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SAÚDE INDÍGENA
Saúde Indígena e Médicos da Floresta realizam pela primeira vez cirurgia em Território Korubo
Foto: Luís Oliveira/Sesai
Em uma ação inédita, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), em parceria com a Associação dos Médicos da Floresta (AMDAF), realizou procedimentos cirúrgicos no Território Indígena Korubo, etnia de recente contato, localizada na região do Vale do Javari, no sudoeste do Estado do Amazonas.
A iniciativa beneficiou um total de 30 pacientes indígenas, sendo 19 Korubo e outros 11 das etnias Mayuruna, Marubo e Kanamary — que aguardavam atendimento médico na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) em Tabatinga.
Ao todo, foram realizadas na Unidade Básica de Saúde Indígena Korubo (UBSI) três pequenas cirurgias para retirada de cistos e abscessos, três exames de ultrassom, oito consultas oftalmológicas e 21 avaliações clínicas. Além disso, a equipe médica atendeu na Casai do Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Solimões (Dsei - ARS), dez pacientes com demandas específicas, que necessitavam de avaliação especializada. Outros cinco pacientes foram encaminhados para cirurgias de médio porte em hospitais da região.
O Dsei Vale do Javari contribuiu para execução da ação. O distrito prestou suporte logístico, contribuindo e organizando o deslocamento dos pacientes desde Tabatinga até o território indígena, além de disponibilizar uma equipe de apoio adicional para acompanhar os atendimentos.
Lucas Albertoni, coordenador interino de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas Isolados de Recente Contato da Sesai explicou que a medida cumpre um princípio fundamental da Portaria Conjunta nº 4.094, de 20 de dezembro de 2018, que apresenta as diretrizes da atenção à saúde às populações de recente contato. “Nessa importante ação conseguimos respeitar o princípio da resolutividade em território. Foram realizados procedimentos que normalmente seriam feitos em centros urbanos, mas por meio da ação do Departamento de Atenção Primaria à Saúde Indígena e do Dsei Vale do Javari, foi possível essa parceria, que garantiu o tratamento sem a necessidade de deslocamento dos pacientes”, pontuou.
Putira Sacuena, diretora do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena (DAPSI) da Sesai, destacou a importância da iniciativa. Toda a operação foi cuidadosamente articulada e planejada, garantindo que as necessidades das comunidades fossem atendidas de forma eficiente, respeitosa e segura. “Essa ação reforça nosso compromisso de levar assistência de qualidade às comunidades indígenas em áreas remotas. Foi a primeira vez que realizamos intervenções médicas, como pequenas cirurgias, com os Korubo na região. O impacto dessas ações na saúde e no bem-estar dessas populações é inestimável, pois evitamos longos deslocamentos para centros urbanos e respeitamos as particularidades culturais e geográficas de cada povo”.
De acordo com Roberta Murasaki, médica cirurgiã formada pela Universidade de são Paulo (USP), o maior desafio da ação de saúde foi avaliar quais procedimentos poderiam ser realizados de forma segura, tendo em vista que os profissionais não dispunham de estrutura hospitalar completa. “Além de toda a dificuldade logística e do desafio que é realizar um procedimento cirúrgico no meio da Floresta, tivemos de lidar também com a barreira da comunicação, pois mesmo com o pouco português, precisávamos fazê-los compreender o que e como seria feito, respeitando os limites de cada paciente indígena”, explicou.
A doutora Murasaki, que é médica voluntária na realização de procedimentos cirúrgicos há 17 anos, concluiu explicando que a ação com os Korubo foi uma troca intensa e enriquecedora. “Apesar de rápida e de poucos dias de convivência, trabalhar com os povos indígenas nos traz uma sensação indescritível de satisfação. Saber que os pacientes estão bem e evoluindo como o esperado nos traz felicidade e a certeza que eles poderão continuar existindo e resistindo”, disse.
Sobre os Korubo
Os Korubo, também chamados “caceteiros” devido à fabricação e ao uso de diferentes tipos de borduna (arma indígena de guerra feita de madeira resistente), ocupam um território ancestral na sub-bacia hidrográfica do rio Itaquaí, um afluente do baixo Rio Javari, fronteira natural entre Brasil e Peru.
Após tentativas iniciais não exitosas, a Fundação Nacional do Índio os contatou em diferentes momentos, começando em 1996 e, posteriormente, em 2014, 2015 e 2019. Estima-se que a população Korubo de recente contato soma atualmente 127 pessoas, divididas em quatro aldeias.
Sobre o Vale do Javari
A Terra Indígena Vale do Javari fica localizada no sudoeste do Amazonas. É a segunda maior do Brasil, com 8,5 milhões de hectares. O Território abrange sete municípios e é um dos mais importantes para a preservação cultural e ambiental. Homologada em 2001, o Vale do Javari abriga cerca de 6.300 indígenas de etnias como Kanamari, Kulina, Korubo, Matis, Matsés e Marubo, além de 16 povos indígenas isolados, que representam aproximadamente 30% dos isolados no país.
Leidiane Souza
Ministério da Saúde