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Eu quero me alimentar melhor
Como enfrentar os principais desafios da amamentação?
Único e inigualável, o leite materno é o alimento ideal para a criança, pois é totalmente adaptado às suas necessidades nos primeiros anos de vida, sendo o padrão ouro da alimentação. Não existe outro leite ou alimento igual, nem parecido, apesar dos esforços da indústria em modificar leites de outros mamíferos, como o da vaca, para torná-los mais adequados ao consumo por crianças pequenas.
Assim começa um dos primeiros capítulos do Guia Alimentar Para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, uma publicação do Ministério da Saúde. O leite materno é um alimento precioso produzido naturalmente pelo corpo da mulher, além de ser o contato inicial dos pequenos com a comida de verdade. Ele é o único que contém anticorpos e outras substâncias que protegem a criança de diversas doenças, como diarreias, infecções respiratórias, infecções de ouvidos (otites), além de reduzir as chances de desenvolver, no futuro, diabetes tipo 2 e obesidade.
Isso sem falar em como a amamentação ajuda no crescimento e desenvolvimento da criança, no fortalecimento do vínculo com a mãe, na recuperação da mulher no pós-parto. Além disso, previne algumas doenças na mulher, como a redução de chances de desenvolver câncer de mama, de ovário e de útero, assim como diabetes tipo 2 e hipertensão.
Nem sempre a amamentação será tranquila, algumas mulheres e crianças podem encontrar desafios e dificuldades. Dessa forma, é fundamental que a mulher conte com uma rede de apoio, feita de profissionais de saúde, familiares, empregadores, colegas de trabalho e outros atores possíveis, para dar suporte ao aleitamento materno e favorecer a amamentação.
O Guia Alimentar Para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos elenca 9 desafios da amamentação e sugere soluções para cada caso. O objetivo é contribuir para que a lactante e sua rede de apoio compreendam o momento da amamentação e possam juntos contribuir para que a mulher se sinta confiante nesse processo. .
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Principais desafios da amamentação
1 – Demora na descida do leite: a “descida do leite” ou apojadura ocorre entre o terceiro e quinto dia pós-parto, mas pode demorar um pouco mais para acontecer em algumas mulheres. As cesarianas programadas, em que a mulher não entra em trabalho de parto, têm sido apontadas como um fator associado à demora na descida do leite, por fatores hormonais e por dificultar a amamentação na primeira hora de vida, assim como os partos prematuros e a obesidade materna.
O que pode ser feito: algumas medidas podem ajudar, em especial a estimulação da mama com sucção frequente do bebê ou com extração manual ou por bomba do leite materno. Para isso, o apoio de um profissional de saúde é fundamental.
2 – Criança com dificuldade para sugar: alguns bebês encontram dificuldades para serem amamentados. E elas podem ser diversas, como: não sugar; tentar sugar, mas não conseguir abocanhar o mamilo e a aréola; pegar a mama, mas não conseguir manter a pega; uso de bicos de silicone e chupetas; a mama apresentar uma condição que dificulta o processo ou ainda o bebê possuir a língua presa.
O que pode ser feito? Suspender o uso de bicos de mamadeiras, silicone e chupetas; utilizar apoio para mamas muito grandes; ajustar a pega e variar a posição do bebê no momento de amamentar; fazer a retirada do leite do peito com as mãos ou com bomba enquanto o bebê não conseguir sugar para estimular a mama a produzir leite materno e oferecer esse leite no copo ou colher. É importante que a mamada seja observada por um profissional de saúde logo após o nascimento do bebê e que seja avaliado o frênulo lingual, para verificar se possui “língua presa” e que possa estar interferindo na amamentação. Os profissionais de saúde são fundamentais para facilitar a identificação da causa da dificuldade inicial para amamentar e orientar a conduta mais adequada
3 – Mamilo plano ou invertido: um mamilo plano ou invertido pode dificultar a amamentação, mas não necessariamente impedi-la, pois, a criança abocanha também a aréola, e não apenas o mamilo.
O que pode ser feito: ajudar o bebê a abocanhar o mamilo e a aréola e tentar diferentes posições para facilitar a pega. Se a mama estiver muito cheia, retirar um pouco de leite para a aréola ficar mais macia antes de colocar o bebê no peito, facilitando a pega.
4 – Mamilos doloridos e/ou machucados: sentir os mamilos mais sensíveis logo após o parto é normal devido ao aumento da sensibilidade das mamas no final da gestação e início da amamentação. No entanto, sentir dor para amamentar é sinal de que algo precisa ser ajustado. Os mamilos machucados, provocados por pega e/ou posicionamento inadequados do bebê para mamar, é o motivo mais comum de dor.
O que pode ser feito: enquanto os mamilos estiverem machucados, variar a posição das mamadas, iniciar a amamentação na mama não machucada ou menos machucada e enxaguar os mamilos com água limpa, pelo menos uma vez por dia, para evitar infecções. Trocar sutiã ou absorventes para os seios quando estiverem molhados. Não existe comprovação científica de que passar cremes, pomadas, óleos, leite materno ou qualquer outra coisa ajude a cicatrizar o peito.
5 – “Leite empedrado”: nesse caso, a mama produz leite além da quantidade esperada. O peito enche a ponto de deixar a pele esticada, ficando endurecido ou com a presença de alguns caroços. Esse é um processo popularmente conhecido como “leite empedrado”.
