Hospital Universitário de Aracaju (SE), vinculado à Rede EBSERH, destaca ainda que estudos mostram que os fumantes apresentam índices consideráveis de ansiedade e depressão, e usam o cigarro como estratégia de fuga dessas condições. Ainda segundo as pesquisas, existe uma relação entre a existência de algum transtorno mental prévio e o tabagismo, especialmente os de ansiedade e de humor, por exemplo.
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Nesse sentido, é muito comum confundir o prazer, alcançado ao fumar, com alívio. Mas na verdade, o que está acontecendo é apenas um desejo do corpo, pela nicotina, sendo saciado. Segundo o psiquiatra, Leonardo Sodré, a “ansiedade” que o indivíduo sente e que busca aliviar com o cigarro é exatamente o efeito da privação da nicotina. Ou seja: quando a pessoa fuma, ela apenas trata o sintoma da falta de nicotina colocando mais para dentro. Seria o mesmo raciocínio de um alcoolista que bebe bebida alcoólica para amenizar os sintomas da ressaca. E vale lembrar que esse alívio, apesar de imediato, é passageiro. Sendo aí onde mora o ciclo vicioso. Portanto, acreditar nisso não é só uma armadilha, como também uma mentira.
Quem opta por abandonar o vício consegue sentir os efeitos benéficos no organismo quase que instantaneamente. Em relação ao bem-estar mental, o processo tende a acontecer gradativamente. Segundo Leonardo, aquele ciclo crônico de sintomas de privação, com ansiedade e irritabilidade, vai diminuindo.
“O paciente começa a buscar outros tipos de prazeres mais duradouros que o efeito imediato da nicotina. Suas relações pessoais mudam. Melhora sua disposição para atividades de trabalho, atividade física e lazer. E eventuais tratamentos de saúde mental são mais fáceis (ou ’menos difíceis‘, dependendo do ponto de vista e da gravidade do quadro) de buscar remissão”, conclui o profissional.