O que pode ser feito: deixar o bebê mamar sempre que quiser. Fazer massagem com movimentos circulares nas mamas, começando pela aréola e depois ao seu redor, massageando bem os pontos “empedrados” e retirar um pouco do leite antes de colocar o bebê para mamar, até que a aréola fique macia, o que facilita a pega. Usar sutiã de alças largas e firmes para maior conforto. Procurar ajuda de um profissional de saúde se notar que não está conseguindo esvaziar a mama para que não agrave e evolua para uma mastite.
6 – Mastite (inflamação das mamas): é o nome dado à inflamação da mama, que pode progredir ou não para uma infecção. Nessa situação, uma parte da mama fica inchada, quente, avermelhada e dolorida, o que costuma causar dores no corpo, febre e mal-estar. Pode acontecer quando o leite fica muito tempo parado no peito e/ou através da rachadura no mamilo, que funciona como uma porta de entrada para bactérias.
O que pode ser feito: procurar imediatamente um serviço de saúde. A amamentação não precisa ser interrompida durante o tratamento.
7 – Bloqueio de ductos lactíferos (leite retido em alguns canais da mama): ductos lactíferos são os canais por onde o leite passa dentro da mama. Eles podem ficar bloqueados quando: o leite produzido não é drenado adequadamente, a mama não está sendo bem esvaziada, as mamadas estão muito espaçadas, a mulher usa um sutiã muito apertado ou ainda obstrui os poros de saída do leite com cremes.
O que pode ser feito? Amamentar com frequência, massagear a área afetada, esvaziar as mamas, amamentar em diferentes posições e oferecer primeiramente a mama com o problema, com o queixo do bebê direcionado para a área afetada. Caso a mulher perceba que não está conseguindo solucionar o problema, deve buscar imediatamente um profissional de saúde para que não se agrave a situação e evolua para uma mastite.
8 – “Pouco leite”: essa é a razão mais comum para a oferta de outros leites e alimentos à criança. É importante saber que a maioria das mulheres produz uma quantidade suficiente de leite, desde que a criança sugue com frequência, por tempo e pega adequados, estimulando a produção do leite e o esvaziamento da mama. Além disso, é fundamental que a mulher esteja tranquila e segura na amamentação. Choro ou outras reações de insatisfação do bebê, assim como alguns dias sem fazer cocô, não significam necessariamente que a mãe esteja com pouco leite. É importante acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança através da “Caderneta da Criança” juntamente com o profissional de saúde para verificar se o leite materno está suprindo as suas necessidades.
O que pode ser feito? Procurar um ambiente mais tranquilo e confortável para amamentar; garantir que a mulher tenha uma rede de apoio; melhorar o posicionamento e a pega, se necessário; aumentar a frequência das mamadas, inclusive durante a noite; oferecer as duas mamas quando for amamentar, e o bebê desejar, deixando que seja esvaziada primeiro uma para depois oferecer a outra; massagear a mama durante as mamadas; caso haja produção excedente de leite materno, retira-lo manualmente ou com bomba após as mamadas; evitar o uso de mamadeiras, chupetas e bicos de silicone; ingerir água em quantidade suficiente para matar a sede e manter-se hidratada; consumir uma alimentação adequada e saudável; repousar sempre que possível.
9 – Hiperlactação (excesso de leite): acontece quando a mulher produz leite além do que o bebê consome. Embora não seja um problema, às vezes pode provocar algumas dificuldades na amamentação.
O que pode ser feito: evitar retirar leite das mamas antes das mamadas e só fazer isso quando elas estiverem muito cheias, causando desconforto ou se os mamilos e aréola estiverem cheios, dificultando a pega do bebê; amamentar em apenas uma mama em cada mamada, retirando um pouco de leite da mama não usada, apenas para o conforto da mulher; amamentar em uma posição mais deitada ou de lado, pois nessas posições o fluxo de leite diminui; considerar doar o leite em excesso para o Banco de Leite Humano ou Posto de Coleta de Leite Humano, quando houver em sua cidade.
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É comum a ocorrência de situações próprias à amamentação que podem gerar insegurança e dificultar esse processo. No entanto, a mulher que está amamentando não deve deixar de procurar ajuda de profissionais de saúde quando perceber situações que dificultem e coloquem em risco o aleitamento materno. Essa ajuda pode ser encontrada em Unidades Básicas de Saúde, nos ambulatórios/consultórios ou clínicas de amamentação, Bancos de Leite Humano e Postos de Coleta de Leite Humano da Rede BLH Brasil — Rede Global de Bancos de Leite Humano. Algumas maternidades oferecem serviços do tipo disque-amamentação ou plantão ambulatorial, que podem auxiliar com informações, tanto durante o pré-natal como depois do nascimento da criança, em um momento de dúvida ou dificuldade.
É preciso ter cuidado com as informações disponíveis em internet, mídias sociais e blogs, que não sejam de fontes confiáveis, já que muitas vezes não são baseadas em evidências científicas e podem estar equivocadas e/ou desatualizadas. O Ministério da Saúde possui em seu site e nas suas redes sociais informações e materiais atualizados sobre a temática do aleitamento materno e alimentação complementar saudável.